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Seminário na Fundaj expõe esvaziamento da Sociologia no Ensino Médio e aponta caminhos para uma valorização das Ciências Humanas nas redes de ensino
Em seu segundo e último dia, nesta terça-feira (10), o Seminário Sociologia no Novo Ensino Médio, realizado na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), expôs como as Ciências Humanas foram alvo de ataques durante a reforma do Ensino Médio. Propositivo, o encontro foi além das críticas e apontou caminhos para a melhoria da grade curricular, valorizando tanto os docentes quanto o aprendizado dos estudantes. Nos debates da manhã deste último dia, houve as explanações dos pesquisadores representantes do Distrito Federal e dos estados do Amazonas, Goiás, Rondônia, Amapá, Paraíba, Piauí, Sergipe e Bahia. Na ocasião, mesmo que algumas unidades da federação tenham aumentado a participação da Sociologia na grade curricular e outras tenham diminuído, houve um consenso crítico em relação à lógica do Novo Ensino Médio.
CONFIRA A MATÉRIA DO PRIMEIRO DIA DE EVENTO:
https://www.gov.br/fundaj/pt-br/centrais-de-conteudo/noticias-1/presidenta-da-fundaj-faz-conferencia-de-abertura-no-seminario-sociologia-no-novo-ensino-medio
Segundo Ivan Barbosa, professor da Universidade Federal de Sergipe, o discurso utilizado no conteúdo programático da disciplina está em total sintonia com a política neoliberal. “É até paradoxal. De um lado, houve um aumento da carga horária, do outro, prega-se o discurso conservador neoliberal”, justifica. E é aí que mora o problema. Segundo a professora Maria de Assunção de Lima, da Universidade Federal de Campina Grande, o que se dá hoje em sala de aula no Ensino Médio está na contramão do conceito de Sociologia. “Está no conteúdo tudo aquilo que a Sociologia critica”, enfatizou. O professor Jorge Lucas Dias, da Universidade Federal do Amapá, concluiu o raciocínio: “O Novo Ensino Médio impõe uma lógica empreendedora, o que é um absurdo”.
À tarde, foi apresentada a situação nos Estados do Espírito Santo, Pará, Ceará e Tocantins, pelos docentes Eleanor Gomes da Silva Palhano, Francisco Willams Lopes, Lidiane Alves Kariú Kariri e Mauro Petersem Domingues. Ao fim do Seminário, foram apresentados oito pontos que devem compor uma carta a ser enviada ao Ministério da Educação (MEC) e a entidades ligadas à educação, como explica Joanildo Burity, pesquisador da Fundaj, e um dos organizadores do evento. A carta ainda será finalizada nos próximos dias, com colaboração dos expositores.
“Nosso seminário foi bastante significativo, principalmente, pelo saldo das apresentações e discussões. Ficou claro que há problema de origem na reforma do Ensino Médio referente à interrupção de um processo que vinha em curso. O processo de implementação tem sido feito de tal maneira que a Sociologia tem sido bastante afetada, pois há o asseguramento da presença dela, mas com uma tendência geral de redução da carga horária”, observou o pesquisador.
Marina Cordeiro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, participou dos dois dias na mesa e disse que o Seminário entrega um importante mapeamento nacional de todas as questões colocadas para o Novo Ensino Médio. “É um mapeamento nacional crítico, com nível de profundidade grande, que permite que a gente faça análise contundente da construção desse processo e da não participação dos professores e que pode gerar frutos para articularmos a luta que se fortalece com a construção acadêmica e com o conhecimento em cima do que está sendo colocado. A partir do que se estuda, quando se tem empiria, não é discurso político, é dado de pesquisa, que pode subsidiar um fortalecimento da luta política com mais força”, afirmou.
Busca de novas perspectivas
Estudantes do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional da Fundaj (ProfSocio) participaram do Seminário e compartilharam suas expectativas após o amplo debate. “Percebemos pontos em comum em outros os Estados, vemos a entrada de institutos privados, a entrada de Parcerias Público Privadas, parcerias afetando de certa forma o resultado dessas políticas adotadas no currículo. Isso reverbera em nível de futuro”, afirmou Gabriela Borba, aluna do ProfSocio/Fundaj e professora de Sociologia na rede estadual de ensino de Pernambuco.
Também aluno do Mestrado ProfSocio/Fundaj, o professor Adeildo Júnior avalia que o Seminário conseguiu consolidar pontos fundamentais para a discussão. “O Seminário debateu essa pulverização que a flexibilização do currículo permite, não temos mais unidade, e a tendência é que se isso não for observado, seja por revogação, seja por reorganização, será assustador para a educação brasileira”, pontuou.
Com palestrantes de todos os Estados do País, o Seminário atraiu um grande público, tanto presencial quanto online, como explica a pesquisadora Viviane Toraci, do Laboratório Multiusuários em Humanidades (multiHlab). “O evento foi muito importante porque reuniu pesquisadores de todo o Brasil que trouxeram suas próprias redes de licenciandos em Ciências Sociais, os professores das redes estaduais, alunos de universidades. Foi um evento importante, desde o princípio quisemos fazer uma pesquisa propositiva. Os formadores de professores, que estão em mestrados como o ProfSocio, estão atuantes junto aos professores da educação básica nessa luta para que se construam novas soluções.” O Seminário Sociologia no Novo Ensino Médio teve uma média de 650 inscritos na plataforma Even3, além do alcance no YouTube da Fundaj, contabilizando 4271 acessos nas mesas.
Principais pontos que devem embasar a carta que será realizada após o evento:
- Discutir a redução da carga horária dedicada à Sociologia
- Não conformidade das práticas com o currículo aprovado
- Remanejamento inadequado de professores
- Práticas equivocadas de interdisciplinaridade não só práticas, mas própria concepção
- Produção de currículos estaduais com reduzido diálogo com os professores
- Excessivos componentes curriculares ofertados levando à fragmentação do desenho curricular
-Itinerários formativos não têm se convertido em maior atratividade nem em liberdade de escolha aos estudantes
-Tendência de prevalência de orientações advindas de consultoria privadas e certa indução à plataformização da educação pública
As apresentações estão disponíveis no canal da Fundação Joaquim Nabuco no Youtube.