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A Volta da Transposição, artigo de Manuel Bomfim Ribeiro
Artigo editado no jornal A Tarde, de Salvador, em 06/06/1997.
Volta, novamente, o governo a falar em transposição de águas do São Francisco para o Nordeste. Procura-se agora diminuir o volume a ser transportado para aplacar a resistência da Bahia, dando, erradamente, uma conotação bairrista ao projeto. Pelas novas declarações, o Nordeste agora só necessita de 60 m³/s de água. Falou-se, anteriormente, em 300 m³/s, depois 180, mudaram para 50, voltaram para 150, e hoje a vazão desejada é de 60 m³/s. Este é o bailado da improvisação, da indefinição e insegurança dp governo. Não sabe o que quer, mas necessita agradar aos troianos e aos gregos.
Blateramos por diversas vezes, através desse jornal e outros meios de comunicação, que o Nordeste não necessita de água do rio São Francisco, nem de outros rios, porque tem condições de criar a sua própria estrutura hídrica dentro do seu próprio polígono geográfico.
A questão de ser contra ou a favor não é da Bahia, até porque se trata de um rio federal, de todos.
Segundo relatórios oficiais da Sudene, os quatro estados (PE, PB, CE, RN) necessitam ter 8 bilhões de m³ de água por ano para atender suas necessidades hídricas, inclusive irrigação. Os anais do Dnocs atestam que os reservatórios dos quatro estados já acumulam 21 bilhões. Considerando-se a perda de 60% por evaporação e infiltração, restam os oito bilhões necessários. Ademais, a Sudene já programou, desde 1994, a construção de 59 açudes que irão acrescer mais 12 bilhões m³.
O que necessita é fazer o balanço hídrico destes mananciais estagnados e subaproveitados e distribuir água pelas comunidades através de um robusto sistema de adutoras. Dar função aos açudes.
Outrossim, pode-se extrair do seio das terras do Nordeste cerca de 20 bilhões de m³ de água por ano, entretanto só retiramos 1% deste grande potencial disponível.
O nordestino do Vale do rio São Francisco vive, na sua maioria, um triste fadário aguilhoado por uma agricultura arcaica por falta de ação do governo para aproveitar suas águas nas próprias barrancas do rio, exercendo uma agricultura moderna, produtiva, com a multiplicação do dipolo Petrolina – Juazeiro.
O engenheiro cearense Souza Brandão, no seu livro “Um Feixe de Artigos”, página 111, disse em 1920 sobre a transposição: “Transportar água para os vales dos rios Piranhas e Jaguaribe são sugestões compatíveis com a técnica, porém imorais debaixo do ponto de vista econômico”.
Manoel Bomfim Ribeiro
Ex-diretor regional do DNOCS, da CODEVASF e Consultor da SRH/MMA
E-mail: manoel.bomfim@terra.com.br
Fone: (61) 3322-4997