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Universos em cerâmica: montagem do Muhne apresenta artistas vizinhos
Uma das histórias ou alegorias mais difundidas do mundo narra a criação do homem a partir do barro. Nas artes plásticas, muitos nomes cravaram seu lugar na História com obras produzidas a partir da mesma matéria-prima. Nesta sexta-feira (20), o Museu do Homem do Nordeste (Muhne), da Fundação Joaquim Nabuco, realizou a vernissage da exposição Três Ceramistas, apresentando a designer Gisela Abad, o auditor Saulo Dubourcq e o cirurgião-dentista Sergio Bandeira. Profissionais de áreas distintas, que recorreram à técnica por motivos tão íntimos, quanto o escape e a paixão. O lançamento integra o projeto Museu de Vizinhança.
A montagem ocupa a Sala Waldemar Valente, do Muhne, e destina para cada artista um lugar exclusivo, destacando suas subjetividades e composições a partir do elemento comum. As distinções dos universos, são evidentes. Com uma arte utilitária, onde nos vasos, cumbucas e pratos cabem também grafismos e poesia, Gisela evidencia o que já diz. “Faço cerâmica para pensar com as mãos”, insiste, ao explicar que na profissão de designer o equipamento utilizado — o computador — exige outro tipo de esforço: o cerebral. “No torno não. Diria até que sou mais oleira do que tudo. Minha coisa é colocar a mão na massa”, reconhece.
O trabalho de Saulo, por sua vez, evoca uma natureza familiar na escolha das figuras retratadas, mas, também, no material utilizado para tingir e dar brilho às peças. São tridimensionais, como bolas que aludem a pedras, e bidimensionais, com pinturas de árvores do Sítio Trindade e do Jardim do Baobá em lajotas de cerâmica. A tinta utilizada é o engobe, produzida a partir da argila. A feitura é em monoqueima. Ou seja, só vai ao forno uma vez, explica o artista, ao mencionar os aprendizados com a ceramista Christina Machado. Com o resultado, ele diz esperar provocar boas emoções. “Espero que as pessoas gostem, que as peças lhes despertam alegria e sintam prazer.”
Já Sergio, criou à base da argila outro ecossistema. Neste, pavões, peixes, árvores, folhas, gatos e uma infinidade de outras representações colorem o ambiente com esmaltados em tons terrosos e berrantes. “Vi essa coisa da preservação da natureza muito presente em mim”, comenta o artista, que diz pensar em morar no interior, próximo à mata, e percebeu o seu fazer com cerâmica intuitivo. “Já pintava e tinha muita preocupação com a pintura. Com a argila foi saindo tudo que havia dentro de mim. Moldei de forma livre, o mais lúdico possível”, divide. “O que a gente precisa é salvar o mundo, salvando a natureza. Se eu puder deixar alguma mensagem, é esta.”
Educadora de 62 anos, Liz Ramos participou do lançamento e disse gostar da ideia de uma exposição composta por “pessoas que moram perto”, referindo-se ao conceito de Museu de Vizinhança adotado pelo Muhne. “Acho que esse museu tem essa cara mesmo”, acenou. Em sua análise, falou sobre a arte como artigo também de utilização e decoração. “A gente tem que pensar que a beleza também é uma utilidade. Ter peças que embelezam o ambiente e deixam a gente mais feliz com relação ao lugar é sempre bacana.” Liz revelou que a visita a um equipamento cultural é inédito, desde o início da pandemia. “De repente, vir aqui, me dá uma ideia de que é possível.”
As visitas seguem até o dia 30 de outubro.
Serviço
Exposição Três Ceramistas
Local: Sala Waldemar Valente (Campus Gilberto Freyre da Fundaj,
Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte, Recife)
Visitação: terças a sextas, das 10h às 16h; sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h
Entrada gratuita