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Ceará detém mais de um terço de todos os dessalinizadores do País
Diário do Nordeste
30/07/2019
Os dessalinizadores foram implantados em 44 municípios cearenses FOTO: HONÓRIO BARBOSA
A maior parte do subsolo no Sertão cearense - cerca de 75% - é constituída de rocha cristalina, que apresenta duas desvantagens para o abastecimento de comunidades rurais: reduzida oferta e água salobra. A solução, nesse caso, é o uso de sistemas de dessalinização. Nesse modelo, o Ceará é destaque. Dos 651 sistemas funcionando em todo o Brasil, 252 - cerca de 38,7% - estão no Ceará, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
O avanço ocorreu nos últimos quatro anos a partir da implantação do Programa Água Doce (PAD), em 2015, que tem gestão compartilhada entre o Governo Federal, Estadual, Prefeituras e associação de moradores. Atualmente, os projetos atendem a 58.780 pessoas com uma média de oferta de 151.600 litros de água por hora. De acordo com o coordenador estadual do Programa Água Doce, Ricardo Medeiros, hoje o Ceará é destaque nacional.
O Estado conta com quase a metade dos dessalinizadores do Nordeste. Foram investidos, ao todo, cerca de R$ 50 milhões na implantação dos 252 sistemas de dessalinização que beneficiam 44 cidades cearenses. "O nosso esforço resultou em agilidade na implantação das unidades", pontua Medeiros.
A localidade de Altamira, na zona rural de Tauá, na região dos Inhamuns, que sofre com a escassez de água potável em comunidades isoladas, dispõe de um sistema inaugurado recentemente, que atende a 80 famílias. Em algumas localidades, não há taxa para a retirada de água. Isso varia de acordo com a gestão local.
Em Altamira, cada morador paga R$ 2 por 20 litros de água doce. "Foi uma conquista, um sonho realizado", diz o agricultor Francisco Souza. "Agora temos água boa para beber", comemora o morador.
Manoel Pereira é morador e operador de um dos sistemas na comunidade Lagoa Nova dos Firminos, na zona rural do município de Ocara. Ele considera que o projeto é um "verdadeiro milagre", que além de ajudar às famílias, atende a escolas, igreja e postos de saúde. "Hoje, nós temos água tratada, boa mesmo de beber e por um preço justo, que só pagamos para a manutenção da máquina", frisa.
"A comunidade tem consciência que o sistema é nosso, que ficará para filhos e netos", completa.
Na comunidade Jurema/Arueira, em Pentecoste, o dessalinizador do Água Doce atende a mais de 100 famílias. Os moradores relatam que o número de doenças de veiculação hídrica diminuiu. "Esse programa vai salvar muitas vidas", diz o técnico operador, Rômulo Paiva. "Crianças e idosos não ficam mais doentes por conta da impureza da água", atesta.
Os dessalinizadores, além de garantirem água de qualidade às comunidades, não afetam a natureza. O próprio sistema dispõe de reservatório para o depósito do rejeito, preservando o meio ambiente. "São equipamentos modernos", pontua o secretário executivo dos Recursos Hídricos do Estado, Dedé Teixeira.
Manutenção
Em recente encontro de avaliação do programa, realizado em Fortaleza, prefeitos, secretários municipais e estaduais, técnicos e representantes do MDR firmaram pacto para manutenção de todos os dessalinizadores instalados nos municípios cearenses.
O MDR fornece os equipamentos, o Governo do Estado instala e capacita os operadores, e as Prefeituras assistem financeiramente na manutenção. "Esses equipamentos são a salvação para muitas comunidades onde não há mananciais de água potável", frisa Teixeira.
O presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, esclarece que, por se tratarem de equipamentos novos, com menos de quatro anos, a manutenção não se fazia necessária anteriormente. Questionada sobre a vida útil dos equipamentos, a SRH não respondeu até o fechamento da matéria.
Ampliação
Diante dos bons resultados, a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) quer ampliar o número de dessalinizadores, que têm por objetivo estabelecer uma política pública permanente de acesso à água para o consumo humano, atendendo, prioritariamente, às populações de baixa renda, em comunidades do semiárido. Para isto, se faz necessário novo contrato com a União.