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DIRETRIZES PARA A AGROPECUÁRIA DE SEQUEIRO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
Publicado em
29/08/2018 00h00
Atualizado em
16/11/2021 10h37
Carta de diretrizes para a agropecuária de sequeiro no Nordeste, entregue a várias instituições durante o Dia D
O Nordeste é seco. O inverno é um pequeno intervalo de tempo entre dois estios, que, às vezes, se emendam. A grande vocação das terras secas é Pecuária DESDE A Manjedoura de Belém no Cariri de Nazaré. Por mais óbvia que seja, quase sempre, é preciso repetir uma mesma ideia até cansar. Há uma dramática não decisão em relação à seca do NE. Precisamos, urgentemente e concretamente, conferir dimensão política ao processo de estabelecer um caminho para o NE peculiarizado pelo seu ambiente fisiográfico e humano.
As iniciativas para o semiárido vieram sempre de lá – DO GOVERNO FEDERAL e nenhum governante local incluiu, até hoje, nos seus planos de mandato, se ocupar verdadeiramente com as Secas, apesar da assiduidade com que ocorrem, sendo, até previsíveis. Ainda não resolveram o problema de água para beber, o uso primordial e sem sucedâneo que água tem, e que é de solução sabida e acessível. Ao lado disso, relegam os rebanhos à inanição progressiva, robustecendo um equívoco secular de usar – e financiar – a água só para plantações.
Especialistas, considerando solo e água, estimam que o uso da terra do semiárido esteja na proporção de:
Área irrigável - 1,5%
Lavoura de sequeiro - 4, 8%
Caatinga (Pecuária) - 93, 7%
Precisamos descruzar os braços diante das diretrizes equivocadas de financiamento, da ausência de políticas públicas que contemplem esse pedaço gigante de chão com suas potencialidades. O semiárido brasileiro é um território de quase 100 milhões de hectares, ( Mais de quatorze países europeus) que abriga um contingente de 20 milhões de bons teimosos, fatalistas, a quem tem restado espreitar milagres da natureza para sobreviver, e uma resignação de tal tamanho, que sua confiança fica restrita aos desígnios de Deus.
Desde o declínio da cultura algodoeira, a economia do semiárido tem resistido quase exclusivamente com a pecuária. Particularmente, aqui na Carnaúba, já mostramos que a pecuária bem manejada, englobando desde a produção de forragens adaptadas, que chamamos agricultura de suporte à pecuária com as lavouras xerófilas , capins de regiões semiáridas como as variedades de Buffel e dezenas de forrageiras nativas , até o beneficiamento do leite (a produção do queijo), emprega permanentemente um número significativo de sertanejos.
Faz-se necessário, urgentemente, disponibilizar créditos específicos, incentivos fiscais, com níveis de juros diferenciados, vinculados à assistência técnica permanente, adaptados aos longos períodos de estiagem, para maior fortalecimento do setor produtivo rural e melhor qualidade de vida para as populações.
Não se deve mais insistir em decalcar modelos estranhos à nossa realidade. Há que se promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a integração dos polos socioeconômicos e ecossistemas estratégicos, no intuito de fortalecer o desenvolvimento real do semiárido voltado para a natural vocação da terra semiárida viabilizada em todo o mundo, que é a pecuária de bovinos, caprinos e ovinos através de raças apropriadas e pequenas criações complementares, como avicultura, meliponicultura e criação de suínos para restolhos.
Propõe-se, aqui, agora, uma nova forma de ação, através da formação de um GRUPO GESTOR PARA O SEMIÁRIDO, onde cada um assumirá o papel de segurar o bastão na sua área e trabalhar no grupo de pressão, para dar a dimensão e viabilizar as potencialidades do SERTÃO DAS SECAS, imensa maioria territorial do nosso Nordeste. O semiárido nordestino é carente de muitas coisas, mas, principalmente, de que se trate a questão da seca permanentemente e com os sertanejos assumindo as suas questões peculiares, com a paixão e o conhecimento que só eles adquiriram convivendo com o SEQUEIRO. Chegou nossa hora. Chegou nossa vez.
AÇÕES 2018/2019
PESQUISA
As pesquisas encontradas/feitas/publicadas sobre a região semiárida brasileira, pouco respeitam os domínios físicos (estrutura geológica, relevo, clima, hidrografia), o meio biológico (vegetação e fauna) e a economia vocacional desde sua formação, que é a pecuária. Os técnicos da assistência rural tentam convencer as gentes do sequeiro, de que o melhor é “lutar contra a seca” copiando modelos alheios a estes fatores e convencendo as indiferentes agências financiadoras que melhor é importar animais, tecnologias e alimentos inversos à nossa realidade.
