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Transposição: Preservar para os que virão, artigo de Adilson Fonseca
2006
A saída de Salvador foi no dia 28, às 7 horas, com destino à divisa da Bahia com Minas Gerais. Depois de enfrentar os buracos e da BR-116 (Rio-Bahia), conseguimos chegar a Cândido Sales, último município antes de Minas, a 595 quilômetros de Salvador, às 16 horas. Uma chuva fina e um frio de 15 graus nos esperavam, forçando-nos a uma viagem lenta por causa dos buracos e das filas de carretas, levando-nos a uma parada forçada para pernoite no distrito de Divisa Alegre (Minas Gerais). A partir daí começamos a nossa trajetória pelo rio que só foi terminar no dia 11 de dezembro, quando voltamos a Salvador
O TRABALHO – Sob intensa chuva e frio, seguimos na manhã do dia 29 para Montes Claros e Pirapora, no norte de Minas. Em Pirapora nos deparamos pela primeira vez com o Rio São Francisco, de águas barrentas e forte por causa das chuvas em suas nascentes. Ali também começamos a detectar os primeiros sintomas de degradação ambiental: carretas transportando carvão seguindo em direção a Belo Horizonte.
A DEVASTAÇÃO – O fabrico de carvão, é feito em todos os municípios da região norte de Minas Gerais e no oeste da Bahia, nas sub-bacias dos rios Pandeiros, das Velhas, Ipueira, Verde Grande e Abaeté (MG) e Carinhanha, Corrente e Grande (BA). O carvão é utilizado pelas siderúrgicas localizadas na região de Montes Claros e da Grande Belo Horizonte. A devastação também está presente nos esgotos das cidades lançados diretamente no leito do rio, como em Januária, Xique , Juazeiro e Cabrobó. O resultado disso é o assoreamento do rio e a mortandade de peixes.
OS OBSTÁCULOS – Além dos obstáculos naturais em épocas de chuva – travessia por balsa, estradas intransitáveis – há uma espécie de barreira mais difícil de transpor: a obtenção de informações sobre projetos e ações governamentais na revitalização do Rio São Francisco. As informações do Ministério da Integração Nacional não batem com a realidade de abandono do rio. Dos projetos de desassoreamento, reflorestamento, educação ambiental e combate ao desmatamento, pouco ou nada existem.
AS CURIOSIDADES – A natureza se encarrega, a cada ano, de reservar belas surpresas para quem visita a região. Das ruínas da capela feita em pedra de Bom Jesus do Matozinho, na confluência do Rio das Valhas com o São Francisco, passando pela Gruta de Bom Jesus da Lapa, à reserva florestal e às cavernas do Parque Nacional do Peruaçu, onde estão os maiores estalactites do mundo.
A LIÇÃO – O Rio São Francisco não é também fonte de alimento, desenvolvimento e riqueza para os que vivem às suas margens. As agressões ambientais ainda não suplantaram a pujança do rio, mas a ação devastadora do homem e a não-preservação do meio ambiente, podem mudar esta realidade. A existência ou não da água no futuro será conseqüência direta do que o homem vem fazendo no presente.