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Visita Acessível: Fundaj recebe crianças, adultos e idosos para percurso acessível entre Muhne e Cinema da Fundação
O Museu do Homem do Nordeste (Muhne) e o Cinema da Fundação realizaram nesta terça-feira (30) e quarta-feira (31), mais uma edição do projeto “Visita Acessível”. Participaram das atividades os estudantes da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes e os adultos e idosos atendidos pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, também do município.
No primeiro dia da ação, os alunos das escolas Iraci Rodovalho, Orlando Breno e Nazete Vieira de Lima, foram recebidos pela equipe do Muhne para uma visita guiada com interação tátil de peças pertencentes ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco. Para Edgar de Melo Filho, pai de João Victor de 13 anos, atividades como essa contribuem para fortalecer o conhecimento, indo além da sala de aula.
"É muito bom ter essa ação de inclusão que o município e o Museu estão desenvolvendo. Não tivemos essa oportunidade quando éramos crianças, e isso faz diferença na questão da sociabilidade, ajuda muito no aprendizado. Foi a primeira vez dele aqui, e ele ficou muito feliz”, disse o pai do estudante.
Para o professor de Atendimento Educacional Especializado, David Santos, é essencial oportunizar o acesso aos bens culturais e promover a interação com o espaço e com o outro. “Eles acabam tendo uma vivência diferente, que eles não têm no cotidiano, enriquecendo o currículo deles e fortalecendo essa integralização enquanto indívudo”, afirmou David.
A programação também contou com uma edição especial da Sessão Índigo, que é voltada para crianças com Síndrome de Down, TDAH e autismo. As três animações escolhidas para exibição foram: “Salu e o Cavalo Marinho” (2014), de Cecília da Fonte Alves; “A Árvore do Dinheiro” (2002), de Marcos Buccini e Diego Credidio; e “Bia Desenha (2019), de Kalor Pacheco e Neco Tabosa.
A secretária-executiva de Gestão Pedagógica de Jaboatão dos Guararapes, Iany Jardim, explicou que essas atividades integradas e adaptadas entre o Museu e o Cinema, é uma forma dos estudantes terem acesso ao novos espaços e terem contato, muitos deles, pela primeira vez, com experiência audiovisual adaptada e conhecerem mais de perto a história de Pernambuco.
“Para os nossos estudantes, conhecer novos espaços é muito importante e a Fundaj abre essa porta. Isso nos deixa muito felizes, principalmente por estamos na semana municipal da pessoa com deficiência”, afirmou a secretária.
Adultos e idosos contemplados no segundo dia
O segundo dia da ação foi marcado pela visita do grupo de adultos e idosos atendidos pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. No primeiro momento da visita, o grupo foi recepcionado pela equipe do Cinema do Museu para uma sessão especial de três curta-metragens pernambucanos com recursos de acessibilidade: “Cinema Glória” (1979), de Fernando Spencer, Felix Filho; “A Onda Traz, O Vento Leva” (2010), de Gabriel Mascaro; e “Recife de Dentro pra Fora” (1997), de Katia Mesel.
As cópias dos filmes exibidos são parte do acervo do projeto Alumiar, que foca em tornar as obras cinematográficas acessíveis para pessoas cegas ou com baixa visão, surdos e ensurdecidos. O projeto é encabeçado pela Divisão de Acessibilidade do Cinema da Fundaj, transformando-o no primeiro cinema do Brasil a tornar acessíveis e exibir na sua programação regular filmes nacionais com três modalidades de acessibilidade comunicacional: audiodescrição (AD), língua brasileira de sinais (Libras) e legenda para surdos e ensurdecidos (LSE).
Túlio Rodrigues, chefe da Divisão de Acessibilidade, explicou que o projeto é o resultado da integração entre o Muhne e o Cinema, criando uma rota cultural com acessibilidade para o público.
“A gente já tinha o projeto do cinema acessível aqui e a gente indicava que tinha o museu, mas ele ainda não estava completamente preparado para receber essas pessoas. Mas, recentemente o museu participou de uma formação de audiodescrição e inauguramos no jardim uma trilha com audiodescrição que possibilita dialogar melhor, a partir da acessibilidade, esses dois espaços”, explicou.
Após a sessão de filmes, o grupo fez uma pausa para conversar sobre o que assistiram, antes de seguir a visita para o Muhne. O senhor Frazão compartilhou sua alegria em assistir ao filme “Cinema Glória”, já que foi um assíduo frequentador do espaço no passado. Outros visitantes ressaltaram a importância dos recursos de acessibilidade, como a audiodescrição, para a compreensão plena dos filmes.
Já no segundo momento do passeio, o poeta jaboatonense Wagner Martins, que é atendido pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Jaboatão dos Guararapes, declamou um de seus poemas para o grupo. “Em Flagrante” foi escrito em homenagem à sua esposa Ana Maria, que o acompanhou na visita.
Martins também revelou sua alegria de poder ver o acervo do Muhne pessoalmente pela primeira vez. O poeta celebrou poder ser incluído nos espaços destinados à cultura, especialmente a nordestina. “Conheci o museu no YouTube, mas acho que vai ser muito melhor ao vivo”, declarou.
Para Túlio Rodrigues, a satisfação em inaugurar essa rota cultural está justamente em poder acolher e receber pessoas que possuem alguma limitação em espaços que na maioria das vezes não são pensados para elas. “Fora as visitas especiais, estamos abertos a receber esses visitantes como demanda espontânea”, revela.
A Coordenadora de Ações Educativas e Comunitárias do Muhne, Edna Silva, confessa estar emocionada com o sucesso do projeto. “Hoje, ver um grupo de adultos e idosos visitando o museu fora do circuito escolar é um marco para quem pensa o museu e suas ações comunitárias porque você cria condições múltiplas de fazer com que esse não-público se reconheça como público do espaço”, comemorou.
Os planos, agora, é de implementar as visitas acessíveis ao Museu e ao Cinema como ações contínuas. Para Edna, pensar os espaços culturais levando em consideração pessoas que historicamente são excluídas dos mesmos vai além de um projeto pontual para ser divulgado, mas deve ser algo que precisa ser integrado ao planejamento dos espaços. “O que estamos vendo hoje é o que há muito tempo foi chamado de futuro, e hoje é presente”, finalizou a coordenadora.