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Evocação de Josué de Castro: Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Mais de 70 anos após Josué de Castro impactar o mundo com duas de suas obras fundamentais: Geografia da fome (1947) e Geopolítica da fome (1951), as quais se juntou Sete palmos de terra e um caixão: ensaio sobre o Nordeste (1965), é criada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Essa iniciativa, que visa impulsionar ações políticas, financiamentos e geração de conhecimento em escala nacional e internacional, alimenta a esperança na construção de um mundo mais próspero, justo e de paz. Sob a liderança do Brasil, lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da Cúpula do G20, ocorrida no Rio de Janeiro, em 18 de novembro de 2024, a Aliança representa o compromisso efetivo e inadiável dos 148 membros fundadores, e dos mais que vierem a aderir à causa, de eliminar a fome, a desigualdade social, racial e de gênero, e a pobreza estrutural e multidimensional que flagelam a humanidade.
Não por acaso, a Aliança Global nasce como reação à infeliz constatação de que “o mundo está pior”, como disse o presidente do Brasil em seu pronunciamento na Cúpula do G20. Ao referir-se à “tragédia coletiva [que] é a fome e a pobreza”, Lula da Silva evocou o “cidadão do mundo”, Josué de Castro: “A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, ‘a fome é a expressão biológica dos males sociais’. É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.”
Vivemos em um mundo abalado por mudanças climáticas e perda da biodiversidade; marcado por violências, conflitos armados e crises econômicas, muitas advindas após décadas de adoção de políticas neoliberais. Relatório de 2024 produzido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, constata que, em 2023, até 733 milhões de pessoas no mundo passaram fome, e mais de 2,8 bilhões de pessoas, que correspondem a um terço da população mundial, não tiveram condições de pagar por uma dieta saudável. Comparado a 2019, são cerca de 20 milhões a mais de pessoas vivendo na extrema pobreza, sendo mulheres e crianças a parte mais vulnerável desse somatório de injustiça e exclusão.
Mais do que nunca, o pensamento político e social de Josué de Castro se faz presente, indispensável e inspirador. O Arquivo Josué de Castro, pertencente ao acervo do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira – Cehibra, da Fundação Joaquim Nabuco, encontra-se à disposição dos pesquisadores e pesquisadoras interessados em conhecer e revisitar sua obra intelectual e atuação política a favor de um mundo sem fome e de paz. Sua obra intelectual é fonte inesgotável e valiosa para a formulação e implementação de políticas e programas que, de fato, aliados à vontade política, venham a mitigar a pobreza e a fome e a contribuir para a construção de um mundo próspero, mais justo, sustentável e de paz.
Recife, 20 de novembro de 2024
Rita de Cássia Araújo
Historiadora e pesquisadora titular da Fundação Joaquim Nabuco