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De volta a níveis pré-seca, rio São Francisco tem menos restrições para uso das águas
ANA publica nesta terça novas regras que ampliam limites de vazão e permite maior geração de energia.
Nicola Pamplona
30/04/2019
Obras de transposição do Rio São Francisco do eixo norte - Bruno Santos/Folhapress
RIO DE JANEIRO
Apos cinco anos de seca severa, os reservatórios da Bacia do Rio São Francisco voltaram ao nível pré-crise e já começam a operar com menos restrições, o que permite o aumento da geração de energia e do uso por outras atividades econômicas.
O chamado reservatório equivalente (soma da capacidade de todos os lagos da bacia) está hoje em 57%, o maior nível desde o segundo semestre de 2012, quando se iniciava a seca que gerou dificuldades para o abastecimento de água, irrigação, turismo e hidrelétricas.
A expectativa do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) é que o nível atinja os 60% ainda ao fim do período úmido, nas próximas semanas - o percentual foi atingido pela última vez em janeiro de 2012. Com mais água, as hidrelétricas da região já estão gerando mais energia do que em meses anteriores.
A melhora na situação levou a ANA (Agência Nacional de Águas) a permitir o aumento das vazões nas barragens. Em Sobradinho, por exemplo, são hoje 800 metros cúbicos por segundo, 250 a mais do que no período mais severo de restrições.
"É um grande alívio, sobretudo para outros usos e para a manutenção dos ecossistemas [na parte baixa da bacia]", diz Anivaldo Miranda, que preside o CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco). A região vinha sofrendo com problemas no abastecimento de água e salinização da foz do rio, por exemplo.
A ANA decidiu mudar o status da sala de crise do São Francisco —que passará a operar como uma sala de acompanhamento da situação— com reuniões menos frequentes, e publicará nesta terça (30) novas regras de operação dos reservatórios da bacia.
O superintendente de Operações e Eventos Críticos da agência, Joaquim Gondim, diz que as novas regras têm o objetivo de garantir maior estabilidade no nível dos reservatórios ao longo dos anos. A resolução elaborada pela ANA determina volumes máximos de vazão de acordo com faixas de níveis de reservatórios.
A bacia do São Francisco tem quatro reservatórios, sendo que os dois maiores são Três Marias, na cabeceira do rio em Minas Gerais; e Sobradinho, na divisa entre a Bahia e Pernambuco, importante para o abastecimento do polo de fruticultura irrigada de Juazeiro e Petrolina.
Maria do Carmo da Silva, 77, tem cisterna, mas está vazia. Exército não leva água para área rural de Caruaru . Folhapress/Danilo Verpa
Segundo as novas regras, se o nível dos reservatórios estiver acima de 60%, não há limite de vazão e o setor elétrico pode gerar energia sem restrições. Abaixo dos 60%, há restrições de vazão nos principais reservatórios - embora superiores às do período agudo da crise.
Para Gondim, o modelo garante uma operação mais estável – ou “parcimoniosa” – dos reservatórios, com a geração de energia diluída ao longo do ano, em vez de picos para aproveitar a água no verão.
Atualmente, o reservatório de Três Marias está com 80,7% de sua capacidade de armazenar energia - chegou a ter 2,91% em outubro de 2014. Já Sobradinho, que chegou a ter 1,1% em novembro de 2015, hoje tem 47,8%. A recuperação é fruto das restrições impostas nos últimos anos, com apoio da proliferação de usinas eólicas que ajudaram a suprir a região.
De acordo com dados do ONS, com a ampliação dos limites nos últimos meses, as hidrelétricas do Nordeste geraram 2.011 megawatts (MW) médios em março – ainda cerca de 10% abaixo do mesmo mês em 2018, mas já mostrando recuperação em relação aos 1,5 mil a 1,7 mil do fim do ano.
Gondim espera que as novas regras mantenham o ritmo de recuperação dos reservatórios e não descarta que as hidrelétricas do Nordeste voltem a verter água - quando os reservatórios estão cheios e as comportas precisam ser abertas, o que não ocorre desde 2013.
A última vez que o reservatório equivalente do São Francisco atingiu 100% de sua capacidade foi no segundo semestre de 2009.
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
O chamado reservatório equivalente nordestino está atualmente com 57% de sua capacidade, devido à influência dos volumes estocados na represa de Três Marias (localiza-se na região Sudeste) que está com cerca de 80% de sua capacidade. Para quem não sabe, a referida represa faz parte do reservatório equivalente da região Nordeste, quando o assunto é geração de energia, segundo normas da Operadora Nacional do Sistema elétrico (ONS). Na minha modesta opinião, para que houvesse uma análise mais realista em relação a uma operação com menores restrições de usos das águas desses reservatórios, seria necessário que se estabelecesse defluências, de Três Marias para a calha do Rio São Francisco, que fossem condizentes à recuperação da represa de Sobradinho, que atualmente encontra-se com uma capacidade de 49%. Pelo o que se tem acompanhado nos últimos anos, três Marias vem lançando volumes irrisórios na calha do rio (atualmente lança apenas 150 m³/s), o que tem prejudicando, não apenas a piracema nas suas lagoas marginais, fazendo sumir o pescado nas regiões do Alto e Médio São Francisco, mas, e principalmente, os outros usos, notadamente na geração de energia, na irrigação, no abastecimento das populações, na navegação, e no lazer.