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Cachaça
Lúcia Gaspar
Nadja Tenório
Sebastião Vila Nova
APRESENTAÇÃO
Sebastião Vila Nova
A cachaça, aguardente feita da cana-de-açúcar, é, sem margem a contestação, a bebida típica do povo brasileiro. Ela representa para o Brasil o que a tequilla representa para o México e a bagaceira para Portugal. Está presente não apenas nas conversas de balcão das vendas e bodegas do Brasil rural e suburbano, mas é obrigatória, igualmente, nas ocasiões festivas especiais como, por exemplo, nas festas de batizado, misturada ao mel de abelha e ao suco de maracujá, conhecida como “cachimbo” ou “cachimbada”; é, também, componente indispensável nos velórios no meio rural; assim como muito usada no preparo de medicamentos populares, nas “garrafadas”, além de fazer-se presente nos rituais de candomblé. Isto nos dá a medida de quanto a cachaça perpassa o cotidiano do brasileiro.
Como nos informa José Calazans, um dos mais renomeados estudiosos do assunto, a cachaça, mereceu entre nós versos de significativa louvação, bem expressando a sua importância cultura nacional:
"A cachaça alegra os tristes
Melhora quem está doente
Faz aleijado corrê
E cego vê de repente." (ver 028)
Outro indicador da singular importância da presença da cachaça está na sua vasta e espirituosa sinonímia, que chegou a merecer exaustivo dicionário elaborado pelo folclorista Mário Souto Maior (ver 101). Curiosa denominação é a da mistura de cachaça com Coca-Cola, conhecida como “samba-em-Berlin”, talvez por conta da participação dos nossos pracinhas, juntamente com os norte-americanos na 2ª Guerra Mundial (embora os soldados brasileiros tenham limitado a sua participação ao território italiano). Numerosos são os folhetos populares em versos, dos que se vendem nas feiras das cidades interioranas, que têm como tema a cachaça. Vasto, igualmente, é o anedotário sobre o tema.
Se é inegável que a cachaça tem comprometido a saúde de muito brasileiro mal alimentado das categorias de renda inferior, por outro lado, é também inquestionável que sem ela muito edifício não teria sido erguido; muito trabalho não teria sido realizado pela gente pobre e heróica dos nossos Brasís.
Não há exagero, portanto, em afirmar que não é possível o conhecimento da cultura do povo brasileiro sem a inclusão da “branquinha”, tão significativa é a sua presença no dia-a-dia da nossa gente, independentemente de classe social. Não é, portanto, de admirar tenha a “imaculada” constituído objeto de especial atenção por parte dos nossos etnógrafos e cientistas sociais em geral. Desse modo, a bibliografia ora publicada em Ciência&Trópico, preparada com esmerada competência por Lúcia Gaspar, diretora da Biblioteca Central Blanche Knopf, da Fundação Joaquim Nabuco, e Nadja Tenório, representa preciosa contribuição a quem quer que estude não apenas o tópico específico de que trata, mas, igualmente, a cultura do nosso povo.
Recife, 10 de setembro de 2003
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