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Falta de água na represa de Sobradinho ameaça ribeirinhos
Cidades que passaram décadas encobertas pela água voltaram à tona. Região sofre com a seca há três anos.
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José Raimundo
Santo Sé, BA
01/12/2015
Represa de Sobradinho - Imagem do Google
Sobradinho, a maior represa do Rio São Francisco e de todo o Nordeste, está morrendo. Depois de três anos de seca, cidades fantasmas, que passaram décadas encobertas pela água, voltaram à tona.
Não se vê uma folha verde na caatinga, o pasto acabou, animais estão morrendo, plantações não resistiram. O lago, que ficava ao alcance dos olhos, se afastou tanto que agora se chega de carro onde barcos navegavam.
O mar de água doce, que se espalhava por mais de 300 quilômetros, está irreconhecível. O lago de Sobradinho nunca foi visto assim desde que se formou. A seca está revelando lugares que ficavam submersos.
Sento Sé, Pilão Arcado, Remanso e Casa Nova foram inundadas há quase 40 anos. Na época, mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a se mudar para as novas cidades construídas com o mesmo nome e fora do alcance das águas, represadas pela barragem de Sobradinho.
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A pior seca dos últimos 50 anos ameaça milhares de trabalhadores rurais. As cidades e os agricultores que dependiam da represa de Sobradinho não têm mais de onde tirar água.
Depois de 3 anos sem chover, quem cresceu no sertão que virou mar, agora vê a caatinga ressurgir no leito seco do lago e convive com um calor de mais de 40ºC. As comunidades do entorno, que ficavam a metros da água, agora estão a quilômetros de distância.
Muitas cidades foram obrigadas a adaptar estações de abastecimento. Não há como bombear a água nos pontos originais. Os carros-pipa, em vários pontos de captação, são um exemplo revoltante do desperdício. Eles não pagam nada para encher os tanques, mas cobram caro para matar a sede das famílias. “Mil litros de água custam R$ 30. Pago isso umas quatro vezes no mês”, relata a dona de casa Alice Cipriano Rocha.Tão difícil quanto ter a casa abastecida de água é colher o que plantou. Os produtores estavam acostumados a molhar seus plantios a cada dois dias. Depois, uma vez por semana. Hoje, muitos deles não conseguem de jeito nenhum.
Pequenos produtores chegaram a emendar tubos para tentar buscar a água, mas acabaram desistindo. Um canal de mais de três quilômetros está sendo aberto para alimentar o maior projeto irrigado da região. A fruticultura no Vale do São Francisco emprega 250 mil pessoas. Se a obra não ficar pronta, haverá racionamento de água nos 23 mil hectares de frutas.
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Pouca gente sabe, mas no Nordeste, quanto mais venta, menos chove. Depois de três anos de seca, a geração de energia na represa de Sobradinho pode parar a qualquer momento. A produção de eletricidade na região depende agora das turbinas eólicas.
Quando o lago chegar ao nível zero - hoje tem menos de 2% - as turbinas da hidrelétrica vão parar de funcionar. A plena carga, Sobradinho abastece uma cidade de três milhões de habitantes. "Nós estamos atendendo aos consumidores da região Nordeste com menos energia proveniente de geração hidráulica, mas nós temos outras alternativas”, afirma João Henrique Franklin, superintendente de operações da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco (CHESF).
Uma das principais alternativas tem o vento como matéria-prima. Já são 322 parques eólicos espalhados por 11 estados, que produzem cerca de 4% de toda a energia consumida. A maior parte fica na região da seca.
Hoje, no Nordeste, a energia eólica é tão importante quanto a que é gerada pelas hidrelétricas. Em média, produz também 30% e já chegou a ultrapassar essa marca em alguns momentos e a tendência é aumentar mais ainda.
Mais de 80% da geração das eólicas saem do Nordeste. A produção deveria ser maior se uma usina no município de Casa Nova, norte da Bahia, estivesse funcionando desde novembro de 2013, como informa a placa na entrada. A obra, de R$ 800 milhões, financiada pelo Governo Federal, consumiu quase a metade do dinheiro. Das 120 torres apenas 16 foram instaladas.
Em outra usina, no município de Sento Sé, o arrendamento é receita garantida. Gente que nem sabia o que é energia eólica, está ganhando dinheiro.
Segundo pesquisadores da área, nos próximos dez anos, o consumo de energia deve aumentar mais de 30% no Brasil e com o avanço da energia eólica vão diminuir a pressão sobre os rios e a dependência das hidrelétricas.