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Revista Ciência & Trópico é destaque no relatório 2023 do Programa Mega Cities, da Universidade de Columbia
O que mudou em quase seis décadas em Pontezinha e Pontes dos Carvalhos, localizados no município do Cabo de Santo Agostinho? Por quais transformações as famílias desses locais passaram entre 1965 e 2022, atravessados por grandes eventos políticos, sociais e econômicos? Pensando em responder essas perguntas, a antropóloga americana Janice Perlman desenvolveu o artigo “Quanto maior a mudança, maior a estagnação: Pontezinha e Ponte dos Carvalhos, Pernambuco, Brasil, 1965-2022”, publicado na edição comemorativa de 50 anos da Revista Ciência & Trópico, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O texto foi destaque no relatório anual de 2023 do Programa Mega Cities, da Universidade de Columbia.
A primeira visita da pesquisadora à Pontezinha e Ponte dos Carvalhos aconteceu em 1965, através do Projeto Cornell-Brasil. O grupo, formado por estudantes americanos e brasileiros, tinha interesse no desenvolvimento do Nordeste do Brasil e passou dois meses nas localidades. De acordo com Perlman, naquela época ela encontrou pobreza e desemprego, mas também forte mobilização civil dos moradores. Em Pontezinha, por exemplo, já havia uma Associação de Moradores eleita atuante, quatro clubes atléticos e uma escola de samba.
Quase 60 anos depois, Janice Perlman voltou às comunidades do Cabo de Santo Agostinho como pesquisadora visitante da Fulbright em cooperação com a Fundaj para desenvolver um trabalho de campo. Motivada por entender como os macroeventos nacionais e regionais afetaram a vida cotidiana local, ela buscava as pessoas que estavam presentes em sua primeira visita para fazer entrevistas em uma pesquisa longitudinal.
Dentre as transformações vivenciadas pelos moradores de Pontezinha e Ponte dos Carvalhos neste período, estão a incorporação do Cabo à Região Metropolitana do Recife, o fim da ditadura militar brasileira e o boom econômico do Complexo Industrial e Portuário de Suape. “Encontrar as pessoas que se lembravam daquela época anterior e me informar sobre o que tinha acontecido nas suas comunidades foi reconfortante...mas muitas das suas mensagens foram desanimadoras”, afirmou no artigo.
Além disso, a pesquisadora ressalta que, apesar da melhoria na educação, saúde, bens de consumo e materiais de construção, a população local teve sua renda estagnada. De acordo com ela, ainda, os bons empregos ficaram fora do alcance dos moradores, as relações sociais carregam, de certa forma, o legado da escravidão, e a degradação ambiental e o medo da violência reduziram a qualidade de vida das pessoas.
“Qual é o custo para a sociedade de ignorar ou excluir um grande número de cidadãos – perdendo assim os benefícios do seu capital intelectual, energia social, criação cultural atividade e poder produtivo?”, conclui Janice Perlman. O artigo completo publicado na Ciência & Trópico pode ser lido no link: https://periodicos.fundaj.gov.br/CIC/issue/archive.
Sobre a pesquisadora
Janice Perlman é uma pesquisadora da Universidade de Columbia, antropóloga pela Universidade Cornell e doutora em Ciências Políticas e Estudos Urbanos pelo Massachusets Institute of Technology (MIT). Ela é autora de “Favela: quatro décadas de transformações no Rio de Janeiro”, lançado pela editora da Universidade de Cambridge, e de “O mito da marginalidade”. É fundadora e coordenadora do projeto Mega Cities da Universidade de Columbia, organização que busca “reduzir o tempo de atraso entre ideias e implementação na solução de problemas urbanos”.
Sobre a Ciência & Trópico
A Revista Ciência & Trópico é um periódico semestral de caráter interdisciplinar, que abrange as Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciência Política e Ciência da Natureza. Temáticas nas áreas da Filosofia ao Meio Ambiente, Antropologia e Políticas Públicas podem ser abordadas nos trabalhos. Idealizada em 1973 pelo sociólogo Gilberto Freyre para incentivar a produção científica na área de Ciências Sociais, a Revista Ciência & Trópico já firmou parcerias com instituições como Universidade de Salamanca, Universidade de Vanderbilt, Aliança Francesa, Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), Centred'Etudes Spatiales de la Biosphère (CESBIO), Latin America Studies Association (LASA), Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), entre outras.