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Deputados alertam para riscos de obras inacabadas da Transposição
Governo do Estado admite preocupação com o início do bombeamento das águas do São Francisco, marcada para o dia 30, com as obras do Cinturão das Águas inacabadas, mas diz que é possível a operação ser iniciada.
Diário do Nordeste
21/08/2019
O início do bombeamento das águas da Transposição do Rio São Francisco para o Ceará, anunciado para o próximo dia 30, está rodeado de incertezas. Sem previsão de recursos federais para conclusão do Cinturão das Águas (CAC), canal que vai transportar o "Velho Chico" no Estado, o Governo cearense cogita usar o próprio pessoal para corrigir eventuais problemas durante a operação. Deputados que acompanham a obra alertam, porém, para os riscos desse cenário.
O trecho "emergencial" de 53 km do CAC, que é o caminho por onde a água do São Francisco vai percorrer no Ceará, está com 98% das obras prontas. Desde fevereiro, o Estado não recebe verbas federais para concluir os 2% que faltam. O Governo estadual calcula que são necessários R$ 128 milhões, deste valor, R$ 41 milhões seriam para pagar as dívidas com as empresas responsáveis pela obra.
O problema é que até agora não há previsão de quando nem de quanto do dinheiro, de fato, vai ser liberado. No início do mês, o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que o Governo Federal autorizou pagar R$ 97 milhões, mas nada foi liberado.
Apesar das incertezas, o secretário de recursos hídricos do Estado, Francisco Teixeira, diz que as águas do São Francisco conseguem ser transportadas pelo Cinturão das Águas, porque o "grosso" da obra está pronto. Porém, ele cogita usar a equipe da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) para reparar eventuais falhas. Isso porque falta complementar o Cinturão das Águas, por exemplo, com obras de proteção de talude, drenagem, fazer a limpeza de bueiros, principalmente, para o período chuvoso de 2020. E, sem receber dinheiro, como já estão, as empresas paralisam os trabalhos.
"Normalmente, a Cogerh entra para operar quando a obra está pronta, mas, caso não venha dinheiro, vamos usar a estrutura da Cogerh, para fazer a água caminhar. Se tiver vazamento, se aparecer outro problema provisoriamente, fazer algum tipo de correção, e com a obra dentro. Vamos ter que partir para uma operação mais delicada", avalia Teixeira
Riscos
O secretário admite preocupação se o Estado tiver que usar essa alternativa, caso as águas do "Velho Chico" comecem a ser bombeadas antes do Cinturão das Águas ser totalmente concluído. Mas, para o presidente da Comissão Especial de Acompanhamento das Transposição na Assembleia Legislativa, deputado Guilherme Landim (PDT), esse é um risco muito alto.
"Porque o que está faltando para terminar a obra são trechos de proteção. Se não tiver nenhuma empresa, quando as chuvas grandes vierem e tiverem danos no canal, quem vai reparar? É um risco pro Governo do Estado. Não podemos tratar de uma obra como se estivesse falando de um prédio de posto de saúde, quando dá vazamento, manda um pedreiro lá e tapa", alertou.
Após visitas à obra, Landim constatou junto aos técnicos que o CAC não teria condições de receber as águas, hoje, tanto é que a Comissão aprovou um requerimento, que foi enviado à Secretaria de Recursos Hídricos, nesta semana, pedindo esclarecimentos sobre a real situação do Cinturão.
Na semana passada, Guilherme Landim e uma comitiva de deputados integrantes da comissão visitaram o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, para pressionar por mais recursos. No entanto, ele voltou sem muitas expectativas.
"O ministro não tem força sozinho. O recurso está empenhado, mas para que ele apareça precisava vir diretamente da Casa Civil, da Presidência da República e do Ministério da Economia. Se não houver mobilização da bancada federal cearense para cobrar de forma incisiva, o ministro disse que não tem como precisar quando esse recurso vai chegar, nem se o recurso chega".
Landim frisou, ainda, que o bombeamento das águas do Eixo Norte, justamente o que vai beneficiar o Ceará, deve começar no próximo dia 30, mas que a água vai demorar meses para chegar ao Ceará.
"A ligação dessas bombas no dique de Salgueiro até chegar ao reservatório de Jati é complexa. Precisa encher o dique de Salgueiro que vai demandar 45 dias, depois vai encher o reservatório de Negreiros e depois vai encher o de Milagres. Se tudo ocorrer sem nenhum problema, a água vai começar a chegar a Jati, em março. Se tiver qualquer problema, tem que abortar a operação e começar de novo".
Deputados do Ceará e Governo do Estado debatem a capacidade do Cinturão das Águas de receber o fluxo do Rio São Francisco no Ceará, sem a conclusão das obras. Tema gera preocupação com início de bombeamento das águas.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Já havia sido previsto pelas autoridades, que as águas do Rio São Francisco só iriam fluir pelo Eixo Norte do projeto da Transposição, no ano de 2020. Ora, ao ler essa matéria chego à conclusão de que os deputados cearenses estão cobertos de razão, ao alertarem sobre os riscos da chegada das águas no Eixo Norte, em trechos ainda inacabados. Pudera! Quando o Eixo Leste do projeto foi inaugurado em 2017, com os canais apresentando qualidade técnica supostamente satisfatória, o referido eixo apresentou desmoronamentos, obrigando o poder público proceder ao desligamento dos bombeamentos, para os reparos necessários. Ao tomar conhecimento, através dessa matéria, da antecipação do funcionamento do Eixo Norte, para o final de agosto do corrente, com alguns trechos do canal ainda por terminar, fico a imaginar na possibilidade de vazamentos bem mais sérios! Para mim fica muito claro tratar-se de uma aposta no fracasso da obra! A matéria poderá se considerada, no futuro, como uma crônica de um insucesso anunciado.