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Cada vez mais seco, cenário de areia no leito do Rio São Francisco preocupa ribeirinhos da região de Bom Jesus da Lapa
Publicado em
14/08/2018 00h00
Atualizado em
09/11/2021 09h53
21/07/2018
Considerado como um dos quatro maiores rios da América do Sul, o São Francisco passa por cinco estados e 521 municípios, representando riqueza e beleza por onde passa. Apesar disso, o rio é hoje um patrimônio ameaçado.
Em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, uma das principais cidades banhadas pelo Velho Chico, o cenário de beleza em alguns pontos contrasta com os bancos de areia cada vez maiores, e no meio do rio a água cada vez mais longe da margem. O que faz com o que os moradores ribeirinhos da região de Bom Jesus da Lapa fiquem, literalmente, assustados com a situação, e afirmem que o cenário está pior que o mesmo período do ano passado.
Sempre acompanhando a situação do rio Rio São Francisco na região de Bom Jesus da Lapa, o site Notícias da Lapa, fez mais um flagrante da agonia do Velho Chico. Em visita à vários pontos próximos a Barrinha, a equipe conversou com pessoas que pescam e moram nas margens do rio há muitos anos. Por onde passamos, percebemos cada vez mais que, diante do cenário encontrado, o rio pode está passando por mais um momento difícil, provavelmente um dos piores, considerando a falta de chuva, as degradações na sua nascente, nas margens, nos seus afluentes na região do cerrado, e as ações das barragens, que influenciam no seu nível constantemente.
As pessoas que convivem há mais de 30 anos diariamente com o São Francisco estão preocupadas, e dizem e o momento é de muita tristeza. “Olha alí, aquele local não era assim, nessa parte da Barrinha, nunca tínhamos vistos esses buracos aí, próximo ao barranco. Sabemos que essa área, ela aumentou, vindo da parte de cima, só que percebemos outras mudanças. Não da para justificar essa fundura, e o rio estando tão estreito como anda agora. Nós paramos de pescar a noite, não tem como navegar nesse rio sem ver nada, porque tem lugar que não passa mais, pior que o ano passado”, disse o senhor Luiz, de 64 anos, que pesca desde os 16 anos de idade.
Ele alerta que é preciso preocupar com a situação. “Olha, a gente vê todo mundo calado, e quando algum órgão do governo diz uma coisa, ou um movimento social, chega um outro e diz que não é nada, que é normal. Não é normal, a gente vive aqui, convive com esse rio, e sabe melhor que ninguém que ele precisa de ajuda, e está morrendo aos poucos por falta de cuidado. A gente vê esse povo falar muito. Dizem que se preocupam com o meio ambiente, principalmente aí para cima, só que nada, só pensam em tirar água, não planta um palmo de arvore, e escondem as coisas erradas, o uso de veneno e a grande retirada de água. Eu vejo o povo contar as coisas, como se esse rio só dependesse de uma nascente, esquecem que a água só corre nele ainda, com essa quantidade, por causa dos pequenos rios que desaguam nele, e essas pequenas fontes estão sendo esquecidas pelos governos e pelos ‘grandes’ que só pensam em lucrar com as nossas águas”, desabafou.
Já Leila, moradora da Barrinha, ela lembra que é normal o rio ficar baixo nesse período, especialmente no mês de outubro, só que esse ano, o rio baixou o nível mais cedo. E destaca que não lembra de nenhum momento que os barqueiros precisaram fazer uma ponte próximo ao barranco na Barrinha para os turistas irem para um banco de areia, e pegar as embarcações em outro local, por não pode ancorar mais próximo ao barranco.
Conforme Dona Maria Alice Alves, que é responsável pelas leituras para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), em Sobradinho, a situação do rio é “triste”, que está pior que o ano passado, no mesmo período. Esse ano ele chegou subir a quatro metro, cinco metro, agora está em dois, para a gente não dizer que está em um, que seria no seco. O normal desse rio é três, é quatro metros, e da forma que ele se encontra hoje, está bem foram do normal”, destacou.