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Referência em educação, Silke Weber visita a exposição Mutirão na Fundaj e rememora atuação no Movimento Cultura Popular
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) teve a honra de receber, no dia 11 de junho, a renomada educadora Silke Weber, professora emérita da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que mergulhou em um mar de memórias ao visitar a exposição ‘Mutirão’. A mostra resgata os 64 anos do Movimento de Cultura Popular (MCP), do qual Silke fez parte ao lado de nomes como Germano Coelho, Anita Paes Barreto, Miguel Arraes (então prefeito), Paulo Freire, Paulo Rosas e Abelardo da Hora, entre tantos outros.
Silke Weber foi recebida pela presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, e pelo coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) e curador da mostra, Moacir dos Anjos, na Galeria Vicente do Rego Monteiro, campus Ulysses Pernambucano da Fundação, no Derby. Também acompanharam a visita o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Túlio Velho Barreto, a diretora de Formação Profissional e Inovação (Difor), Ana Abranches, e a coordenadora-geral da Escola de Inovação e Políticas Públicas da Difor, Luciana Marques.
“É uma grande honra receber Silke Weber, uma protagonista do Movimento Cultura Popular, que conduziu todos esses princípios, esse ideário ao longo do tempo. Todos que tiveram o privilégio de conviver com ela, inclusive como secretária de Educação de Pernambuco no período da gestão Arraes, beberam de uma fonte inesgotável de conhecimento. É, realmente, uma personagem importantíssima da história da educação no Brasil, com presença no exterior. Sua vida é uma demonstração de que mulheres impressionantes fazem parte desse legado do Brasil”, afirmou a presidenta Márcia Angela, que foi sua orientanda no mestrado em Educação e participante da equipe dirigente da Secretaria de Educação, à época 1957/1990.
Referência na educação do país, Silke Weber teve não apenas um momento de contemplação, mas uma jornada através do tempo. Ao percorrer os corredores repletos de documentos relacionados ao movimento, ela se viu transportada para uma era de fervor, onde as raízes da cultura popular brasileira se entrelaçavam com os anseios de transformação social. “Fiquei realmente impactada. Já imaginava o formato da exposição. Mas achei uma riqueza incrível. Me surpreendeu. Quero parabenizar Moacir e a Fundaj por terem ousado fazer isso, trazendo um documentário tão importante da nossa história, particularmente da história, da educação e da arte de Pernambuco. Com flashes importantes de vários momentos e várias iniciativas, fiquei impactada com coisas familiares porque convivemos com isso”, destacou.
A educadora iniciou sua atuação no MCP aos 20 anos e seguiu até os 24 anos, quando eclodiu a ditadura no país e ela seguiu para o exterior. No movimento, destacou-se pelo trabalho exercido nas Praças de Cultura, um projeto que reunia educação, cultura e saúde. O programa era um fiel retrato do MCP, combinava a difusão das manifestações da arte popular regional com a alfabetização de crianças e adultos, pretendendo elevar o nível de consciência política do povo e estimulá-lo à luta transformadora.
“Mutirão” reúne mais de 200 itens provenientes de diversas coleções públicas e privadas. São fotografias, folders, cartazes, documentos, filmes, objetos, jornais, livros e obras de artistas associados ao Movimento de Cultura Popular, como Francisco Brennand, Guita Charifker, Maria Carmen e Wilton de Souza. Além disso, a exposição apresenta objetos e fotografias de Dona Santa, cujo acervo foi confiado inicialmente ao MCP e posteriormente repassado à Fundaj.
Ao ver esses registros, Silke Weber sentiu cada lembrança tomar forma, sempre pontuando a memória que vinha à tona ao observar as peças. Nas fotografias, ela testemunhava a resiliência e o comprometimento que mantiveram o MCP pulsante, mesmo diante das adversidades. Era um retorno a um período de luta incansável, um resgate da essência de um movimento que, apesar de extinto, deixou marcas na história da educação no Brasil. Afirmou ter tido o privilégio de fazer parte da geração que aceitou o convite e adentrou no Movimento de Cultura Popular, o que o fez “com toda energia juvenil”.
A Fundaj, observou Silke Weber, merece reconhecimento por trazer à tona e divulgar o momento em que a educação pernambucana tinha tanto destaque e importância para cumprir o papel esperado de um país onde todos tenham acesso à educação e participem do debate público. “Foi especialmente significativo tornar a educação uma prioridade na política municipal. A educação promovida pelas escolas do MCP e o sistema escolar foram os pilares da Secretaria Municipal de Educação do Recife. A partir disso, o estabelecimento de concursos, recrutamento de professores e todos os debates que se seguiram permanecem até hoje. Não fomos os primeiros a fazer isso, mas soubemos coordenar com artistas, professores e intelectuais que decidiram enfrentar os desafios da escolaridade infantil e do analfabetismo adulto, que eram verdadeiras chagas nacionais”, concluiu.
Amiga e antiga colaboradora de Silke durante sua gestão na Secretaria de Educação de Pernambuco (1987/1990 e 1995/1998), Maria das Graças Correia de Oliveira também esteve presente na visita. Como integrante da Divisão de Educação da Sudene, foi convidada a participar de reuniões do MCP nos anos 1960. “Fui convidada pelo MCP a visitar a Praça de Cultura. Na época, estava em andamento um projeto na Amazônia Maranhense, e a ideia era levar experiências daqui para lá. Fiquei impressionada. Foi algo completamente diferente, desde o clima até a quantidade de pessoas envolvidas”, pontuou.
“Foi uma alegria receber a professora Silke Weber na exposição Mutirão. Ela é uma pessoa que formou gerações aqui em Pernambuco na área de Sociologia. Ela teve uma participação ativa muito jovem no MCP e foi coordenadora do programa de Praças de Cultura, nos dando um depoimento vivo sobre o que foi estar naquele momento, naquele contexto. Foi um depoimento sobre a efervescência política e cultural que existia na época, o desejo de transformação de algo coletivo que estava em jogo e como isso marcou toda a sua trajetória, que foi moldada pela convicção do poder transformador da educação e da cultura. Tê-la na exposição foi muito gratificante para todos nós que fizemos a exposição”, concluiu Moacir dos Anjos.