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Segundo dia de escuta pública no Museu do Homem do Nordeste levanta questionamentos sobre desafios para a pesquisa nos acervos
Como podemos organizar nossas coleções, de modo a contarmos histórias mais justas? Partindo desta questão mobilizadora, o Museu do Homem do Nordeste (Muhne), equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), realizou, na sexta-feira (7), a segunda oficina da escuta pública para desenvolver o Plano Museológico 2025-2030. O encontro aconteceu na Sala Calouste Gulbenkian, no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte, e contou com palestras de Aline Montenegro, professora do Museu Paulista da USP, e de Maria Aparecida Moura, professora titular da Escola de Ciência da Informação da UFMG. Mediada pelo coordenador de Museologia do Muhne, Albino Oliveira, a mesa teve como tema central "Desafios contemporâneos para a pesquisa nos acervos".
Aline Montenegro compartilhou sua experiência no Museu Histórico Nacional, localizado no Rio de Janeiro, e os desafios encontrados a partir das demandas de memória e dos questionamentos sobre a história oficial do país. Utilizando como exemplo Maria Cambinda, uma máscara feita e usada pelos membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Ouro Preto, a professora falou sobre como a pesquisa pode se debruçar sobre o acervo para contar outras histórias. “Sem informação e documentação museológica bem produzida, a possibilidade de construir narrativas com os objetos fica muito reduzida.”
Já Maria Aparecida abordou temáticas como justiça epistêmica, formação discursiva, linguagem e colonialidade, provocando a reflexão a partir de questionamentos como de que maneira se constrói, do ponto de vista da linguagem, a memória, o que será relevante. O público fez intervenções, reflexões e perguntas. O coordenador de Museologia do Muhne, Albino Oliveira, falou sobre os desafios na área de documentação.
À tarde, os participantes foram divididos em grupos e produziram sugestões para o Plano Museológico, que foram amplamente debatidas e devem ser incluídas em uma síntese ao final do evento. De acordo com os grupos, é importante revisitar o acervo sob uma perspectiva de pesquisa contínua, incluindo a participação das comunidades representadas. Isso pode envolver a criação de acervos táteis e interativos, a disponibilização de materiais educativos para escolas, a elaboração de narrativas a partir dos objetos expostos e a exploração do significado de justiça expresso no museu.
A discussão também apontou que é essencial promover a participação e capacitação da comunidade local, resgatar ações e exposições anteriores do museu, incentivar a pesquisa contínua do acervo e estabelecer um protocolo de aquisição de peças que desafie as narrativas existentes. O acervo deve ser projetado para provocar perguntas significativas no público, e devem ser ampliados os meios de escuta para garantir uma abordagem inclusiva e participativa.
A presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, acompanhou a apresentação final do grupo e destacou a relevância da contribuição dos participantes para o planejamento institucional da Fundação Joaquim Nabuco.
Ao final dos debates, os participantes tiveram a oportunidade de visitar a exposição permanente do Munhe. Esse momento propiciou uma reflexão sobre a disposição da exposição, identificação de possíveis melhorias, autocrítica e avaliação da forma como as narrativas estão sendo transmitidas naquele espaço, à luz de todas as discussões ocorridas ao longo dos dois dias de oficina. “Considero a coroação do dia a visita à exposição no museu. Trouxe à prática as discussões realizadas. Identificamos alguns problemas e discutimos possíveis soluções. Acredito que a proposta do evento foi perfeitamente atendida: escutar, dialogar, problematizar e visualizar como as coisas estão sendo feitas e o que pode ser feito no futuro. As oficinas foram um sucesso e fico feliz por ter participado”, concluiu Gustavo Tiné, educador do Paço do Frevo.
As Oficinas de Reflexão Institucional para o desenvolvimento do Plano Museológico voltam na próxima semana, nos dias 13 e 14 de junho, com mais palestras e debates. Confira a programação:
13/06
Tema: "Educação e reimaginação institucional"
Questão mobilizadora: De que educação os museus precisam, hoje?
Palestrantes inspiradoras
Ariana Nuala é educadora, pesquisadora e curadora que se envolve com coletivos artísticos para discutir dinâmicas de poder, impermanência e diáspora. Atualmente, é gerente de Educação e Pesquisa na Oficina Francisco Brennand.
Shion L é pesquisadora, educadora e articuladora cultural, formada em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua como coordenadora do Bloco Escola, com ênfase no desenvolvimento de projetos, residências e programas públicos.
14/06
Tema: "Curadorias e exposições: Perspectivas contemporâneas para coleções históricas"
Questão mobilizadora: “Como os museus que salvaguardam um acervo histórico, antropológico ou etnográfico podem participar, de forma mais sincronizada, dos debates emergentes, contemporâneos e urgentes da sociedade?”.
Palestrantes inspiradores:
Alex Calheiros é professor no Departamento de Filosofia da UNB e diretor do Museu da Inconfidência em Ouro Preto (MG). É doutor em Filosofia pela USP.
Paulo Knauss é professor de História da Universidade Federal Fluminense. Participa do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do Conselho Estadual de Tombamento (CET-RJ) e do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA).
Serviço:
Oficinas de Reflexão Institucional para o desenvolvimento do Plano Museológico do Museu do Homem do Nordeste
13 e 14 de junho de 2024
9h30 às 17h
Sala Calouste Gulbenkian
Campus Gilberto Freyre da Fundaj
Avenida Dezessete de Agosto, nº 2187
Casa Forte Recife - PE