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Fundaj realiza visitas técnicas a museus de temática afrocultural na Bahia
Integrantes do PI 2 Educação e Relações Étnico-Raciais, Jefferson Lindberght e José Luiz Gomes, realizaram visitas técnicas a instituições museológicas e centros culturais temáticos acerca da raça negra. A missão atendeu ao projeto O DISCURSO EXPOSITIVO DA RAÇA NEGRA NO MUSEU DO HOMEM DO NORDESTE, que trata da prática discursiva que envolve a raça negra no circuito expositivo do Museu do Homem do Nordeste (Muhne). O período observado está compreendido entre 1979 - data da abertura e da primeira exposição do Muhne - até a exposição de 2008.
Segundo os estudiosos, no Muhne, o olhar voltado para a raça negra traz marcas evidentes do predomínio de uma política de identidade, em detrimento da política emergente da diferença. Como seria noutros museus com a mesma temática? Foram, por isso, realizadas visitas, entre o período de 05 a 10 de novembro de 2018, aos seguintes museus:
O Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia é sediado em Salvador e possui um acervo composto de mais de 1110 peças da cultura material africana e afro-brasileira. A visista ao Mafro revela como uma deliberada política da diferença prevalente pode estimular de maneira significativa uma gestão museal contemporânea, ora pela produção de conhecimentos úteis e diversificados a partir da heterogeneidade cultural do acervo em exposição.
O Ceao é uma grande referência da discussão sobre a presença africana na Bahia, ademais também realiza uma série de estudos sobre a presença africana no Brasil, tratada sob vários aspectos: personagens, fluxos migratórios, rituais religiosos, costumes, trocas linguística, antropologia, gastronômica, entre outros. A visitação ao Ceao foi de suma importância para a pesquisa, pelo fato de a instituição ser considerada uma referência para as temáticas acerca da raça negra, além de nos aprofundarmos no contexto sociohistórico de organizações museais como o Mafro, que foi vinculado ao Ceao de forma orgânica. Adicionalmente, o nascimento do Ceao nos revela o reforço multidisciplinar que lhe foi imprimido apartir de seu fundador, Agostinho da Silva, um pensador místico com perfil plural e paradoxal, a qual perseguia a não diferenciação entre sujeito e objeto.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, cuja responsabilidade repousa na preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, pelo que lhe cabe proteger e promover os bens culturais do País, além de assegurar-lhes a permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras.
Merece destaque o
Curso de Extensão em Gestão e Salvaguarda do Patrimônio Cultural Integrado dos Terreiros Tombados
. Em sua programação, o processo de tombamento dos terreiros de candomblés pelo Iphan é analisado e vivenciado a partir da aproximação com as lideranças de diversas localidades, na perspectiva do aprofundamento das suas reflexões acerca da salvaguarda compartilhada do patrimônio cultural. Eixos temáticos específicos orientam o programa, tais como territorialidade, patrimônio, sustentabilidade, residência social e a construção de planos de preservação. A visita ao Iphan de Salvador operacionalizou-se como sendo uma significativa oportunidade para a coleta de dados e, na sequência, desenvolvimento de um estudo comparativo entre os processos de tombamento de terreiros no Estado da Bahia e os de Pernambuco. Foi encontrada uma avançada rotina trabalhista em que os processos de tombamento de terreiros baianos estão sendo suportados por cursos de extensão sob forma de parceria com a Ufba, intermediada pela Escola de Administração, de modo que venham lograr êxitos junto aos terreiros ao protocolarem seus documentos para fins de tombamento. Tal procedimento os remeteu a refletir acerca da possibilidade de reproduzir, em Pernambuco, a iniciativa baiana que vem amenizando as dificuldades de os terreiros protocolarem os documentos com vistas ao tombamento.
O Museu Carlos Costa Pinto, uma instituição particular mantida por convênio com o Governo do Estado da Bahia, está localizado em Salvador e caracterizado como sendo um museu de arte e biográfico. O belíssimo casarão em estilo colonial data de 1958 e abriga coleção particular do casal Carlos de Aguiar Costa Pinto e Margarida Ballalai Costa Pinto. O seu acervo foi doado pela então viúva para a concretização do sonho de seu marido, preservando, na Bahia, a memória de três séculos de arte, cultura e literatura. O Museu Carlos Costa Pinto vem impressionando pela sua coleção de jóias e sua diversidade, inclusive em gênero, uma vez que há valiosos adornos das antigas elites masculina e feminina, tanto da raça branca quanto da negra. A intenção do então exportador de açuçar, Carlos Costa Pinto, de obter todas as jóias da Bahia como forma de evitar uma evasão para outros lugares, somada com a posterior atitude de sua viúva em transformar todo o tesouro acumulado em um museu, vem culminando em uma espontânea política da diferença, uma das significativas contribuições para a pesquisa.
Nossa Senhora da Boa Morte, é uma irmandade com quase três séculos de trajetória, localizada na região do Recôncavo Baiano, a cidade de Cachoeira. Sendo ela constituída por mulheres negras pertencentes à religião de matriz africana e das mais variadas nações do Candomblé. Nessa reflexão, foi possível observar o predomínio de uma harmonia entre as políticas de identidade e de diferença em uma instituição cultural. Esse perspectiva de harmonia também vem sendo refletida dentro da própria cidade de Cachoeira por comportar mais de oitenta terreiros de Candomblé ao lado de dezenas de igrejas católicas, o que vem propiciando um cenário de sincretismo religioso e, portanto, favorável a uma harmoniosa politização entre as variadas e diferentes posições de membros da irmandade e sua institucionalização.