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Seminário dedicado a Francisco Brennand foi além da difusão da obra do artista e trouxe à tona reflexões sobre museus, tempo e arte no Brasil e na América Latina
Um dos mais importantes artistas brasileiros, Francisco Brennand teve sua obra como objeto de intensa reflexão ao longo de cinco dias do seminário internacional realizado entre a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Oficina Francisco Brennand.
O evento fez parte das homenagens aos 50 anos da Oficina e à trajetória do artista plástico, que nos deixou em 2019. “O seminário internacional que a Fundaj e a Oficina realizaram sobre o grande artista Francisco Brennand foi para nós uma grande alegria, pois traz toda uma luz contemporânea e aprofundada sobre sua obra. Foi um sucesso e ficamos muito felizes com a parceria”, ressaltou o presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Antônio Campos.
Diretora Artística da Oficina Francisco Brennand, Júlia Rebouças também destacou a parceria entre Oficina e Fundaj e explicou que esse é apenas o primeiro de muitos frutos advindos da obra do artista pernambucano.
"Esse é um primeiro movimento deste novo momento da Oficina Francisco Brennand junto com uma instituição (Fundaj) que é muito importante, instituição tradicional de pesquisa, de salvaguarda da memória, da história. Então, ele é um de uma série de outros movimentos e eventos que faremos ao longo do tempo", disse.
Ainda de acordo com a diretora, eventos como o seminário são muito importantes, pois lidam com uma obra, um legado, que ainda tem muito para ser desdobrado, conhecido, pesquisado. "Acho que isso faz parte da missão da Oficina Francisco Brennand, abrir essa obra, abrir esse espaço, abrir todos os conceitos que permeiam esse espaco, para nosso tempo, para as questões que estão agora, que nos atravessam, que nos interessam. Sem dúvida, há obras para serem conhecidas individualmente, mas esse conjunto de valores que deu base, que deu território à construção desse projeto, ele também precisa ser atualizado, visto e debatido à luz das questões do contemporâneo", concluiu.
A programação do seminário intitulado “Francisco Brennand: a Oficina como Território” teve debates com pesquisadores brasileiros e estrangeiros, mostra de cinema e visita guiada à Oficina, localizada na Várzea, no Recife.
O evento teve início na quarta-feira, 21 de setembro, com abertura institucional realizada pela diretora de Operações da Oficina, Ingrid Melo, que exaltou o vínculo simbólico entre Fundaj e Oficina, dois espaços fundamentais para a cultura brasileira, e por Antônio Campos, que discorreu sobre a admiração pessoal que sempre teve por Brennand.
Uma mesa redonda também marcou o início das atividades, com participação da historiadora Betty Lacerda, coordenadora-geral de Documentação e de Estudos da História do Brasil (Cehibra), da Fundaj. Ela colocou à disposição de pesquisadores o importante acervo sobre Brennand disponível na Fundação.
O segundo dia do Seminário Internacional “Francisco Brennand: oficina como território” foi norteado pelo processo criativo do artista, relação de sua obra com o tempo e a arte no Brasil. O público presente acompanhou a conferência "Francisco Brennand, mestre do sonho no centro do mundo", ministrada pelo escritor e crítico Jacob Klintowitz.
No mesmo dia, uma mesa redonda discutiu a relação do ceramista pernambucano com o campo da arte e o século que se passou desde a Semana de Arte Moderna de 1922. O debate - mediado por Gleyce Kelly Heitor, diretora de Educação e Pesquisa da Oficina Francisco Brennand, contou com a participação da crítica de arte e curadora Clarissa Diniz e do Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Letras, da UFPE, Anco Márcio Tenório Vieira.
A sexta-feira encerrou o ciclo de palestras. Ticio Escobar (PY), diretor do Museu de Arte Indígena do Centro de Artes Visuais de Assunção, Paraguai, foi o conferencista do dia e discorreu, entre outros, sobre a teatralidade, encantamento e contemporaneidade na obra de Brennand.
Por fim, a mesa ‘Reflexões sobre museus de artistas: Oficina Francisco Brennand e seus processos’ trouxe importantes considerações sobre quais suas distintas naturezas institucionais e sobre como criar convivências entre o acervo, a espacialidade criada pelos artistas e outras poéticas.
