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No Piauí, seis açudes estão com nível crítico, abaixo de 30% da sua capacidade
Publicado em
23/08/2018 09h44
Atualizado em
19/11/2021 09h26
Portal G Notícias
20/08/2018
Historicamente, o Piauí enfrenta problemas com a seca. Por ser um estado localizado na região do semiárido brasileiro, os índices pluviométricos são baixos. Esse tipo de reservatório começou a ser construído como forma de combate à seca, de modo a minimizar seus prejuízos. No Piauí, há 25 reservatórios administrados pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e monitorados pela Agência Nacional de Águas. Segundo dados do Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR), dos 25 reservatórios, seis estão com volume abaixo de 30% e apenas dois com volume acima de 90%.
Um dos reservatórios com nível baixo, em estado crítico, é o açude Joana, em Pedro II. Segundo o sistema de monitoramento, o nível é de apenas 9.51%. José Fernando mora há 18 anos às margens do açude Joana, em Pedro II, e conta que chegou a fechar seu restaurante por causa da seca do açude, há alguns anos. Ele participou da construção da represa, onde trabalhou como operador de máquinas.
Além do açude Joana, outros reservatórios têm níveis baixos: Estreito, no município de Padre Marcos, tem 12,46% da sua capacidade no momento; Barreiras, em Fronteiras, está com apenas 1,87% da capacidade; em Cajazeiras, em Pio IX, o volume é de 2,64%; Piaus, em São Julião, conta com 14,87% do total e o açude Petrônio Portela, em São Raimundo Nonato, está com 22,5%.
Existe uma colônia de pescadores em Pedro II, da qual José Fernando já fez parte. “Os pescadores pescam em vários locais, no Poty, no rio Capivara e em outros açudes particulares. Muitos pescadores da colônia quando está um período ruim escapam assim”, conta.
O açude é abastecido, em grande parte, pela água da chuva. Segundo José Fernando, o reservatório “sangrou” apenas duas vezes desde que começou a operar, em 1996. A sangria ocorre quando o açude atinge a cota e transborda. No momento, apesar dos dados da ANA, seu José faz uma avaliação um pouco mais positiva do local.
“A ANA colocou 16 estacas e me procurou para fazer o monitoramento e eu não aceitei, porque muita gente danifica. Ainda tem uma estaca toda submersa. Acho que deve estar entre 15% e 16%. Está bastante baixo, só que pelo que tem de água não vai passar o sufoco do ano passado”, afirma.
Uma preocupação do morador é o estado de conservação do açude. Segundo ele, a estrutura tem sido depredada. Muitas pedras da parede do açude estão sendo retiradas. “As barragens que são construídas tem uma camada de pedras na parede. Elas são usadas para proteger o barro e não criar erosão. [As pessoas] tiram as pedras pra não molhar os pés durante a pescaria e não colocam no lugar. Hoje tiram uma pedra, amanhã outra. O problema é que a parede fica desprotegida”, explica.
Segundo o Monitor de Secas da ANA, no mês de julho surgiu uma área de seca no norte do estado, sendo esta de curto prazo. Já nas outras áreas do estado, onde a seca era apenas de longo prazo, passou a ser seca com impactos de curto e longo prazo, com expansão das áreas de seca moderada, da seca grave e seca extrema. No extremo norte do estado, permanece sem seca relativa. A expansão da seca ocorreu por causa dos baixos índices pluviométricos e altas temperaturas observadas ao longo do mês de julho, principalmente no centro e sul do estado.
FONTE: Portal O Dia
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Estima-se que o Estado do Piauí, juntamente com o Maranhão possuam, juntos, cerca de 70% das águas de subsolo do Nordeste. Águas de boa qualidade, porque naquelas regiões do Nordeste a geologia é sedimentária e, portanto, tende ao favorecimento da potabilidade delas (em qualidade e quantidade). O Piauí possui em sua porção Sul, no Vale do Rio Gurguéia, uma riqueza hídrica sem precedentes: os poços ali perfurados têm características jorrantes. São poços Artesianos!
O poço Violeto (ou Violeta) é um exemplo disso. Além do mais o Estado do Piauí possui o segundo maior rio em importância do Nordeste, o Parnaíba, que o limita com o Maranhão, que tem a característica de ser perene. Traçando-se um paralelo com as informações existentes na matéria em apreço, cuja maioria dos açudes do Estado do Piauí está com níveis preocupantes, fico a me perguntar se não seria mais sensato o Piauí estabelecer um programa de gestão eficiente de suas riquezas hídricas, através do uso potencial das águas do Vale do Gurguéia e do aproveitamento das águas do Parnaíba? A falta de visão do piauiense nesse sentido é um fato, pois, mesmo diante da riqueza hídrica existente no Estado, o poder público local chegou a cogitar da possibilidade de se trazer as águas da Transposição do Rio São Francisco, com vistas a solucionar os problemas de abastecimento de vários municípios, de geologia cristalina, existentes na região Sudeste do Estado. Diante da enorme escassez hídrica existente no Setentrional nordestino, motivada pela ausência na gestão de suas águas, as pretensões dos piauienses precisam ser melhor avaliadas e com a rapidez devida. O Semiárido nordestino está sedento e, portanto, tem pressa!