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Primeiro dia de debates do “Vivenciando a Caatinga” evidenciou potencialidades culturais e medicinais do bioma
Riquezas do solo, difusão e investimentos nas potencialidades do único bioma exclusivamente brasileiro permeou o primeiro dia (27) do ciclo de debates “Vivenciando a Caatinga”. Ao longo de três mesas redondas, os diálogos percorreram tópicos como a logística benéfica dos Geoparques, turismo, conservação e valorização das áreas de preservação. A programação é promovida pela Coordenação-Geral do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Fundação Joaquim Nabuco. Amanhã (28), Dia Nacional da Caatinga, o evento será encerrado com um novo ciclo, no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte.
“Pode-se dizer que a Caatinga é um bioma de oportunidades e potencialidade para pesquisa, projetos nas áreas de empreendedorismo, biodiversidade, energia renovável e inovação tecnológica. Seu futuro requer ações imediatas que promovam inclusão e justiça social.” A fala de abertura foi do presidente da Fundação, Antônio Campos, que reforçou a possibilidade de uma sociedade próspera economicamente em harmonia com a conservação da rica biodiversidade regional.
Na primeira rodada de palestras, o tema foi “Geoparque: Meio Ambiente e Cultura”. Participaram o professor Marcos Nascimento (coordenador científico do Geoparque Seridó e professor do Departamento de Geologia da UFRN); e o professor Patrício Melo (Geoparque Araripe - URCA). O diretor de Pesquisas Sociais da Fundaj, Luís Henrique Romani, mediador da mesa, chamou atenção sobre a importância de despertar o olhar para o futuro e para a conservação. “O que falamos aqui é de empreendedorismo social, de inovação social. Dois conceitos que pesquisamos e trabalhamos e, às vezes, as pessoas pensam que empreendedorismo é só o empresário que abre um novo negócio. É preciso que a conservação tenha suporte para que as populações possam viver bem no entorno destas áreas.”
Chancelado pela Unesco no último dia 13 de abril, o Geoparque Seridó passou a integrar o programa internacional de Geociências e Geoparques. O trabalho desenvolvido na região, segundo o professor Marcos, tem como tripé básico a conservação, educação e o turismo. O professor Patrício Melo elencou algumas ações importantes da Reserva da Biosfera da Caatinga da Unesco. Uma delas trata da criação de cenários que possam projetar informações sociais, ambientais e econômicas, visando a construção de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. “Você poderia ter um parque natural onde não tem nenhuma comunidade habitada, mas não poderia ter um geoparque sem pessoas”, disse. Participaram também da palestra os representantes do Conselho da Reserva da Caatinga, Marcelo Teixeira e Roberto Gilson.
Iniciando a parte da tarde, os participantes do evento contaram com uma importante exposição sobre o tema “Riquezas da Caatinga: potencial oleaginoso e medicinal”. “Olhando para o ponto de vista federal, a PEC 504/10 busca reconhecer a Caatinga como patrimônio nacional, mas também temos o dever de valorizar e reconhecer essa área”, iniciou a professora Dra. Alecksandra Vieira de Lacerda, da UFCG.
Em seu campo de pesquisa, ela procura entender as potencialidades do bioma de formas qualitativa e quantitativa. Aprofundando-se no aspecto das interações dos sistemas ecológicos, a pesquisadora levantou componentes que caracterizam a vegetação. Segundo ela, o principal elemento a ser observado é a sazonalidade. “A variabilidade de clima e a resistência das espécies não são problemas, são potenciais. Não é algo ruim, apenas precisamos conhecer as especificidades para saber lidar da melhor forma”, afirmou. Seu grupo de pesquisa observa possibilidades desde as sementes, mapeando variabilidades para alcançar padronizações químicas e produtivas.
Encerrando a mesa da tarde, a professora doutora Suzene Izídio, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, fez uma rica exposição sobre o potencial oleaginoso da Caatinga. Em seus estudos de substâncias bioativas, ela encontra teores de óleo de 29% a 46% e também ácidos graxos essenciais, em famílias botânicas pertencentes à vegetação. “Ainda temos muitas pesquisas pela frente. Podemos descobrir muito mais. Precisamos continuar conhecendo o bioma, porque ninguém ama o que não conhece”, afirmou.
A última Mesa do dia tratou do tema “O Instituto Nacional do Semiárido na Preservação da Caatinga”. Em sua apresentação, o diretor substituto do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Emmanuel Moreira Pereira, falou sobre o trabalho do INSA, direcionado aos habitantes locais do semiárido. “Nosso modelo é tentar ser o mais tecnológico possível. Montamos propostas para o pequeno agricultor, com objetivos sustentáveis para tornar o semiárido mais habitável para ele”, afirmou.
Já o professor Dr. Flávio Duarte, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, compartilhou pesquisas relacionadas ao potencial de aproximação que o bioma tem de se aproximar cada vez mais da agricultura. Ele falou sobre a conservação de florestas nativas, e sobre as plantas que não são muito valorizadas, para as quais se pode ter novas visões, a partir de um manejo adequado. “Precisamos deixar de ver a Caatinga como um problema e adaptá-la às necessidades das famílias residentes em suas áreas”, afirmou.
Programação
Nesta quinta-feira (27), o “Vivenciando a Caatinga” promoverá mais três mesas temáticas. Serão discutidos assuntos como educação contextualizada no semiárido, conservação do bioma, produção de alimentos em meio a emergências climáticas e a economia circular brasileira.