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Seminário da Fundaj promove e reflete sobre o papel da leitura no cuidado pessoal e coletivo
O mundo da arte e da literatura ocupou o campus Ulysses Pernambucano da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) nesta quinta-feira (12/12), no primeiro dia do III Seminário Mediação de Leitura. O evento é uma iniciativa da Fundaj, realizado por meio da Biblioteca Blanche Knopf, vinculada à Coordenação-Geral do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra), da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da instituição.
Com mesas, oficinas e outras atividades, o Seminário traz como tema principal “A Mediação Literária: autocuidado e cuidado coletivo”, que visa debater o papel da literatura e da arte no cuidado pessoal e interpessoal, discutindo estratégias e ferramentas que concretizem essa potência. As atividades foram voltadas para professores, profissionais e estudantes de áreas do conhecimento relacionadas, que atuam em bibliotecas ou centros de informação.
A mesa de abertura foi composta por Amaro Barbosa, chefe de Gabinete da Presidência da Fundaj, representando a presidenta da instituição, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, Túlio Velho Barreto, diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Nadja Tenório, coordenadora do Cehibra, e Veronilda Barbosa, coordenadora da Biblioteca Blanche Knopf. Túlio Velho Barreto parabenizou a iniciativa pela valorização da leitura, especialmente no contexto atual, destacando uma pesquisa recente do Instituto Pró-Livro que revelou que o número de não-leitores ultrapassou o de leitores no Brasil. “São números que mostram que a leitura ainda é algo bastante afastado da população devido à desigualdade social e à desvalorização dos saberes nos últimos anos”, disse.
Veronilda Barbosa ressaltou o compromisso da Fundaj com a promoção da leitura como uma difusora de sabedoria e conhecimento. “Nesse período pós-pandemia, vimos precisando rever nossos conceitos em relação a cuidar de si e do outro, percebendo que, através da leitura e da mediação de leitura, podemos ajudar a nós mesmos e ao coletivo.”
O evento seguiu com o momento cultural conduzido pela cordelista Érica Montenegro que destacou a potência das cordelistas femininas, como a pioneira Maria das Neves Batista Pimentel. Integrante da primeira turma de Mediação de Leitura da Fundaj, Érica enfatizou o compromisso da Fundação. “Aqui na Fundaj, a mediação de leitura não é algo descartável. É através dela que este solo também se torna sagrado e um lugar de reflexão”, declarou.
Na sequência, a bibliotecária Cida Fernandez, da Fundaj, prestou, em nome do Seminário, uma homenagem a Érica Montenegro e às cordelistas Suzana Morais e Mariane Bigio. “Somos muitas. Aqui estão três [cordelistas], mas saibam que, junto com a gente, de mãos dadas, este Seminário homenageia uma ruma de mulheres. Nós não andamos sozinhas”, destacou Mariane, ao abordar a invisibilização feminina no cordel.
Encerrando a programação matinal, foi realizada a mesa de debate “Literatura e Saúde Integral”, coordenada pela bibliotecária Cida Fernandez. O debate contou com a professora de biblioterapia amazonense Katty Anne Nunes. Ela relatou a implantação da biblioterapia na Secretaria de Estado de Saúde, por meio de iniciativas como clubes de leitura e destacou os desafios enfrentados em organizações que priorizam resultados. “É necessário nos ampararmos na linguagem do gestor que vai aprovar a proposta. Na Secretaria, utilizei a definição da OMS, que afirma que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas o estado completo de bem-estar mental e social.”
O diálogo foi enriquecido pela pedagoga Érica Verçosa, que compartilhou relatos sobre sua experiência com a biblioterapia para crianças acolhidas pelo Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC, destacando o potencial da literatura em promover o bem-estar das crianças e seus responsáveis. “Somos seres integrais. Nossa subjetividade conecta corpo, mente e espírito. Sem experiência com a arte — no nosso caso, com a literatura —, nos tornamos qualquer coisa, menos seres humanizados.”
Biblioterapia
À tarde, foi realizada uma roda de biblioterapia seguida de um exercício de escrita, mediada pela professora Katty Anne Nunes. “Esse encontro de ideias e pessoas, em torno de algo tão especial como o livro, é produtivo para levarmos aos nossos ambientes de trabalho, pensando em nosso público — sejam crianças, pessoas em hospitais ou mulheres em penitenciárias”, afirmou. Durante a oficina, foram explorados trechos de livros como Jamais peço desculpas por me derramar, de Ryane Leão, O Livro dos Ressignificados, de Aka Poeta, e “O Cooper de Cida”, do livro Olhos d’Água, de Conceição Evaristo.
Os momentos de leitura conduziram os participantes a reflexões sobre a qualidade do tempo, o valor de um abraço e o resgate de memórias, trazendo à tona questões sobre o que realmente é prioridade. “Foi um momento de reencontros: com professoras, com a literatura e consigo mesmo. Sempre há algo novo a descobrir em nós mesmos por meio dos livros e das vivências proporcionadas pela biblioterapia”, comentou Ana Paula Andrade, professora e coordenadora de biblioteca escolar na rede estadual de ensino.
Para encerrar o primeiro dia do Seminário, as poetas Amanda Timóteo e Cris Andrade apresentaram uma performance poética, trazendo ao encontro a experiência do Slam das Minas — um espaço de competição de poesias que também promove acolhimento, protesto e combate à discriminação.