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FORRAGEM PRODUZIDA A PARTIR DA PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR
A HUMANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CANA
José Abílio Silveira Cosentino & José Luiz Guimarães de Souza
Maio de 2007
A euforia do setor sucroalcooleiro e a rapidez na expansão da
cultura da cana-de-açúcar são recebidas com apreensão e receio por
outros setores produtivos, principalmente os consumidores, pela
possibilidade de escassez dos grãos, elevação do preço dos mesmos e
agravamento das condições sociais e ambientais.
Entretanto, diversos artigos têm sido publicados no sentido de
tranqüilizar a todos, mostrando tecnologias para intensificação da
produção e ou ganhos em produtividade, como por exemplo, maior
utilização da cana-de-açúcar e seus subprodutos na produção de carne
nos confinamentos. Por outro lado, intensificam-se as pressões dos
órgãos governamentais e não governamentais sobre o setor, no que diz
respeito aos aspectos sócio ambientais de interesse aos produtores,
trabalhadores e a sociedade em geral, que é representada pelos
consumidores.
A integração entre as duas atividades é de extremo interesse para
o Brasil pelo peso que representam na sua balança comercial. E é
nessa linha de raciocínio, que vamos apresentar as considerações a
seguir para justificar o título deste artigo, usando como exemplo o
Estado de São Paulo.
Dados do Instituto de Economia Agrícola, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento mostram que a área de pastagens é de 9,7
milhões de hectares (apesar da redução sofrida entre 2005 e 2006,
ser de 3,06%), e o rebanho é de 12,65 milhões de cabeças (segundo
levantamento de novembro de 2006). Portanto, mesmo com a explosão da
ocupação canavieira, a pecuária paulista continua forte. (João
Sampaio em artigo no Suplemento Agrícola do jornal "O Estado de São
Paulo, em 02 de maio de 2007").
A cana-de-açúcar ocupa 4,3 milhões de hectares conforme estimativa
de safra da Secretaria da Agricultura, e deverá ocupar dentro de
cinco anos, uma área de 6 milhões de hectares.
Segundo Rípoli, T.C.C.et al (2004) e Lamonica, H.M. (2005), cada
hectare de cana-de-açúcar produz de 9 a 14% de palha (base na
Matéria Sêca - MS), que representa aproximadamente 10
toneladas/hectare. Portanto 4,3 milhões de hectares produzem 43
milhões de toneladas de palha, das quais, parte é queimada e parte
permanece sobre o solo. Porém, em cinco anos serão 6 milhões de
hectares ou 60 milhões de toneladas de palha.
No caso do Estado de São Paulo, para a engorda de bovinos em
confinamento, durante 100 dias (para facilitar os cálculos, apenas),
utilizando-se 43 milhões de toneladas de palha, seria possível
compor a dieta como volumoso, de cerca de 86.000.000 cabeças/ano, ou
seja, um número aproximadamente 6,8 vezes maior que o atual rebanho
bovino paulista.
Pode parecer exagero, mas vejamos: cada boi magro confinado vai
consumir, por exemplo, dieta composta por volumoso (50%) e
concentrado (50%), perfazendo um total de 10 kg de MS/dia. Portanto,
5 kg de MS serão fornecidos pela palha da cana, e os restantes 5 kg
de MS serão provenientes do concentrado (grãos, farelos, vitaminas e
minerais).
Na prática serão aproximadamente, 600 kg de palha e 560 kg de
concentrado/boi, em 100 dias de confinamento, considerando a palha
com 85% de MS e o concentrado com 90%.
É isso mesmo, 43 milhões de toneladas de palha da cana-de-açúcar,
são suficientes para atender às necessidades de 86.000.000 cabeças
quanto ao volumoso. Por outro lado, seriam necessárias outras
43.000.000 toneladas de concentrados (base MS), para o balanceamento
da dieta desses animais, durante o período do confinamento, de 100
dias.
Podemos facilmente imaginar o que esses números significam do
ponto de vista sócio econômico para o Estado de São Paulo, na
geração de novos empregos, serviços, comércio de insumos e na maior
distribuição de renda, além dos ganhos em produtividade e
rentabilidade das propriedades envolvidas. Não podemos deixar de
ressaltar, ainda, os ganhos e benefícios proporcionados quanto aos
aspectos ambientais.
A integração cana-pecuária, aliada à gestão das propriedades e
análise de riscos futuros, pode promover a verticalização da
produção de carnes, com qualidade "tipo exportação" ou do tipo da
que é produzida nos países do "primeiro mundo".
São Paulo pode servir de exemplo para o mundo, pois além de ganhar
em produtividade e agregação de valor, proporcionará melhor
qualidade de vida e maior distribuição da renda aos milhares de
produtores rurais que compõem as suas diferentes regiões, muitas
delas com forte tradição na pecuária, como é o caso do Oeste
Paulista.
Também estará contribuindo para a fixação das famílias na zona
rural e atendendo aos princípios da Agroecologia, ou
sejam: "produção de alimentos com o aproveitamento de resíduos,
evitando desperdícios, promovendo o desenvolvimento auto-
sustentável, socialmente justo e ecologicamente correto".
Os valores apresentados acima, correspondem a 100% do recolhimento
da palha da cana-de-açúcar, porém, basta que apenas uma parte seja
efetivamente recolhida para compor a alimentação de bovinos, como
por exemplo, 50% e ainda assim o resultado é "espetacular", ou seja:
43.000.000 cabeças/ano, que representa mais de 3 vezes o rebanho
paulista e mais de 100% do abate anual de bovinos hoje no país. E
isso, utilizando-se apenas metade da palha da cana produzida no
Estado de São Paulo.
Usando a tecnologia denominada de "forragem verde hidropônica" ou
FVH como é também conhecida, de forma muito rápida (15 – 24 dias) e
com baixa necessidade de água, a palha da cana-de-açúcar pode ser
transformada em alimento volumoso de qualidade, além de poder ser
produzida ao longo de todo o ano.
O restante dessa palha poderá ter outros usos, quais sejam: na
cobertura do solo, na Floricultura, Horticultura, Silvicultura,
Avicultura, Artesanato, Decoração e na produção de compósitos para
uso na construção civil ou outros setores, que serão tema de outros
artigos.
Desta forma, milhares de empregos serão criados, colaborando para
fixação e manutenção do homem no campo, além de, tornar
economicamente viáveis as pequenas propriedades, promover a
valorização do produtor rural através da reciclagem de conhecimentos
e novas tecnologias e, acima de tudo, contribuir com o setor
sucroalcooleiro no sentido do ambientalmente correto e socialmente
justo.
Novas áreas, hoje ocupadas pela pecuária de corte ou leite,
poderão ser disponibilizadas para produção da cana-de-açúcar ou
outras culturas de interesse regional, estadual ou nacional, como:
seringueira, reflorestamento com essências nativas, frutas em geral
ou eucalipto, entre outras.