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POLUIÇÃO DEGRADA O RIO SÃO FRANCISCO
SERTÃO // Indústrias, carvoarias e principalmente os esgotos domésticos contribuem para a redução da quantidade e qualidade do pescado
http://www.sbpcpe.org/index.php?pagina=noticia#02518
Diário de Pernambuco
23.11.2006
Quem tem o privilégio de cruzar a Ponte Presidente Dutra, entre as cidades de Petrolina (em Pernambuco) e Juazeiro (na Bahia) e admirar a beleza do Rio São Francisco, nem imagina o quanto ele está sofrendo. Depois de nascer na Serra da Canastra, em Minas Gerais, a 1,2 mil metros de altitude, e antes de desaguar no Oceano Atlântico, a quase 3 mil quilômetros de distância, na Praia de Peba, em Alagoas, o velho Chico recebe uma carga imensurável de poluição. Segundo dados do Conselho Pastoral dos Pescadores, ligado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), somente na região do Submédio - onde estão situados municípios como Juazeiro e Paulo Afonso (BA) e Petrolina, Ouricurí e Serra Talhada (PE) - e Baixo São Francisco - entre os estados de Alagoas e Sergipe - doze mil pescadores estão sendo prejudicados com a redução na quantidade e qualidade do pescado.
"Pelo menos 8 mil índios que vivem entre os municípios de Petrolândia e Tacaratu, no Sertão, e dependem da pesca para sobreviver também sofrem com a poluição que está acabando com os peixes", relata a coordenadora do conselho, Alzeni Tomaz. Esses índios, que representam cerca de 12 povos, estão se afastando cada vez mais da beira do rio e comprometendo sua fonte principal de alimento. O processo de degradação do São Francisco é acelerado também, segundo a coordenadora, com o surgimento de carvoarias, mineradoras, a construção de novas barragens e, sobretudo, com o crescente despejo de esgotos domésticos das cidades e povoados que são cortados pelo rio.
Um exemplo da poluição causada pelos esgotos sanitários pode ser visto na área urbana de Petrolina, cidade do Sertão, com 385 mil habitantes. De acordo com a Assessoria de Planejamento e Meio Ambiente da prefeitura, nas últimas amostras de água recolhidas na parte do rio que passa perto do centro, foram detectados 16 mil coliformes fecais por 100 ml de água. O aceitável, segundo o ambientalista Vitório Rodrigues, responsável pelo controle da balneabilidade da água, seria a presença de apenas mil coliformes por cada 100 ml. "A coleta das amostras é feita a cada quinze dias em sete pontos do rio, em uma extensão de 105 quilômetros", explicou Rodrigues. O material é analisado na Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), no Recife.
Para tentar reduzir a poluição, a Prefeitura de Petrolina está construindo um sistema de lagoas de estabilização, onde os esgotos são tratados antes de serem despejados no rio. Onze lagoas já existem. Mediante convênio com o Ministério da Integração Nacional, através da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), R$ 6 milhões, do total de mais de R$ 9 milhões, solicitados para um novo sistema já foram investidos. "Quando ficar pronta, no primeiro semestre de 2007, a nova estação vai tratar o equivalente a 300 litros de esgoto por segundo", adiantou o presidente da Agência Reguladora de Águas de Petrolina, Rubem Franca.
Enquanto não acontece a despoluição, os pescadores sofrem com a quase ausência de peixes. "É triste ver o rio, onde meu pai e meu avô pescaram, se acabar desse jeito", reclamou José Ramires, 47. Seu colega, Fernando Santos, 39, desistiu do ofício e virou vendedor.