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Barragens subterrâneas podem acabar com indústria da seca no estado de Alagoas
Projeto é de baixo custo, envolve as comunidades e acaba com a miséria nas áreas mais castigadas pela estiagem.
02/06/2019
Barragem subterrânea pode acabar com indústria da seca em Alagoas
Três projetos estão em andamento em Alagoas para libertar os sertanejos da indústria cruel e secular, que mantém os sertanejos cativos aos "coronéis", políticos e dos caminhões-pipa. A maioria dos caminhões pertence a políticos e/ou aos seus parentes. O projeto mais novo e mais barato em andamento é o da barragem subterrânea. Ela está modificando o cenário árido das áreas rurais distantes dos mananciais, até então improdutivas e, neste momento, desafia o rentável negócio da seca.
Entre os projetos de combate à indústria fomentada pelas longas estiagens, a construção do Canal do Sertão, capitaneada pelo governo do estado e financiada pelo governo federal, é a estratégia bilionária. Já recebeu mais de R$ 2,5 bilhões para concluir quase 50% da obra. Porém, pode ser a arma mais eficiente contra os que exploram a miséria da população a partir da seca. Dos 150 quilômetros do rio artificial que capta água do rio São Francisco, em Delmiro Gouveia, e leva até Arapiraca, estão prontos 110 quilômetros.
A água é de boa qualidade e já chega ao município de Igreja Nova (distante 220 quilômetros de Maceió). Por falta de fiscalização, parte desta água é roubada e vendida por alguns caminhoneiros por até R$ 200 oito mil litros. Ainda não há data de conclusão do canal, que começou em 1990. Com a crise econômica-financeira do governo federal, o ritmo de construção deve diminuir.
Tem, também, o projeto de construção de 1 milhão de cisternas no Sertão dos nove estados nordestinos pela organização social Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). O projeto prevê a capacitação, treinamento e articulação das comunidades e famílias beneficiadas pela construção das cisternas. É reconhecido e premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como iniciativa relevante na política pública de acesso à água de boa qualidade e no combate a desertificação.
Barragem
A mais recente iniciativa que integra captação da água da chuva, produção agrícola, abastecimento humano e de animais é a barragem subterrânea. O projeto também é de integração e foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nos anos de 1980. A barragem é uma tecnologia de captação e armazenamento de água da chuva para a produção de alimentos com aproveitamento do próprio solo de pedras do Sertão.
A água fica armazenada em baixo da terra por muitos meses. A tecnologia aplicada é relativamente barata, custa entre R$ 10 mil e R$ 25 mil cada barragem e, nos últimos 10 anos, vem se espalhando pelo Nordeste.
Por ser uma técnica simples, que mobiliza e aglutina famílias de pequenos produtores rurais sertanejos e as tornam independentes dos políticos que mantêm caminhões-pipa, não angariou simpatia da maioria dos gestores municipais. Organizações não-governamentais, entidades como ASA, sindicatos de trabalhadores e de produtores rurais abraçaram o projeto.
Em Alagoas, existem cerca de 20 barragens, 16 delas são projetos desenvolvidos pela Federação da Agricultura e Pecuária de Alagoas (Faeal), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).