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Seminário do Dia da Terra 2024 debate ecologia, espiritualidade e política na Fundaj
Reconexão, reenraizamento, vínculo com os territórios, circularidade e busca a partir da perspectiva do sonho foram temas que inundaram os participantes do “Seminário Ecologia, Espiritualidade e Política”, que fez parte da programação da Sessão Solene Dia da Terra, uma ação da Jornada do Dia da Terra 2024. Realizado na Sala Calouste Gulbenkian, campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte, o evento reuniu, na última segunda-feira (22), os convidados Marcelo L. Pelizzoli (UFPE), Angela Maria dos Santos Schepp (Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf), Iran Ordonio Xukuru e o babalorixá Jorge Roseno dos Santos.
Coordenada pela Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Cidadania da Universidade Federal de Pernambuco (PROExC/UFRPE), Instituto Coopera, Centro Sabiá e Fundaj, a atividade foi um momento para refletir sobre a conexão entre natureza, espiritualidade e política como dimensões indissociáveis. Segundo a coordenadora do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundaj e mediadora do seminário, Edneida Cavalcanti, pensar nessa temática é convite para um mergulho num universo diferenciado de reflexões.
“Por meio da racionalidade pura, não vamos conseguir realizar a guinada que precisamos para não entrarmos num processo de não retorno em termos de equilíbrio do planeta. Por isso a importância de ter falas a partir de referenciais que não são apenas os referenciais acadêmicos”. Para a pesquisadora, o seminário deixou muitos desafios para pensar a perspectiva da ecologia. “A ciência moderna separa corpo, mente, espírito, razão, emoção, natureza e cultura, motes que renderam discussões potentes aqui. Precisamos de uma retomada para reconstituir nossas subjetividades e com isso também trilhar um caminho diferente”.
Pró-reitor da UFRPE e membro do mestrado Educação, Cultura e Identidade (Fundaj/UFRPE), Moisés Santana ressalta a relevância do debate para dar espaço a temas essenciais. “Atualmente, vivemos pautados por assuntos que circulam nas redes sociais digitais, que, evidentemente, interessam aos donos dessas empresas. Quando discutimos ecologia, espiritualidade e política dentro da jornada do Dia da Terra, estamos trazendo as pessoas para uma apreciação daquilo que é essencial. Cada vez mais desenraizada, nossa sociedade tem produzido muita violência, falta de sentido, medo e adoecimento”.
Iran Ordonio, do povo indígena Xucuru, durante sua apresentação feita de forma remota, realçou o papel da floresta. “Quando eu falo da natureza, eu falo sobre tudo que existe. A pedra, o rio, são sagrados, são pontos de força. Para nós, povos originários, a floresta é um ente vivo. A floresta não é só a casa onde a gente mora, ela é a fonte que alimenta a nossa espiritualidade”.
A mestra em Extensão Rural pela Univasf, Angela Maria dos Santos Schepp, da Comunidade Quilombola Pau de Leite, em Mirandiba, no Sertão Pernambucano, trabalha como agricultora familiar e destaca a importância da reconexão com os alimentos da terra. “As comidas ativam nossas memórias, assim como a oralidade e o ouvir. É isso que nos reconecta com a nossa ancestralidade”, revela a pesquisadora, que conta ainda a história do nome da cidade. “Diante de tantas tensões, era mais interessante dizer que o nome Mirandiba era indígena ao invés de reconhecer a origem africana. Nossa história foi silenciada de várias maneiras”.
A ligação com a terra também foi conteúdo da apresentação do babalorixá Jorge Roseno dos Santos. “Nós somos o fruto da resistência dos nossos antepassados. Quando eu cuido da terra, eu estou cuidando de mim. O mesmo acontece com os espaços sagrados. Cuidando deles, eu cuido de mim. Esse corpo tem uma conexão direta com a natureza, com a terra e com a lua, que influencia não só as marés, mas também os comportamentos humanos”.
O doutor em Filosofia e pós-doutor em Bioética, Marcelo Luiz Pelizzoli, encerrou as apresentações do seminário, destacando as principais referências bibliográficas sobre a temática e fazendo um arremate precioso sobre a conexão entre a ecologia e a vida humana. “O processo chave para fazer essa reconexão com a vida é quando a gente acessa o coração, o coletivo, a compaixão. A religião, a religação, é conectar o ser humano com a natureza. Essa é a revolução mais importante, o reenraizamento”.