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Seca já atinge praticamente todos os municípios do Estado do Ceará
Publicado em
27/07/2018 11h27
Atualizado em
18/11/2021 09h32
Letras Ambientais
Especial para o blog Gestão Ambiental
23/07/2018
A seca já ocorre em praticamente todo o
Ceará
. É o que mostra o atual mapa da
cobertura vegetal
do Estado, obtido por meio de monitoramento por satélite, realizado pelo
Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis)
, da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
.
Pela imagem de satélite abaixo, é possível observar que na maioria dos municípios do Ceará, as áreas em vermelho indicam a ocorrência de seca grave; enquanto, em amarelo, sinalizam para a condição de seca moderada.
Apenas em alguns municípios do norte e do noroeste do Estado, a vegetação está verde, ou seja, as condições climáticas continuam favoráveis e a seca ainda não atingiu a vegetação.
O mapa mostra a rápida mudança ocorrida na vegetação do Ceará para a condição de seca.
Mapa da vegetação do Ceará mostra avanço da seca na maioria dos municípios Imagem: Lapis
No período de fevereiro a maio deste ano, o Estado registrou um expressivo volume de chuvas. A Caatinga alcançou um alto nível de recuperação, de modo que, em maio, o Ceará foi considerado o Estado que ficou mais verde no Semiárido brasileiro, como mostrado no mapa abaixo:
Mapa da vegetação do Ceará mostrou Caatinga completamente recuperada em maio de 2018, após as chuvas Imagem: Lapis
O atual avanço da seca ocorre porque o período da estação chuvosa no Semiárido brasileiro foi encerrado no último mês de maio. A tendência de falta de chuvas, perda na umidade dos solos e ressecamento da vegetação da Caatinga avança em toda a região, como mostra a imagem a seguir.
Avanço da seca no Semiárido brasileiro Imagem: Lapis
O mapa acima mostra que a seca já atinge quase todos os municípios do
Semiárido
brasileiro, com exceção das áreas de Zona da Mata, na Costa Leste do Nordeste, onde a vegetação está verde e ocorre, no período de abril e julho, a estação chuvosa.
Gestão das secas nos municípios
Uma pesquisa divulgada no dia 5 de julho, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
, sobre o
Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic)
, mostrou que, no período de 2013 a 2016, em praticamente metade dos 5.570 municípios do País (48,6%) ocorreu algum evento de seca, totalizando 2.706 municípios a registrarem esses eventos climáticos.
O estudo mostra que a maioria dos municípios afetados pela seca no Brasil (59,4%) não conta com um instrumento orientado à prevenção de desastres naturais e apenas 14,7% tem um plano específico de contingência e/ou de prevenção à seca.
A região Nordeste, conhecida pelas secas frequentes, intensas e com profundos impactos socioeconômicos, apresentou a maior proporção de municípios afetados por esta tipologia de
desastre natural
(82,6%).
No período de 2013 a 2016, o Ceará foi o Estado do Nordeste a registrar maiores proporções de municípios atingidos pela seca (97,8%), seguido pelo Piauí (93,8%), Paraíba (91,9%) e Rio Grande do Norte (91,0%).
Ainda de acordo com o estudo, nos anos de seca, 89,3% dos municípios brasileiros informaram terem sofrido perda ou redução da produção agrícola, enquanto 81,3% declararam terem tido prejuízos financeiros.
Segundo um Relatório do
Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil (Ceped)
, no período de 1995-2014, o total de danos materiais e prejuízos (públicos e privados) causados por desastres naturais derivados de eventos climáticos no Brasil foram estimados em R$ 100 bilhões. Deste total, cerca de 75% estão diretamente vinculados às estiagens e secas a afetarem frequentemente o Nordeste e as demais regiões do Brasil.
No Nordeste, o valor total de danos e prejuízos públicos e privados, derivados de eventos climáticos, foi cerca de R$ 47 bilhões, no período 1995-2014. O valor inclui o total de prejuízos privados na agricultura, pecuária, indústria e serviços.
O Estado do Ceará ocupa o segundo lugar (22%) como um dos mais impactados e submetidos a maiores prejuízos na região, ficando atrás somente da Bahia (28,8%).
Para mais informações, leia o artigo “Quanto custam as secas ao Brasil”: www.letrasambientais.com.br/posts/quanto-custam-as-secas-ao-brasil
Capacidade institucional
As ações mais comuns adotadas pelos municípios atingidos pela seca no Brasil, para evitar ou minimizar os danos causados pelo evento climático, são de caráter emergencial: a construção de poços (59,5%) e a distribuição regular de água, por meio de carros-pipa (58,1%).
A pesquisa chama atenção para a falta de capacidade institucional dos municípios brasileiros para lidarem com o constante risco de ocorrência de secas. O panorama é crítico para os estados do Semiárido, incluindo o Ceará, com forte potencial para a ocorrência de seca, que pode tomar proporção de desastre natural, em um cenário socioeconômico e ambiental vulnerável.
Os prejuízos decorrentes das secas podem ser minimizados, desde que se disponham de informações seguras, e em tempo hábil, para que seja feito um planejamento adequado, evitando que esses fenômenos climáticos tomem proporção de desastres naturais e aumentem a vulnerabilidade da população, dos governos e dos setores econômicos.
Com relação às previsões climáticas para o próximo ano, no Semiárido brasileiro, os especialistas ainda não definiram quanto à ocorrência de
El Niño
ou
La Niña
, principais sistemas meteorológicos a influenciarem as condições climáticas na região. O Oceano Pacífico continua em condição de neutralidade e, somente em setembro deste ano, será feita uma previsão para a região.
Mais informações:
Lapis – www.lapismet.com.br
Letras Ambientais – www.letrasambientais.com.br