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Decisões de Temer e Bolsonaro colocam em risco Transposição do São Francisco
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Jornal GGN in Desenvolvimento Infraestrutura Política
02/09/2019
Trecho da transposição do São Francisco. Foto: Agência Brasil
Jornal GGN – Há cerca de cinco meses o bombeamento de água da Transposição do Rio São Francisco para o Eixo Leste, e que atende 44 municípios da Paraíba, foi interrompido pelo governo Federal por uma recomendação da Agência Nacional de Águas (ANA), em razão de riscos de rompimento no reservatório Cacimba Nova, em Custódia, Pernambuco.
Em julho, o Ministério Público Federal em Monteiro, na Paraíba, emitiu um laudo técnico apontando em alguns trechos da obra fissuras no concreto, trincas e rachaduras que chegam a mais de 1,5 centímetros de espessura. O órgão destaca que os problemas estão associados à concepção e execução da obra.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em reportagem publicada nesta segunda-feira (2), o professor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) Francisco Sarmento, que coordenou por 14 anos os estudos e planejamentos hidrográficos da transposição, disse que o problema são os atropelos políticos. Em outras palavras, a obra foi inaugurada sem que estivesse completamente construída.
“Esse eixo [Leste] foi projetado para operar com 24 bombas. Temos a metade. A vazão prevista nunca foi alcançada. Neste momento, nenhuma bomba está em operação”, contou.
Ele apontou ainda que o sistema operacional do projeto, importante para transmitir dados em tempo real dos níveis dos reservatórios, foi posto em operação sem licitação. “É uma temeridade o que foi feito. No dia da inauguração, ficaram operando pelo celular”, criticou.
A obra da Transposição do Rio São Francisco é dividida em dois eixos: o Norte e o Leste. No primeiro ainda resta a conclusão 3% das obras há cerca de dois anos. Já o segundo, Eixo Leste, foi inaugurado em março de 2017, em uma cerimônia oficial em Monteiro, no Cariri paraibano, realizada pelo então presidente Michel Temer (MDB).
O professor Francisco Sarmento lembrou à Folha que duas barragens do Eixo Leste chegaram a romper. Uma delas, três dias antes da inauguração do sistema. Ele apontou também que as obras de comporta funda, para que o fluxo que vem do canal passe sem que a barragem encha, nunca foram entregues. “Tiveram que fazer uma gambiarra, um canal para desviar da barragem”, completou.
As obras da Transposição do Rio São Francisco foram tiradas do papel ainda no governo Lula, em 2005. O orçamento inicial do megaprojeto foi de R$ 4,5 bilhões na época, hoje o equivalente a R$ 9,6 bilhões, corrigindo os valores pela inflação. Atualmente, e faltando apenas 3% para finalizar o Eixo Norte, o custo total da obra é calculado em R$ 12 bilhões.
A proposta da transposição é atender a 12 milhões de pessoas e impulsionar um novo modelo econômico às regiões nordestinas.
Em entrevista à TV GGN, o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, rebateu às críticas de que o orçamento da Transposição, considerada uma das obras mais caras do país, é elevado.
“Se você pegar os R$ 12 bilhões do custo e dividir pela população que a transposição atende que é de 12 milhões, vai chegar a 1 mil reais por pessoa. Se colocar esse valor aplicado em dez anos, arredondando para fechar a conta, o custo é 100 reais por cada pessoa beneficiada. Ou seja, muito menos que um bolsa família mensal. Essa é a obra que alguns tentam colocar como elefante branco”.
A reportagem da Folha abre margem à críticas aos governos petistas pelos resultado das obras, especialmente porque, logo em seguida à inauguração “às pressas pelo ex-presidente Michel Temer”, em março de 2017, os petistas Lula e Dilma Rousseff também realizaram um ato de inauguração simbólico e popular da Transposição.
Em resposta ao jornal, a assessoria do ex-presidente Lula lembrou que a inauguração foi um ato oficial do governo Temer e, ainda, que Lula e Dilma deixaram a Presidência em 2010 e 2016, respectivamente.
Quanto à ida de Lula e Dilma a Monteiro, pouco depois da inauguração do Eixo Leste do São Francisco pelo então governo Temer, a assessoria disse que Lula, em especial, atendeu a um desejo da população local, grata por retirar do papel uma obra cogitada desde o império, concluindo que os problemas que surgiram na obra não estão sob a responsabilidade de Lula e Dilma.
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