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Pesquisadores da Fundaj avaliam evasão escolar durante pandemia da Covid-19
Em 2021, houve uma redução de 1,3% de matrículas nas escolas de educação básica do Brasil. A evasão escolar de 627 mil alunos no último ano se deu, em sua maior parte, por conta do contexto pandêmico global. As informações foram divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), por meio do Censo Escolar de 2021. A partir dos dados apresentados no documento, o Centro de Estudos de Cultura, Memória e Identidade (Cecim) da Fundaj lançou uma Nota Técnica. Fizeram parte da avaliação, os pesquisadores: Wilson Fusco, Morvan de Mello Moreira, Ana Abranches e Darcilene Cláudio Gomes.
Segundo a nota, apesar da queda de matrículas ser uma realidade observada ao longo dos anos anteriores à pandemia, até 2019, existia uma ampliação de atendimento escolar às crianças brasileiras. “Efeitos da pandemia causada pela covid-19 teriam provocado a queda na tendência de ampliação da cobertura de atendimento escolar nas etapas da Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental no Brasil”, afirmou o pesquisador Wilson Fusco.
Em um primeiro gráfico, a avaliação dos pesquisadores apresenta o atendimento escolar público e privado às crianças de 0 a 5 anos. Em 2020, foram registradas 143 mil matrículas a menos do que no ano anterior (-1,6%), e em 2021, foram registradas 510 mil a menos do que em 2020 (-5,8%). “As escolas públicas apresentaram crescimento ainda em 2020, mas anotaram queda em 2021 (-1,5%). Entretanto, proporcionalmente, muito inferior ao que foi observado nas escolas particulares. As mesmas perderam 7,1% de seus alunos, entre 2019 e 2020, e 17,8%, entre 2020 e 2021, na Educação Infantil. São as maiores quedas percentuais observadas no período, em todas as etapas de ensino no Brasil”, afirmou a pesquisadora Ana Abranches.
A avaliação também apresenta os dados das matrículas do Ensino Fundamental 1 no Brasil. Em 2020 e 2021 a diminuição de matrículas foi de 1,5% e 1,7%, respectivamente. As escolas privadas tiveram as maiores quedas. Em 2020, foi de 2,3%, e em 2021, de 7,1%. Nesse mesmo período, as matrículas nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio aumentaram. A escola pública foi a principal agente desse aumento de cobertura, já que a privada teve sua participação diminuída, a partir de 2019, nos anos finais do Ensino Fundamental, e ficou estável no Ensino Médio nesse período.
“Assim, o cenário da Educação Básica no Brasil deixa evidente que foram as etapas de ensino da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental que apresentaram redução do número de matrículas com correspondente diminuição da cobertura de atendimento, com destaque para a redução observada nas escolas privadas”, afirmou a pesquisadora Darcilene Cláudio Gomes.
Avaliando cada região do País, os pesquisadores apontaram a Região Nordeste como a que teve a maior queda no número de matrículas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Em 2021, a região acumulou uma diminuição de 6,1% no número de matrículas em relação a 2019, representando uma queda de mais de 410 mil matrículas. Olhando para os estados do Nordeste, no que diz respeito à Educação Infantil, o estado de Pernambuco foi o mais afetado, tendo uma diminuição de 13,6% em 2021, em relação às matrículas de 2019. Já em relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental, Alagoas foi o estado com maior queda no número de matrículas, entre 2019 e 2021, com 7,4%.
Analisando objetivamente a influência da Covid-19 nesse cenário de evasão escolar, acredita-se que o mesmo deu-se, por um lado, em função da suspensão de atividades presenciais. “Para as crianças de até 10 anos de idade, a atividade desenvolvida em modo remoto, quando possível, não era eficaz no cumprimento de seus objetivos, e provavelmente é responsável por grande parte das ausências verificadas. Por outro lado, a falta de crianças matriculadas na escola privada provocou o fechamento de muitas delas, questão que merece aprofundamento específico”, afirmou o pesquisador Morvan de Mello Moreira.
Ao final da avaliação, os pesquisadores concluem que, além da pandemia, de questões ligadas à qualidade da educação brasileira e outras disfunções do sistema de ensino, existem ainda outros fatores que contribuem para a redução das matrículas nos anos básicos da educação brasileira, como, por exemplo, os problemas de absorção da força de trabalho. “Em consequência, os impactos negativos sobre o futuro da sociedade brasileira estão em evidência. Superados os impactos imediatos da crise, retomada a situação prévia à pandemia, ainda assim restará um resultado previsível das marcantes perdas na educação, principalmente para as frações menos aquinhoadas", afirmou o pesquisador Wilson Fusco.