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CULPA DO RIO
Publicado em
13/11/2018 00h00
Atualizado em
09/11/2021 08h29
06/11/2018
Ah! Essa verte poética é culpa dele, do Rio São Francisco, não consigo me desligar, cortar o cordão umbilical que nos une.
A mãe d`água, nego d`agua, a serpente da ilha, a mulher com a rapadura na cabeça, a carranca... tudo isso povoa meu imaginário desde criança.
Sou o produto desse generoso rio, não tenho como negar, são imagens de pontes, trem, enchentes, cais, pescadores, lavadeiras, nadadores, barcos, caiaques, caris, piais, surubins, tudo, tudo tem o rio como referencial.
Irrigação jorrando água, frutos e vida. É ele generosamente nos presenteando.
Essa verte poética é culpa do rio, do Rio São Francisco. É uma relação mágica, forte, às vezes acho doentio de ficar admirando-o, paquerando-o, namorando-o.
Essa inquietude de te ver tão fragilizado e doente me causa náuseas. É como estivessem sugando também o meu sangue e estão, pois nunca consegui cortar o cordão umbilical que nos une.
Essa revolta de te ver sendo poluído a céu aberto, de ver seus lençóis freáticos sendo contaminado por veneno e agrotóxico das irrigações, ver tanta sujeira e detritos sendo depositados no seu leito, suas margens desfloradas, tudo isso também me mata.
Essa dor em ti aflora em mim. Sim! Essa dor de te ver seco, poluído, depredado, desrespeitado, degradado, mirado, sem vida, sem graça, distante das margens que sempre te vi.
Edi Santana Barbosa