Diretora do Teatro Castro Alves, Rose Lima analisou o papel dos museus, não somente como instrumentos para voltar ao passado, mas como mecanismos que influenciam diretamente na sustentabilidade das novas gerações.
Responsável pela mediação da mesa redonda, a Diretora Artística da Oficina Francisco Brennand, Júlia Rebouças, discorreu sobre essa necessidade de seguir promovendo a criação e não somente a investigação sobre a figura do artista.
E Paola Santoscoy, diretora do Museo Experimental El Eco, falou ao público por meio de videoconferência, direto do México, sobre a história desse espaço, desenhado pelo escultor Mathias Goeritz.
Visita
No sábado (24), como parte da programação do seminário, o público pôde conhecer as instalações da exposição "Devolve a terra à pedra que era: os 50 anos da Oficina Francisco Brennand". A visita foi guiada pela diretora artística da Oficina, Júlia Rebouças, que assina a curadoria ao lado de Julieta González, e acompanhada pelo presidente da Fundaj, Antônio Campos.
A mostra, que está em cartaz desde o ano passado, reúne pinturas, esculturas, desenhos e registros fotográficos de momentos marcantes da biografia do artista plástico. Entre as preciosidades estão ilustrações feitas para o texto "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, e um painel que reconta a Batalha dos Guararapes e a Insurreição Pernambucana.
Cinema
Além das palestras, o seminário dividiu com o público uma a Mostra Francisco Brennand de cinema composta por um recorte de filmes e cineastas que povoaram o pensamento criativo do artista pernambucano, um grande apreciador da sétima arte.
Aos 22 anos quando foi a Paris estudar pintura, Francisco Brennand iniciou um sensível processo de escrita que o acompanhou a vida inteira. Por meio dos registros em seus diários, nos quais relata a influência do cinema em sua vida e produção artística, o Cinema da Fundação buscou contemplar a memória afetiva do artista pernambucano. Entre os dias 21 a 25 de setembro, no Cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte, uma seleção composta por cineastas e longa-metragens que moldaram o pensamento crítico de Brennand puderam ser contempladas gratuitamente pelo público.
A mostra de cinema integrou a programação do seminário internacional “Francisco Brennand: a Oficina como território", colaboração institucional entre a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Oficina Francisco Brennand. Para além dos nove filmes selecionados, a mostra exibiu em seu primeiro dia de programação, na quarta-feira (21), às 20h, o documentário "Francisco Brennand" (2012), dirigido pela cineasta e presidente da Oficina Francisco Brennand, Marianna Brennand.
“Brennand era fascinado pelo cinema – uma “arte mágica”, como revelou ao trocarmos um e-mail para uma entrevista sobre o documentário, realizado pela sobrinha-neta Marianna, que leva o seu nome e é responsável por abrir essa pequena mostra de filmes que lhe interessaram ao longo de sua longa vida”, destaca o coordenador do Cinema da Fundação e da Cinemateca Pernambucana, Ernesto Barros.
Na quinta-feira (22), seguindo para o segundo dia da mostra, foram escolhidos para exibição na tela do Cinema da Fundação/Museu os filmes "Maluco Genial" (1958) e "Veludo Azul" (1986). O clássico britânico foi exibido primeiro, às 18h, e logo após o misterioso longa-metragem do cineasta David Lynch, às 20h.
A programação da sexta-feira (23) contou, em sua primeira sessão do dia, com a comédia “Fargo” (1996), dos cineastas Joel e Ethan Coen. Estrelado pela icônica Marlene Dietrich, o filme “O Anjo Azul” (1930) estava previsto para ser exibido logo em seguida, às 20h, mas teve a sessão cancelada devido a problemas técnicos no projetor da sala de cinema.
Apesar do imprevisto no dia anterior, o sábado (24) teve boa presença de público com a exibição do longa "Henrique V" (1989), às 15h, e mais uma produção dos irmãos Coen na mostra de cinema com "Barton Fink - Delírios de Hollywood" (1991), às 17h40. “A Trilogia As Mil e Uma Noites - Volume 1: O Inquieto", às 20h, foi responsável por encerrar as sessões de sábado.
O último dia do evento deu continuidade à trilogia “As Mil e Uma Noites”, do cineasta Miguel Gomes, ao exibir ao público do Cinema o “Volume 2: O Desolado”, às 14h, e em seguida o “Volume 3: O Encantado", às 16h30.