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O Atlas do Nordeste, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
Uma das mais belas surpresas oferecidas ao povo do Semi-árido brasileiro, particularmente aos governantes que honram o cargo que ocupam, foi o Atlas do Nordeste elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Quem buscou garantir, em primeiro lugar, o caráter público de nossas águas foi a Secretaria de Recursos Hídricos, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Depois, no calor da greve de fome de dom Luiz Cappio contra a transposição do rio São Francisco, quando o governo federal acusava a sociedade civil de não ter uma proposta consistente para o meio urbano, a ANA apresentou o Atlas do Nordeste. Trata-se de um minucioso diagnóstico hídrico de 1.112 municípios nordestinos com mais de cinco mil habitantes e 244 municípios abaixo desse patamar. Propõe as obras adequadas para que eles tenham os problemas hídricos solucionados em torno de ano 2015. Privilegia o abastecimento humano.
O alcance do trabalho é impressionante. Abrange Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Piauí, integralmente, e mais o Norte de Minas. Embora o foco fundamental seja a região semi-árida, os diagnósticos incluem grandes centros urbanos, como Salvador, Recife e Fortaleza. No conjunto, propõe 530 obras que beneficiam 34 milhões de nordestinos, praticamente o triplo do que o governo federal anuncia com a transposição do rio São Francisco. Tais obras visam diretamente ao abastecimento humano. Jamais na história do Nordeste foi feito um trabalho tão cuidadoso e tão abrangente para o meio urbano, oferecendo as soluções que deveriam ser transformadas imediatamente em políticas públicas.
É de se ressaltar a frieza e, talvez, o desconhecimento com que o Atlas foi recebido pelos governos de todos os níveis. Ele comprova, de certa forma, o menosprezo pelo atendimento às populações mais necessitadas.
Quando se soma a população urbana beneficiada pelo Atlas (34 milhões) com a população beneficiada pela ação da Articulação do Semi-Árido do meio rural (10 milhões), verificamos que 44 milhões de pessoas teriam seus problemas básicos de abastecimento humano solucionados. Essas obras estão orçadas em R$ 3,6 bilhões, praticamente a metade do custo inicial da transposição do São Francisco.
Capítulo do livro Semi-Árido: uma visão holística (Malvezzi, Roberto – Brasília: Confea, 2007).