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Verde Grande, um dos mais importantes afluentes do Rio São Francisco, interrompe seu curso na altura do município de Jaíba, MG
Rio Verde Grande em Jaíba sem fluxo. Enquanto não alimentar sumidouros em sua calha antes de Jaíba, devido exploração das Águas subterrânea, o seu fluxo normal não chega ao Velho Chico. Muita exploração das Águas subterrâneas nesse Grande Verde Grande.
Gomes Assis – Movimento Carta de Morrinhos
23/10/2021
Rio Verde Grande, Verdelândia, MG
COMENTÁRIOS
Assis Gomes – Movimento Carta de Morrinhos
Prezado João Suassuna,
Obrigado pela atenção a esta importante evidência no Rio Verde Grande.+ Captação subterrânea descontrolada e exagerada na extensão da área do nosso Grande Rio Verde Grande. É natural e notório a relação entre as calhas hídricas e as águas subterrâneas. E a característica cárstica desse rio proporciona ainda mais estes fenômenos ao longo do seu curso. Este aspecto específico registrei no dia 23/10/21 em viagem para Matias Cardoso. A primeira foto na Cidade de Verdelândia. O fluxo do rio vertendo sobre o barramento local e seguindo seu curso normal sentido Cidade de Jaíba. Foto 23/10/21 às 7:52h. A segunda foto na Cidade de Jaíba ainda se vê a Calha sem o fluxo d'água. Neste caso muito bom uma pesquisa "evidência" do tempo real desta interrupção. Quem sabe na próxima ocorrência eu tenha condições de registrar este intervalo seco, em tempo real, entre os dois pontos. Foto 23/10/21 às 8:24h. (Tempo percorrido entre fotos 32 minutos)
Gomes
José Do Patrocínio Tomaz Albuquerque - Hidrogeólogo e Consultor
Existem vários trabalhos sobre o rio Verde Grande, dos quais destaco os que são por mim citados no meu artigo (escrito em 2016 e ainda não publicados em revistas e jornais, mas que são referidos em publicações. Este meu artigo foi atualizado e coloco aqui para conhecimento de tosos. Diagnóstico sobre os Recursos Hídricos do Rio Verde Grande
11/11/2021
O Rio Verde Grande nasce nas encostas setentrionais da Serra Geral, ainda no Estado de Minas Gerais. Tem a embasá-lo, em suas cabeceiras, a Formação Três Marias e, no resto de seu percurso até a foz com o Rio São Francisco, o Grupo Bambuí. As duas sequências litológicas citada formam aquíferos, integrantes do denominado “Sistema Aquífero São Francisco” (Albuquerque, 2013, Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos da ABRH, Bento Gonçalves/RS). Estes aquíferos, contidos em litologias pouco permeáveis são classificados como fracos em termos de produção de escoamento de base, sendo que, no caso do Bambuí, há uma heterogeneidade e uma anisotropia muito grande, com o armazenamento e o escoamento variando espacial e temporariamente.
No caso das águas subterrâneas, no aquífero Bambuí, segundo a Assessoria de Comunicação do CBHSF, existem 21.430 poços cadastrados, o que, segundo este órgão, é um número bem modesto em relação ao número de poços em efetivo funcionamento. Não foi dito o total da vazão explorada por tais poços. Mas, qualquer que seja ele, significa que o escoamento fluvial do rio está sendo reduzido, mesmo sem se considerar que existam barragens superficiais erigidas na bacia dos rios que correm tendo por substrato o aquífero Bambuí, caso do rio Verde Grande. Aliás, isto tem ocorrido desde, pelo menos, o ano de 2003, segundo registro feito pela Ana, conforme mostra a fotografia a seguir:
Fonte : Caderno da Região Hidrográfica do São Francisco, Brasília, 2006, p. 100.
A razão, sem dúvida, é a exploração excessiva de água subterrânea do aquífero Bambuí adjacente e subjacente ao rio, responsável por sua vazão de base que, no período de estio, tornava o rio perene, agora apresentando vazão nula, devido ao rebaixamento excessivo do nível ou superfície freática do aquífero Bambuí. A figura a seguir, também não deixa dúvidas em relação a este diagnóstico.
Fonte : Fonte: Disponibilidades e demandas de Recursos Hídricos no Brasil, ANA. 2005. Brasília/DF; p. 89.
Por esta figura, a vazão média anual varia de zero na nascente a cerca de 40 m3/s na foz. A vazão de base corresponde à chamada Q95 (vazão igualada ou correspondente à 95% do tempo de escoamento do rio), tomada pela ANA, equivocadamente, como o limite de disponibilidade superficial da bacia em sua foz (na realidade, a água superficial é a correspondente ao escoamento superficial direto, imediatamente ocorrente com as chuvas precipitadas na bacia hidrográfica, dado pela diferença entre o fluxo médio e a descarga de base), pela figura, algo como 1,5 m3/s, no máximo, 2 m3/s. Comparada esta disponibilidade com a retirada de água, observa-se que esta é muito superior à vazão de base, induzida por rebaixamento deste nível do aquífero que se projeta sobre o leito do rio, do que resulta a alteração do regime hidrológico natural do rio, o perene par o efêmero. Não deve ser outra a razão porque estão construindo reservatórios superficiais no leito do Rio Verde Grande, tornado efêmero ou, na melhor das hipóteses, intermitente.
Este rio desemboca no São Francisco, antes do reservatório de Sobradinho. Como tal, sua vazão média participa da vazão média do rio São Francisco em Sobradinho que é, segundo a média histórica de 1931 - 2001, 2706 m3/s (Freitas & Gondim Filho, 2004. VII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, São Luís/MA), técnicos da ANA.
Esta é, como vemos na fotografia tirada no dia 23 de Outubro próximo passado a repetição da situação diagnosticada no período seco do ano de 2.003.
. Portanto, retirar, seja por que meio for, vazão do Verde Grande, tem reflexos na vazão que serviu de base para o projeto de construção da barragem de Sobradinho. Isso acontece com todos os rios que têm sua foz antes deste reservatório, como o Corrente, o Arrojado, o Grande e outros que drenam os demais aquíferos, inclusive o mais produtivo de escoamento de base que é o aquífero Urucuia.
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque – Hidrogeólogo, Consultor e Professor Aposentado pela Universidade Federal de Campina Grande