Notícias
As empresas de saneamento precisam “olhar para fora”
Glauco Requião
08/05/2019
Córrego na Região Metropolitana de Curitiba. Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Recente matéria divulgada pela Agência Pública, uma organização criada com foco no jornalismo investigativo, apavorou a população paranaense e brasileira. A reportagem informa que um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Dentre os pesticidas encontrados na água, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas. Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye.
Tais informações fazem parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento. Segundo a reportagem, os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos, já em 2015 o índice subiu para 84%. Em 2016, chegou em 88%, saltando para 92% em 2017.
Do outro lado, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) emitiu nota em que garante a qualidade da água que distribui à população, afirmando que segue rigorosamente a legislação brasileira que determina os parâmetros da potabilidade da água para abastecimento público. Informa ainda que não foi detectada presença de agrotóxicos em nenhuma análise realizada pela empresa acima do Valor Máximo Permitido (VMP) pela Portaria de Consolidação 5, anexo XX, do Ministério da Saúde, conforme histórico disponibilizado a este Ministério.
Pensar para fora significa investir em ações efetivas e eficazes que tenham relação direta com a qualidade de nossos rios e matas.
A Companhia de Saneamento do Paraná também refuta as matérias veiculadas na mídia, argumentando que utilizaram dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) de forma incompleta. Isso porque no momento de registrar os resultados de suas análises não há no cadastro do Sisagua a opção de informar a não detecção do princípio ativo do composto e o Sistema de Informação aceita apenas o registro como “no limite” em vez de “ausente”. Assim sendo, segundo a Sanepar fica registrada a presença de agrotóxico na água, mesmo que não tenha sido detectada, distorcendo a informação.
Por fim, a Sanepar relata que quatro laboratórios da companhia realizam semestralmente análises de agrotóxicos de todas as localidades atendidas pela empresa, conforme determina a legislação do Ministério da Saúde. Nessas análises são investigados 27 tipos de agrotóxicos e, em todos os testes, os resultados ficam abaixo dos limites permitidos. Ou seja, não foi detectada a presença de agrotóxicos na água distribuída para a população.
Leia também: Planejar para sanear (editorial de 6 de abril de 2019)
Leia também: A derrota do saneamento (editorial de 14 de julho de 2014)