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Vitalino Neto visita ao Museu do Homem do Nordeste para pesquisa do acervo do Mestre
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), recebeu na quinta-feira (19), a visita de Vitalino Pereira dos Santos Neto, para levantamento das obras do Mestre Vitalino e de seus familiares presentes no acervo. A pesquisa para catalogação das obras está sendo realizada em vários museus do País. A visita de Vitalino Neto ao espaço expositivo e a reserva técnica do Muhne foi acompanhada pelo museólogo Henrique Cruz. Na ocasião, Vitalino Neto estava acompanhado do coordenador dos Museus de Caruaru, George Pereira, dentre os quais estão a Casa-Museu do Mestre Vitalino e o Museu do Barro.
As obras criadas pelo Mestre Vitalino estão registradas com 118 temáticas diferentes de peças. Um quantitativo que sempre incomodou o neto Vitalino, um admirador e observador atento do acervo do avô. Vitalino Neto contou que, ainda criança, visitando uma exposição das obras de Vitalino e família, na Sala do Artista Popular, no Rio de Janeiro, questionou o pai, Manuel Vitalino, a respeito do número de peças, que ele e os tios diziam terem sido criadas por meu avô. “Na minha cabeça não batia como naquela exposição tinha aquelas obras todas e ele só criou 118. Eu já entendia a questão da reprodução. Mas me incomodava e discordava. Resolvi arregaçar as mangas e começar um trabalho de pesquisa dos acervos, o que fez apenas comprovar a desconfiança que eu tinha”, observou Vitalino Neto.
O levantamento tem como meta filtrar tudo que tenha relação com a arte do Mestre, para chegar a um número aproximado do tamanho que é o seu acervo. As visitas aos museus e averiguações de documentos e publicações serão reunidos em uma espécie de certidão. Para o museólogo Henrique Cruz, uma instituição pública tem que abrir as informações. "É uma oportunidade de contribuir com uma pesquisa sobre as obras de Vitalino e é muito importante dar voz não só para os especialistas, mas à própria família. São poucas as instituições que ainda estão tendo esse cuidado e essa sensibilidade. A museologia do século XXI não pode prescindir dos representados nos museus não terem voz. Isso é importantíssimo. São os indígenas auxiliando na catalogação do acervo, lideranças religiosas de matriz africana e os artistas populares, que sempre foram negligenciados como arte folclórica e precisam ter voz”, ressaltou.
Vinte peças em exposição no Muhne foram identificadas como obras criadas pelo Mestre Vitalino e seus filhos. De acordo com Vitalino Neto, a pesquisa vem confirmando a hipótese por ele levantada, uma vez que está em fase bem avançada e a quantidade de peças mais que dobrou. Os maiores acervos, segundo ele, estão no Recife e no Rio de Janeiro, localizados no Museu Casa do Pontal e Museu do Folclore. Até novembro, Vitalino quer concluir a pesquisa. “Os netos têm a obrigação de cuidar desse legado. O documento será disponibilizado em museus, universidades, instituições, entre outros.
O Mestre
A arte do Mestre Vitalino nasceu em Caruaru, agreste pernambucano, ultrapassando as fronteiras dos estados do Brasil, para ganhar o mundo. Seu trabalho esculpido em barro natural e em colorido vibrante, criou peças que retratam personagens da cultura popular como vaqueiros, violeiros, retirantes, banda de pífano e o cotidiano do povo nordestino participando de procissões, o enterro na rede, o trabalho na casa de farinha, a viagem no carro de boi e muitos outros. Ainda nos anos 1950, o trabalho do Mestre Vitalino foi objeto de estudo etnográfico do pesquisador da Fundaj, René Ribeiro, que publicou um livro sobre o assunto e desde os anos 1960, parte do seu acervo está no Museu do Homem do Nordeste. Falecido em 1963, Vitalino teve sua obra ficando conhecida no Brasil e no exterior por meio da Exposição de Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, realizada em Neuchâtel, na Suíça.