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Transposição divide opinião de especialistas
Defensores dizem que ela é necessária e que rio não será afetado; críticos reclamam dos custos do projeto.
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ANA PAULA BONI
DA REDAÇÃO
2005
A transposição das águas do rio São Francisco, motivo da greve de fome do bispo de Barra (BA), Luiz Flávio Cappio, divide opiniões entre especialistas.
O presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) é favorável à transposição. "A transposição é necessária, é um projeto de integração nacional, o Brasil não se pode dar ao luxo de não fazê-la."
Wilson Lang diz que a captura de água terá limites que estão "compatíveis com a realidade do rio naquele trecho [entre as barragens de Paulo Afonso e Sobradinho (BA)]". "As tomadas de água estão entre dois lagos de contenção, que são reguláveis. Para manter o curso do rio sem mexer nas condições dele, vai ter que aumentar a vazão da barragem de Sobradinho. Só que ela tem um volume de água que dá para isso e mais dez vezes outra coisa."
Para ele, os locais beneficiados "poderão dar uma contribuição tão grande para o país quanto Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), que saíram de uma região inóspita e se tornaram pólos agrícolas".
O jornalista Marco Antônio Tavares Coelho, autor do recém-lançado "Os Descaminhos do Rio São Francisco" (Paz e Terra), refuta o argumento de que a transposição não alterará o regime hídrico do rio. "A água serve às usinas hidrelétricas. Então, não dá pra tirar essa água", diz ele.
Coelho critica os gastos do projeto: "O custo dessa água é absurdo. Porque você vai ter de levar essa água a mais de 400 km. Além disso, essa água tem de ser bombeada, gastando energia elétrica. Será a água mais cara do mundo".
O geógrafo Aziz Ab'Sáber também faz críticas ao projeto. "[O governo afirma que] as águas doces vão chegar nas águas salinas dos açudes, mas ele não fala que antes dessas águas serem despoluídas elas vão poluir as águas dos açudes que são semi-salinizados."
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Manoel dos Santos, defende a transposição. "Um rio com a dimensão do São Francisco não foi criado apenas para a população ribeirinha, mas para ser explorado pela capacidade tecnológica do homem."
Santos acredita que, em vez de piorar a situação das águas do rio, a transposição pode melhorá-la. "Defender a revitalização não é razão para se opor à transposição. A tendência é que, com todo o investimento feito com a transposição, aumente o zelo com o rio, para que não prossiga a destruição."
Para o pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, um dos problemas que a transposição acarretará é a falta de energia elétrica. Segundo ele, o rio é responsável por 95% da geração de energia do Nordeste. Como esse potencial foi quase todo utilizado pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), diz, "daqui a dez ou 12 anos terá de ser dobrada a geração de energia na região". "De onde vamos tirar essa energia?", questiona ele.
Segundo Suassuna, tirar água do rio para abastecer 12 milhões de pessoas, como prevê o projeto, é praticamente impossível.
Para o professor Nilson Campos, da Universidade Federal do Ceará, doutor em gerenciamento de recursos hídricos, "o que justifica o projeto do ponto de vista técnico é ter uma maior segurança hídrica e facilitar o gerenciamento dos estoques de água".
No entanto, ele pondera que a transposição não é uma panacéia. "Esse projeto não vai resolver o problema da seca, que é mais complexo." (MARCIO PINHEIRO, RODRIGO RÖTZSCH E ANA PAULA BONI)
Ana Paula Boni
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