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V Jornada de Estudos das Infâncias traz à tona problemáticas e debate o futuro das crianças nas escolas após a pandemia de covid-19
Com o tema “Infâncias na Reconstrução do Presente e Transformação do Futuro: a potência da crise e a utopia militante da pesquisa social”, a V Jornada de Estudos das Infâncias, promovida pelo Grupo de Pesquisa Infância e Educação na Contemporaneidade (GPIEDUC), reuniu pesquisadores, estudiosos da área, docentes, discentes e egressos do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades/UFRPE/FUNDAJ para debater questões teóricas, conceituais e metodológicas das pesquisas e promover momentos de troca daquilo que foi trabalhado durante o ano.
O evento foi realizado na segunda (12) e terça (13) na Sala Calouste Gulbenkian, no campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco. Fora do espaço, nos corredores do edifício Paulo Guerra, o público pôde conferir uma exposição de posters, que traziam informações sobre as metodologias e os principais resultados das pesquisas apresentadas ao longo da programação.
No primeiro dia, o seminário recebeu quatro alunos da rede de ensino público de Pernambuco na mesa redonda “Para começo de conversa, as crianças”. Sabrina Mesquita, Heitor Miranda, David Almeida e Rodrigo Simões puderam compartilhar sobre como vivenciaram a pandemia, como foi a volta às aulas e do que sentiram falta no período. Para Patrícia Simões, coordenadora do GPIEDUC, a mesa com as crianças é importante para ouvir as percepções das crianças, tendo em vista que “tem muitas coisas que as crianças acham e pensam que jamais passaria pela cabeça da gente, adulto”. Em seguida, Simões e Juceli Bengert, também coordenadora do GPIEDUC, compartilharam pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelo grupo sobre os desafios impostos pelo contexto da pandemia de covid-19 às crianças e aos profissionais da educação.
Já na manhã da terça-feira (13), novos painéis sobre educação na Sala Calouste Gulbenkian. Antes do início dos debates, o diretor de Pesquisas Sociais da Fundaj, Luis Henrique Romani, fez uma fala de boas-vindas ao público presente. Economista, Romani lembrou os impactos da pandemia na vida escolar e o agravamento das desigualdades regionais. "O que eu tenho observado é uma ampliação das disparidades no Brasil. Quando a gente vai olhar os vários indicadores sociais, percebe que o Sul e o Sudeste já se recuperaram dos efeitos econômicos da Covid-19 e o Nordeste, não. Os desafios para o futuro são muito maiores. O que a gente encontra nas pequenas cidades é uma grande dificuldade para conseguir fazer as crianças irem à escola. Há dificuldade não só de qualificação, mas também de logística", afirmou.
A primeira mesa do segundo dia teve como tema "Infâncias e educação: desafios em espaços escolares e não escolares". Durante o encontro, as professoras Flávia Regina, Renata Santos e Rosimeire Penha apresentaram dados de pesquisas sobre educação em projetos sociais e ONGs, o papel da literatura negro-brasileira no fortalecimento das identidades das crianças pretas e o uso dos movimentos do corpo no contexto educacional, pensando na criança como agente social e sujeito detentor de direitos. Na abertura do painel, a coordenadora da mesa, Carla Cabral Barroca, que atua como professora e gestora da rede municipal do Recife, se emocionou ao falar dos desafios enfrentados nos últimos anos.
"Durante a pandemia, a gente resistiu. O GPIEDUC foi um espaço para dividir nossas ideias e nossas dores. Cada um que faz parte do grupo tem um sentimento de pertencimento", destacou. Em seguida, foi realizado o painel "Políticas de Educação Infantil: crises e desafios", coordenado pela professora Riva Resnick, com a participação das pesquisadoras Bernardete Brandão, Dayse Mesquita e Rosângela Lopes. Entre os temas abordados, estavam questões que afetam a Educação Infantil, como as políticas públicas de inclusão e acessibilidade, a infraestrutura das escolas e creches e o ensino híbrido.
Já na terceira e última mesa da manhã, intitulada "Infâncias, mobilidade, autonomia e o direito à cidade", a discussão se voltou para os impactos do isolamento social na vida das crianças durante e após a fase mais aguda da pandemia, tanto nos ambientes escolares quanto nos espaços públicos. O encontro, mediado pela coordenadora Elaine Santos, reuniu as pesquisadoras Michele Porfírio, Milene Morais e Ana Lúcia Lacerda.
O turno da tarde do evento foi marcado pelo painel “Bebês, Crianças e as Culturas Infantis”, mediado pela pesquisadora e mestranda do GPIEDUC Karla Wanessa Carvalho de Almeida. Em um primeiro momento, o debate se voltou para o projeto de pesquisa da pedagoga e mestranda Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades/UFRPE/FUNDAJ Maria das Graças da Silva Lins Manzi, que trouxe uma revisão da literatura sobre a questão da ludicidade e da brincadeira no desenvolvimento integral das crianças. “A criança expressa no brinquedo o mundo real, com seus valores, modos de pensar e agir e o imaginário do criador do objeto”, concluiu.
A psicólogas Mariana Uchoa Simões, que é mestranda em Psicologia e Saúde Mental da Universidade de Pernambuco (UPE), trouxe no trabalho “A experiência como produtora do cotidiano da escola” uma reflexão sobre o tipo de escola que está sendo construída pelos pais, educadores e crianças. Já a fonoaudióloga Emília Juliana Correia do Nascimento e também mestranda da Pós-graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE) apresentou o “Notas sobre o panorama infantil no período pandêmico”, trazendo um estado da arte da pesquisa sobre a educação infantil durante a pandemia de covid-19.
No fim da tarde, a professora Lívia Maria Fraga de Oliveira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), considerada referência no Brasil em estudos sobre a infância, concedeu a conferência de encerramento do evento. Durante sua fala, a pesquisadora relembrou o momento trágico vivido por todo o mundo durante a pandemia, mas ressaltou a capacidade de resiliência do ser humano de se reconstruir e pensar no futuro. “A crise não foi apenas uma crise sanitária, mas uma crise ética que vivemos no mundo. Como estão as crianças nesse mundo de crises, de sofrimentos, mas também de possibilidades? Como dar visibilidade aos seus anseios e ao exercício dos seus direitos?”, refletiu a pesquisadora.