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Transposição insensata, artigo de João Alves Filho
Disponível em:
http://www.aguaonline.com.br/materias.php?id=1731&cid=7&edicao=270
Água Online
02/05/2005
O projeto de transposição do rio São Francisco, além de repleto de falhas técnicas, está imerso em ilegalidades, podendo provocar o maior desastre econômico, social e ecológico do Brasil.Além da falta do Relatório de Impacto Ambiental da bacia do rio, imprescindível à aprovação de qualquer projeto que afete o meio ambiente, a transposição agride a Lei de Recursos Hídricos por contrariar critérios e prioridades do Comitê de Bacias do rio, pactuado com Estados banhados pelo São Francisco.O plano afirma: "A prioridade da bacia são os usos internos, excetuando-se os casos de consumo humano e animal em situação de escassez comprovada" e "as prioridades de uso para fins produtivos ficam restritos aos usos internos", tudo ignorado pelo governo federal.Diferentemente do que alardeia o governo federal, a água para o consumo humano e animal pode ser transposta para Estados vizinhos, desde que haja escassez comprovada.Assinale-se, contudo, a insuspeita conclusão da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência): "O eixo Norte (o maior do projeto) é inequivocamente para irrigação". Acrescentem-se as conclusões do Banco Mundial: "Suprimentos seguros de água para uso doméstico para todo o Nordeste poderiam ser garantidos por meio de outras alternativas, por uma fração do custo do projeto proposto" e "o projeto só afetaria uma pequena parcela da população do Nordeste que sofre falta de água".De fato, apenas 5% da população do semi-árido será atendida, assim mesmo por meio de precários chafarizes, permanecendo o triste espetáculo dos carros-pipas e das latas d'água na cabeça.Só em Minas Gerais se concentram mais de 70% das águas do rio. O governador Aécio Neves, generosamente, abdicou do direito de gerenciar tais águas em favor da sobrevivência do rio, confiando-a ao Comitê Gestor das Bacias de Integração. Quando o governo federal explora suas águas sem avaliar conseqüências para sua sobrevivência, ferindo a legislação, nada garante que um próximo governador de Minas adote posição isolada e decida deter as águas do rio para usos econômicos locais, o que significaria caos. A transposição proposta é socialmente injusta, politicamente desastrosa e provoca a desunião entre irmãos nordestinos.
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