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ILPF: O QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA UTILIZAR ESSE SISTEMA
ILPF: vantagens e desvantagens, como implantar e indicações para um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta.
Lucas Nogueira
10/02/2020
A pressão pelo aumento da eficiência na produção, visando maiores rendimentos e a diminuição da abertura de novas áreas para a agropecuária, vem aumentando na cadeia produtiva mundial.
No Brasil, uma das soluções é o plantio direto , a integração lavoura-pecuária (ILP) e mais recentemente o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
A ILPF tem o objetivo de integrar sistemas produtivos, o que pode ser vantajoso para o meio ambiente e para o produtor.
A seguir, veja mais sobre o sistema ILPF e descubra seus pontos fortes e fracos, além de quais os melhores cenários para implantar esse sistema de produção.
O que é ILPF?
A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) assim como a integração lavoura-pecuária (ILP) inclui diferentes sistemas produtivos em um só. Mas no caso do sistema ILPF, existe o componente florestal.
A ideia da ILPF é de produzir grãos, pastagem para o gado e madeira de forma integrada na mesma área, mas não tudo ao mesmo tempo.
Com a tecnologia atual seria praticamente impossível colocar tudo isso no mesmo balaio e ao mesmo tempo. Produzir diferentes produtos na mesma área em sistema ILPF só é possível quando se escala as culturas ao longo do tempo.
Mas como isso acontece? Bem, as árvores ficarão no sistema o tempo todo e a atividade agrícola e pecuária se alternam em sucessão ou em consórcio ao longo do tempo, nas entrelinhas das árvores.
Na figura abaixo, pode-se ter uma ideia do sistema em que a lavoura é semeada na época do plantio das árvores, até que elas tenham tamanho suficiente para a entrada do gado.
Após algum tempo, há o desbaste das árvores que retira algumas para usos menos nobres e deixa outras para fins de maior valor agregado.
E com a entrada de luz que o desbaste proporciona, é que acontece a retomada da lavoura entre as faixas.
(Fonte: Embrapa (2012) )
Produzir gado, grãos e árvores na mesma área era algo impensável há algumas décadas atrás e, só é possível hoje, graças aos avanços no melhoramento genético, manejo e das máquinas agrícolas.
A inserção planejada de árvores no sistema pode gerar alguns benefícios agrícolas, econômicos e também ambientais à propriedade.
Do ponto de vista da agropecuária, o componente florestal pode agir como uma barreira natural para doenças dispersas pelo vento, protegendo as plantações até mesmo de condições climáticas inadequadas.
As árvores alteram o microclima da área e, se bem manejadas, podem auxiliar muito no bem-estar animal, principalmente de bovinos oriundos de raças taurinas, que são menos adaptadas ao nosso clima tropical.
Do lado econômico, a adição de árvores pode gerar mais rentabilidade na propriedade e diminuir gastos com doenças e pragas de bovinos, já que muitas estão associadas ao estresse ambiental do animal.
Os animais tendem a procurar o conforto térmico e sem áreas sombreadas podem diminuir a
ingestão de forragem
, diminuindo o ganho de peso ou a produção de leite.
(Fonte: Embrapa (2012) )
Os benefícios ambientais dessa prática são inúmeros e alguns deles, posteriormente, refletem em ganhos econômicos – são os chamados serviços ecossistêmicos.
Aumento da infiltração de água;
Diminuição do escoamento superficial e da erosão;
Aumento nos teores de matéria orgânica no solo;
Auxílio na ciclagem de nutrientes do sistema;
Entre outros.
São serviços que a própria natureza gera de forma muito mais barata e eficiente do que se nós mesmos fizéssemos. Os serviços ecossistêmicos estão relacionados com a purificação da água, por exemplo, aumento da fertilidade do solo, etc.
Desvantagens do ILPF
Um sistema com árvores pode ser algo um tanto diferente para quem está acostumado com apenas agricultura ou pecuária na mesma área.
O planejamento do sistema ILPF requer bem mais atenção, já que as árvores permanecerão na área por um longo tempo.
Sistema ILPF mal planejado com excesso de sombra - (Fonte: Embrapa )
O manejo da área também sofre algumas alterações que trataremos mais adiante, mas resumindo: o sistema ILPF necessita de maior capacitação do produtor para que sua máxima eficiência possa ser atingida.
Outro ponto negativo é a falta de mercado madeireiro em muitas regiões do país, o que certamente dificulta a comercialização da madeira.
Pensando em manejo, o eucalipto é a espécie mais indicada devido ao baixo custo de manejo e de mudas e por conta da tecnologia já acumulada.
Outras espécies de maior valor agregado como mognos ou cedros exóticos têm maior custo na obtenção das mudas e no manejo, já que essas espécies não apresentam desrama natural, sendo necessário um alto custo operacional e de mão de obra.
Operações como o desbaste e a destoca também podem ser uma desvantagem para a adoção do sistema, pois são onerosas e podem infligir danos ao solo se malfeitas.
Em qual cenário o sistema ILPF é indicado?
O sistema ILPF pode ser adotado por qualquer produtor com capacitação ou assessoria necessária para o empreendimento, além de capital para o investimento.
Mas como já falamos, existem cenários onde o sistema pode maximizar seus benefícios e minimizar pontos negativos.
Um desses cenários é a pecuária leiteira, porque a produção das vacas é altamente influenciada pelo estresse ambiental.
A pecuária de corte que utiliza gado de origem europeia, também pode se beneficiar do bem-estar térmico ocasionado pelo componente florestal.
Outro fator importante na hora de pensar na viabilidade do sistema ILPF é o mercado madeireiro da região.
Uma propriedade que esteja inserida em uma região com forte mercado de madeiras para fins nobres (construção, movelaria, etc.), tem grandes chances de aumentar consideravelmente os lucros ao final do ciclo de corte das árvores.
Projetando um sistema ILPF
Um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) se baseia em renques.
Renques são faixas de arborizadas plantadas com grande distância entre elas e podem ser formados por linhas únicas, duplas ou triplas de árvores.
Linhas Únicas, Duplas e Triplas de árvores em ILPF -
(Fonte:
Embrapa (2012)
)
Deste modo, o projeto de um sistema ILPF deve se basear no ciclo de corte da espécie florestal utilizada e, mais ainda, no número de intervenções que o proprietário está disposto a fazer no sistema.
Por exemplo, espécies de rápido crescimento como o eucalipto, se plantadas com espaçamentos pequenos entre renques vão necessitar de mais desbastes para controlar o sombreamento nas faixas de cultivo.
Sabendo disso, o recomendado para diminuir a “manutenção” do sistema é utilizar grandes espaçamentos entre renques, acima de 30 metros.
Outro fator que dita o espaçamento entre as faixas de árvores é o tamanho dos implementos utilizados na propriedade.
O importante é ter em mente que o componente florestal ficará por um bom tempo no sistema, até mais de 10 ou 15 anos visando madeiras com fins nobres.
Com isso, desenhar e pensar o futuro do sistema é vital para seu sucesso!
Conclusão
Neste texto, vimos um pouco mais afundo sobre o sistema ILPF tão falado por aí.
Como tudo na vida, esse sistema apresenta pontos positivos e negativos que devem ser levados em conta na hora da implantação!
A integração lavoura-pecuária-floresta é uma prova de que podemos produzir o ano todo nos trópicos, além de ser mais um exemplo da força do agro brasileiro.