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Terceiro módulo do curso "22-22-22: modernidades modernismos e contemporaneidade" traz questionamentos contemporâneos em torno de museus
Com um profundo debate sobre museus, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) realizou a aula inaugural do terceiro e último módulo do curso 22-22-22: modernidades modernismos e contemporaneidade, nesta quinta-feira (17).
Esta fase do curso - promovido pelo Museu do Homem do Nordeste (Muhne) - direciona o olhar para o século XXI e para os desdobramentos da crítica à modernidade apresentados pelo pensamento decolonial em diálogo com a museologia.
A aula-debate foi ministrada pelo professor Alexandro Silva de Jesus (UFPE) e pela diretora de educação e pesquisa do Instituto Oficina Francisco Brennand, Gleyce Kelly Heitor, uma das coordenadoras do curso.
Alex de Jesus apresentou inicialmente uma crítica sobre a maneira como os museus estão implicados na reprodução das estruturas coloniais.
"Em geral, quando falamos sobre museus e valores da cultura ocidental, falamos de forma livre, se fala de bens culturais e museus como se estivessem desvinculados das experiências políticas, econômicas, como se fossem uma dobra, algo acima dessas coisas. Então, tento mostrar como há um marcador específico da nossa experiência moderna, que é o racial, e como ele macula todos os elementos que estruturam a modernidade, incluindo experiências culturais que a gente vive. Assim, o museu, de partida, já está comprometido com a experiência colonial, é difícil para uma instituição como museu agregar dentro de si forças antiracistas. Talvez já haja dados suficientes para pensar que os próprios museus, a democracia, a política, o modo de vida como está estruturado, depende muito mais do racismo do que a gente esteja disposto a admitir", explicou o professor.
A pesquisa de Alexandro aborda justamente os efeitos do colonialismo na sociedade brasileira. Em suas palavras: “Urde uma leitura sobre nosso mau encontro colonial, sobre a redução da potência de uma cultura em detrimento da outra, sobre os afetos tristes gerados desse cruzamento".
Em seguida, Gleyce Kelly Heitor analisou a criação de espaços como o Museu da Beira da Linha do Coque, no Recife, e o Museu das Remoções (RJ) nas intersecções entre as políticas de cidade, políticas culturais e políticas de segurança pública, implementadas no período do recrudescimento de ações de remoções e despejos no Brasil, devido a preparação do país para eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
Ela destaca que esses espaços provocam uma mudança de perspectiva no cenário das práticas museológicas contemporâneas. "O tema que abordei está ligado à ideia, quando trago o museu como condição de aparição, justamente de como alguns movimentos sociais situados em contexto de violência e de violação de direitos vêm usando os museus como ferramenta, dispositivo, para fazer circular suas lutas e projetos de sociedade. A ideia não é abordar museus que contam a história de lutas específicas, mas experiências que têm feitos dos museus um jeito de lutar por direitos na sociedade" afirmou Gleyce Kelly Heitor, que citou ainda o Museu dos Meninos, que traz histórias sobre jovens do Complexo do Alemão.
Curso
O curso “22-22-22: modernidades, modernismos e contemporaneidade”, segue até o início de dezembro. As aulas são ministradadas no campus Derby da Fundaj.
Os módulos são certificados de maneira independente, ou seja, aqueles que não participaram das aulas do primeiro e do segundo módulo ainda poderão receber o certificado do terceiro, contanto que cumpram 75% da carga horária.
Você pode verificar a programação e se inscrever por meio da plataforma Sympla, clicando aqui.
Gleyce Kelly Heitor explica a importância dessa formação promovida pelo Muhne. "Olhamos para 22 em diferentes perspectivas, 1822, como contexto da independência, 1922, como a Semana de Arte Moderna, e neste terceiro 22 a pergunta é sobre como esses eventos, essas histórias, nos afetam, como produziram a forma como lemos e entendemos o mundo, a sociedade, hoje. O curso assumiu compromisso de fazer essas revisões, de fazer uma leitura de cada momento da história, mas sem se furtar de se perguntar qual o projeto para nosso presente. É um curso importante nesse sentindo, reúne profissionais bastante interessados e comprometidos, e não só em interpretar, mas têm agenda propositiva para interpretamos, com nossos repertórios, essas questões e eventos", concluiu.