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A certeza da contaminação do Rio São Francisco pelos rejeitos oriundos da tragédia da Vale, em Brumadinho (MG)
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
No endereço abaixo, vídeo mostrando a represa de Três Marias com suas comportas abertas e uma vazão expressiva para o Velho Chico
18/03/2020
O programa Opinião Pernambuco, da TV Universitária, de 3 de abril de 2019, discutiu sobre os rejeitos que chegaram na calha do Rio São Francisco, oriundos de Brumadinho, após a Tragédia da Vale.
Os efeitos ambientais e socioeconômicos que o acidente trouxe para toda a região da sua bacia hidrográfica foram discutidos nesse programa, com dados advindos de pesquisa de campo realizada pela Fundação Joaquim Nabuco, reunidos após prévia discussão em evento na Instituição.
Participei de ambos os debates, com a preocupação maior na contaminação do ambiente natural da bacia do rio, com os rejeitos oriundos de Brumadinho, principalmente os que contaminaram a represa de Três Marias, à época com cerca de 80% de sua capacidade.
Notem que na discussão do programa da TVU, havia colocado as contaminações no Velho Chico, como meras possibilidades. Com a intensa quadra chuvosa que se abateu sobre São Francisco no ano de 2020, provocando uma monumental enchente no rio e, consequentemente, a necessidade da abertura das comportas de Três Marias, a situação de contaminação do rio, que antes eu tratava como de mera possibilidade, agora passou a existir de fato.
Portanto, cabe as autoridades responsáveis pelo setor hídrico nacional, começarem a se preocupar com as certezas dessa contaminação, principalmente após a expressiva defluência havida em Três Marias, para o São Francisco, cujas aberturas de suas comportas proporcionaram, no rio, uma vazão expressiva de cerca de 2.000 m³/s durante 16 dias.
COMENTÁRIOS
Neison Freire – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Caro João Suassuna,
Considero suas observações totalmente pertinentes. Furnas acionou recentemente o vertedouro da UHE de Três Marias, em Minas Gerais, algo que não fazia desde 2003, conforme constatei em pesquisa no local quando da pesquisa sobre o Desastre Pós-Brumadinho em maio do ano passado. O lago está praticamente em sua cota máxima de segurança.
Há uma possibilidade de detectar essa movimentação de rejeitos decantados no lago de Três Marias após o barramento da UHE com as recentes chuvas intensas no Alto São Francisco a partir de dados de sensoriamento remoto. Estudos sobre alterações na turbidez da água foram conduzidos com bastante sucesso no Cieg e recentemente artigos foram aceitos para publicação em revistas científicas, além de convite para apresentar nossa experiência numa mesa redonda no XIV Congresso da Sociedade Internacional de Fotogrametria e Sensoriamento Remoto que (ainda) está previsto para se realizar em junho, na cidade de Nice, França .
Tenho mantido contato com um pesquisador da França, prof. Jean Michel Martinez, um especialista em sensoriamento remoto da água e com estudos na bacia do Amazonas, a colaborar conosco no âmbito de uma possível linha pesquisa da Fundaj que chamamos Geodesastres. Tinha marcado uma reunião com ele durante o referido congresso internacional em Nice, mas agora não sabemos como ficará a realização do evento, devido à pandemia do coronavírus. Vamos aguardar...
Abraço,
Neison