A pecuária de sequeiro deve ser o “norte” de todas as ações de pesquisas praticadas no semiárido e a produção de forragens deve ter destaque especial: capins buffel, palma forrageira e as forrageiras nativas. Para tanto, cabe preparar um plano de ação imediata de pesquisas focando no seguinte:
1. Sugerir às instituições de pesquisa incorporar às linhas de trabalho: o melhoramento genético das forrageiras adaptadas, nutrição de plantas; técnicas de estocagem, balanceamento das forragens (evitando uso de insumos não produzidos nas fazendas);
2. Desenvolvimento de máquinas para mecanização da pequena e média propriedade, com ênfase na palma forrageira, na fenação e na ensilagem. – do plantio à distribuição nos cochos;
3. Identificar as potencialidades das forrageiras nativas e dominar o cultivo, tratamentos e usos das mesmas;
4. Linhas de pesquisa dos derivados da pecuária (carne, leite, couro e derivados destes) que possamos agregar valor e ampliar a produção;
5. Desenvolver procedimentos para viabilizar a produção de carmim nas áreas já afetadas pela cochonilha. Esse foi, aliás, o grande objetivo da introdução regional da palma (Delmiro Gouveia e os Lundgreus), no século 19, para suas tecelagens industriais;
6. Fomentar a criação de canais de comercialização e acesso a mercados, dos derivados desta pecuária.
JURÍDICAS
Precisamos pensar uma legislação que atenda e seja adaptada à seca (conjuntamente com financiamentos rurais, regras e permanentes), englobado como fato natural, bem como legislações que reconheçam os produtos pecuários, legitimando a produção do sequeiro.
1. Legislação de reconhecimento dos queijos artesanais a nível Estadual para regulamentação da lei de comercialização dos produtos alimentares artesanais;
2. Legislação que contemple abatedouros de pequeno porte (10 a 20 animais/dia – caprinos e ovinos) com plantas simplificadas e adaptadas – a exemplo das pequenas queijeiras – viabilizando o processamento nas próprias fazendas utilizando a mão de obra existente;
3. Legislação de reconhecimento potencial da abelha nativa e seus produtos.
ECONÔMICAS
Não se pode continuar com paliativos “improvisados” quando a seca maior ocorre, pois, o crédito chega atrasado e o rebanho já foi perdido. Precisa-se urgente de Ações concretas e específicas, pois que os produtores do semiárido nordestino são submetidos às mesmas regras do crédito rural convencional, uniformemente, para o Brasil todo, que é um “continente” diferenciado.
A burocracia, os juros exorbitantes, as exigências de garantias extravagantes, as taxas sufocantes, associadas à total falta de assistência técnica, fazem do Crédito Rural o principal vilão do produtor do semiárido. É uma questão de especulação financeira.
1. FINOR – revisão de todos os contratos – incluir o FINOR na renegociação da lei do FNE; resolver pendencias de obrigações junto a CVM e acordos convencionais e não convencionais em debentures;
2. Cotas de compras de leite – revisão do Programa Mais Alimentos – sugestão 250 l/dia vaca; 150 cabras l/dia – malha de captação via programa federal;
3. Crédito específico para a zona semiárida.
4. Crédito imediato pós-decretação de seca, de acordo com o perfil do cadastro do produtor, de caráter emergencial e pronta liberação.
5. Regulamentar, financiar e tornar acessível, a produção de energias renováveis, não só para uso próprio, mas também para comercialização, permitindo as propriedades do semiárido que tem 3000 horas de sol/ano, terem essa fonte significativa de renda, a mais.
CULTURAIS
1. Envolver profissionais da área da saúde (médicos, nutrólogos e veterinários) – assim como fizeram os cozinheiros – a fim de que, estudem e divulguem o semiárido e seus produtos de excelência, esclarecendo a necessidade do resgate cultural fundamentado em questões técnicas (como o valor nutricional, sabor, por exemplo) com intenção de fortalecer e ampliar o mercado, introduzir o consumidor urbano de forma ampla em nosso sistema de produção;
2. Estimular que as exposições agropecuárias dos estados nordestinos tenham de fato o produtor rural e suas reais necessidades como foco dos eventos além da promoção e valorização da cultura sertaneja.
Acreditamos e assumimos os compromissos em defesa das diretrizes em prol do semiárido. Abaixo, assinamos:
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FAZENDA CARNAÚBA – TAPEROÁ, PB
CEP: 58680 – 000
Fones: (83) 98878 3343 / 98795 1857
28/08/2018