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UFPB DESENVOLVE LEITE EM PÓ DE CABRA SEM LACTOSE
Lucilene Meireles com assessoria
07/07/2019
Boa notícia para os alérgicos e intolerantes. Uma pesquisa do Departamento de Biologia Molecular da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), iniciada em 2014, conseguiu ‘produzir’ leite de cabra em pó sem lactose. Nas análises realizadas no Laboratório de Bioquímica Genética e Radiobiologia, não foi constatada a presença da substância. Mesmo assim, o leite segue agora para a fase de aprimoramento, eliminando qualquer vestígio da lactose. O produto final poderá ser consumido sem ressalvas por pessoas que precisam manter distância das proteínas do leite e da lactose.
A responsável pelo feito é a professora do Departamento de Biologia Molecular da instituição, Tatiane Santi Gadelha. “Esta pesquisa iniciou com um projeto com leite caprino submetido ao CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) onde estamos estudando as proteínas do leite. Para que pudéssemos estudar essas proteínas, havia a necessidade de retirar a lactose”, explicou, ressaltando que os detalhes estão sob sigilo de patente.
Ela explicou que o leite caprino é uma rica fonte de nutrientes e que a proteína é expressiva no produto. Processado em laboratório, além da vantagem de ser livre de lactose, o produto continua rico em proteínas, segundo a pesquisadora. Outras características ainda serão analisadas.
“Estamos com algumas propostas em andamento, sendo uma delas o uso dessas proteínas para enriquecer iogurte tipo grego, em parceria com o Instituto Federal de Currais Novos, no Rio Grande do Norte”, acrescentou.
FALTA RECURSO PARA PESQUISA
Apesar de todo o sucesso da pesquisa, falta financiamento para que possa ter continuidade. Realizada no Laboratório de Bioquímica Genética e Radiobiologia, do Departamento de Biologia Molecular sob a coordenação da professora Tatiani Gadelha, a pesquisa conta com algumas parcerias como a Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fazendo parte também do projeto ‘Observatório’, do Instituto UFPB de Desenvolvimento da Paraíba (Idep) e do professor doutor Carlos Alberto de Almeida Gadelha, da UFPB. Porém, o apoio não é suficiente.
“Iniciamos com leite do Campus do município de Bananeiras e agora estamos utilizando de Coxixola. Vamos aprimorar o processo para manter as propriedades do leite. Como não temos financiamento no momento, estamos trabalhando com recursos de projetos anteriores. Ainda temos um caminho pela frente para que chegue até as prateleiras”, constatou a pesquisadora.
As informações mais detalhadas sobre o produto estão concentradas nas proteínas, que são o foco de trabalho do laboratório. “Temos quatro patentes submetidas, duas já depositadas e mais uma para submeter ainda este ano. Com o leite e com o soro do leite, foram produzidos uma tese, duas dissertações, 2 trabalhos de conclusão de curso, projetos de iniciação científica, com dois prêmios, além de projetos pós doutorado e doutoramento. Essa pesquisa é bastante recente no laboratório”, enumerou.
PRODUTO NÃO FOI TESTADO EM HUMANOS
A equipe que atua na pesquisa em parceria com a professora Tatiani Gadelha ainda não analisou como o produto se comporta no organismo humano. “É preciso cautela no desenvolvimento dos testes, porque muitas pessoas que possuem intolerância à lactose podem passar mal com um contato mínimo”, ressaltou.
“Nós fizemos o teste e não acusou presença da lactose. Utilizamos um método para identificar mínimas quantidades e não acusou. Mas não sabemos ainda se existem traços”, acrescentou a pesquisadora.
Ela lembrou que o processo de transformação do leite líquido em pó foi demorado. “Prezamos pela qualidade do produto. Houve a necessidade de observar a alimentação dos animais, a forma como o leite é retirado das cabras. São muitos detalhes”, ressaltou.
O estudo conta com a colaboração de estudantes de pós-graduação da UFPB que pesquisam leite caprino e é realizado por meio de parceria com o Idep, CNPq e produtores de leite de cabra do Estado da Paraíba.
Intolerância. A lactose é o açúcar presente no leite e seus derivados e se divide em glicose e galactose. Algumas pessoas têm intolerância, ou seja, alergia à substância, sendo incapazes de digeri-la. O problema é resultado da deficiência ou ausência de uma enzima intestinal chamada lactase. É ela que possibilita a decomposição do açúcar do leite em carboidratos mais simples para melhor absorção. O problema afeta cerca de 25% da população brasileira.
As causas vão desde a deficiência congênita, passando pela diminuição na produção de lactase por conta de doenças intestinais, até a queda na produção da enzima como consequência do envelhecimento. De acordo com o Ministério da Saúde, o problema é mais evidente na raça negra - 80% dos adultos têm a deficiência - e menos comum em outras, como a branca, que soma 20% dos atingidos.