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Pesquisa emergencial da Fundação Joaquim Nabuco: Monitoramento Geoespacial do risco de contaminação do Rio São Francisco pós-Brumadinho
Dados preliminares retirados do relatório final da pesquisa
Neison Freire - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e Coordenador da pesquisa - 04/06/2019
Logo após o desastre tecnoindustrial do rompimento da Barragem de Rejeitos de Mineração do Córrego do Feijão na área rural de Brumadinho-MG ocorrida em 25/01/2019, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do seu Centro Integrado de Estudo Georreferennciados (CIEG) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) reuniu esforços de pesquisa em caráter emergencial no sentido de mapear o deslocamento da pluma de contaminação do solo e da água em Brumadinho, no rio Paraopeba e na Represa de Três Marias e os possíveis impactos e desdobramentos para o rio São Francisco.
Para tanto, foram empregadas diversas geotecnologias na área de Sensoriamento Remoto por satélite. Séries temporais de imagens brutas dos satélites CBERS-4 (brasileiro), Sentinel 2 (francês) e LandSAT OLI 8 (norte-americano) foram baixadas do site do United States Geologial Survey (USGS) para os microcomputadores do Laboratório de Cartografia do CIEG, onde foram processadas, corrigidas e analisadas com a utilização de diversas técnicas amplamente consolidadas em literatura específica de Processamento Digital de Imagem e Análise Espacial (Jensen, 2009; XX, 2019; Barbosa et al., 2019). Algoritmos de álgebra espacial foram criados especificamente para a pesquisa com base da literatura consolidada sobre Sensoriamento Remoto de Sistemas Aquáticos e estão disponíveis para a comunidade acadêmica. Análises econômicas também foram realizadas pelo Núcleo de Estudos em Estatísticas Sociais (NEES) do CIEG/Fundaj.
Desastre ocorreu na BHSF e chegou ao rio Paraopeba onde se diluiu e se propagou na correnteza até a Represa de Três Marias
A pesquisa está baseada em Sensoriamento Remoto por sensores orbitais ópticos, sendo subdividido em dois temas ligados aos paradigmas tecnológicos aqui empregados: o Multiespectral e a Reflectância de Superfície dos materiais - ambos utilizam parâmetros físicos associados à energia eletromagnética refletida pelos alvos da superfície terrestre após diversas interações com a irradiância solar e a atmosfera planetária. As imagens satelitais nesse contexto registram por meio de sensores orbitais porções específicas do espectro eletromagnético, que abrangem áreas do visível e do infravermelho próximo, sendo disponibilizadas em sites específicos, algumas para livre acesso à comunidade acadêmica. Para detecção do avanço da contaminação de rejeitos de mineração por aumento da turbidez no rio Paraopeba em direção À Represa de três Marias foi utilizada a razão entre bandas normalizadas da Reflectância de Superfície em Corpos Hídricos Superficiais Continentais através de Sensores Ópticos Orbitais, resultando em imagens processadas em softwares específicos instalados nos computadores do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (CIEG) da Fundaj em Apipucos, Recife.
Coleta de amostras de energia reflectância de superfície no local do desastre: lama, rio Paraopeba limpo e rio Paraopeba contaminado para análise.
Propagação da contaminação (áreas na cor vermelha) na Represa de Retiro Baixo e chegada à Represa de Três Marias em 02/04/2019.
Conclusões preliminares
- •Estima-se que após 46 dias do desastre de Brumadinho a contaminação chegou à Represa de Três Marias no dia 12 de março de 2019 pelo processo de advecção (transporte de material particulado e dissolvido causado pelo movimento direcional da água) através do rio Paraopeba e daí está se diluindo (processos simultâneos de convecção e difusão molecular) no lago e seguindo para o Rio São Francisco.
- •Imagem de satélite de 02 de abril mostra a difusão do material particulado da lama de rejeitos com o aumento da TURBIDEZ na margem direita da Represa de Três Marias, após a foz do rio Paraopeba.
Recomendações urgentes
- •Retirada imediata da lama de rejeitos em Brumadinho com a descontaminação do local e deposição em local seguro e adequado dos rejeitos (cavas de outras mineração), com a fiscalização de universidades;
- •Criação de um fundo pela empresa para apoio às pesquisas continuadas sobre os impactos gerados pelo desastre;
- •Adensamento do sistema de monitoramento da qualidade da água do Rio São Francisco (inclusive quanto a metais pesados) em diversos pontos do rio com a participação das instituições públicas, universidades e representação da sociedade civil organizada (pescadores artesanais, indígenas, comunidades ribeirinhas, etc) garantindo acesso e transparência para a sociedade e os agentes econômicos;
- •Elaborar plano alternativos para aqueles municípios que captam água para consumo humano com estudos de viabilidade técnica para perfuração de poços profundos e conexão à rede de distribuição de água potável nas cidades;
- •Continuação do monitoramentogeoespacial com novas tecnologias da fronteira do conhecimento em Sensoriamento Remoto, elaborando estratégias de contenção e enfrentamento à continuidade do fluxo contaminante do desastre de Brumadinho no rio São Francisco.
- •Precisamos salvar o Rio São Francisco desse desastre!
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
A prova mais do que clara de que os rejeitos alcançaram a represa de Três Marias. A tecnologia utilizada pelos pesquisadores da Fundaj é reconhecida e aceita internacionalmente.
Sobre o assunto
A pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) repercute em todo o Vale do Rio São Francisco
http://www.suassuna.net.br/2019/06/a-pesquisa-da-fundacao-joaquim.html