Notícias
Papel da literatura na humanização da sociedade e luta antirracista marca seminário na Fundaj
Práticas transformadoras e reflexões sobre o papel da literatura na humanização dos indivíduos marcaram o segundo dia do II Seminário “Mediação de Leitura: construindo sentidos para a prática” - O Direito Humano à Literatura e Oficinas. Promovido pela Biblioteca Blanche Knopf, da Coordenadora-Geral do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira (Cehibra), vinculada à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o evento aconteceu nos últimos dias 15 e 16, no campus Ulysses Pernambucano, no Derby, e teve como objetivo reunir educadores, ativistas culturais, bibliotecários e interessados na temática para debater sobre a construção de políticas públicas de leitura e escrita e a literatura como manifestação intelectual e cultural potente.
"Esse programa que todo mundo aqui está envolvido é da maior importância. Quando a pessoa tem acesso à literatura, se abre um mundo novo sempre. Vocês são mediadoras e mediadores dessa atividade com crianças e jovens e têm muita responsabilidade", disse a presidenta da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), a professora doutora Márcia Angela Aguiar, na mesa de abertura. O diretor da Dimeca, Túlio Velho Barreto, destacou o momento como muito importante para a Fundaj, pois a Instituição é engajada nessas questões. "O grau de conhecimento que nos traz os livros é algo difícil de ser alcançado de outra forma, que não a dedicação à leitura, e ter pessoas, cada vez mais, capacitadas na mediação dessa leitura é fundamental".
Coordenadora-geral do Cehibra, Nádja Tenório, adiantou que há intenção de expandir a capacitação de professores de bibliotecas para o interior do Estado. “É um curso que precisa crescer, ampliar. É necessário que os professores sejam preparados de maneira que a leitura fique ainda mais estimulante para os alunos". A mesa de abertura também contou com a presença da coordenadora da Biblioteca Blanche Knopf, Veronilda Barbosa, das representantes do curso Mediação de Leitura: construindo sentidos para a prática, Érica Verçosa, e do Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, Élida Noya.
A abertura foi seguida da homenagem às escritoras Lenice Gomes e Inaldete Pinheiro. A contadora de histórias, Carminha Moraes, cantou, dançou e contou histórias escritas por Lenice Gomes, que completou 30 anos de caminhada literária. Espelhadas pela avó Carminha, as netas Mallu e Thainá, também fizeram apresentações. Já na roda de conversa coordenada pela bibliotecária atuante na implementação e desenvolvimento de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias Cida Fernandez, os participantes trataram de experiências, por meio de processos formativos de capacitação de mediação.
A escritora Fabiana Maria, autora de “Cabelos de redemoinhos", destacou a dificuldade de escritoras negras no mercado editorial. "É importante ações dentro da leitura de livros, que propiciem a divulgação, a difusão e a promoção de livros de escritoras negras. A gente precisa de visibilidade. Nossa literatura faz parte da literatura do Brasil." Participaram da conversa, representantes do Centro de Estudos em Educação e Linguagem, Maria Helena Dubeux, do Seminário Biblioteca na Escola, Déborah Echeverria.
Segundo dia
A programação do segundo dia começou com a apresentação cultural “Recife negro”, do intérprete-criador Orunmillá Santana. O artista destacou que a performance “é um pouco da trajetória do que é o caminho negro na cidade, as culturas que nós construimos, nas calçadas, nas ruas. É a ancestralidade dessa cidade construída por mãos negras”. Em seguida, a Sala Aloísio Magalhães recebeu a roda de conversa “Literatura como Direito Humano”, que discutiu o sentido da literatura na humanização da sociedade e como um direito na construção das Políticas públicas para o Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas em Pernambuco. A conversa foi mediada por Cida Fernandez, que celebrou o bate-papo sobre o tema, e teve como participantes as escritoras Odailta Alves, Fabiana Maria e Inaldete Pinheiro.
Oficinas
Uma miscelânea de oficinas marcou o II Seminário “Mediação de Leitura: construindo sentidos para a prática”, com as temáticas das oficinas se entrelaçando e ressaltando a importância de uma literatura plural como direito a ser garantido. Logo no primeiro dia (15), a escritora e pesquisadora Keise Barbosa e a bibliotecária e ativista Cida Fernandez facilitaram as oficinas “Mediação da literatura africana e afro-brasileira” e “Literatura e Direito Humano”, respectivamente.
Co-autora do livro “Ayà mi o Já!- Eu não Tenho Medo”, Keise Barbosa falou sobre a escrita e a leitura como fontes de potência, exaltação da identidade e pensar da ancestralidade. Sobre sua obra, feita em parceria com Jamila Marques, ela destacou: “A gente sabe que a experiência das pessoas negras vai ser atravessada pela dor em algum momento porque nós vivemos numa sociedade racista, mas nós queríamos uma literatura que potencializasse as infâncias. O livro nasce a partir do cruzamento das experiências minhas e de Jamila”. A oficina contou, ainda, com uma parte prática. Os participantes fizeram um exercício de pensar e escrever memórias de suas infâncias.
No sábado (16), os participantes participaram de quatro rodas de conversas. Foram apresentadas as oficinas “Narração de histórias afro-brasileiras”, ministrada pela pedagoga e contadora de histórias Roma Júlia, “BrinContáLê (Leitura para bebês)”, apresentada pelo ator e escritor Luciano Pontes, “Mediação da Literatura Infantil”, pela escritora Érica Verçosa, e “Escrita Criativa”, pela escritora Odailta Alves, que foi responsável por encerrar, com a sua oficina, o ciclo de atividades neste evento.
Ilustrador, escritor e palhaço atuante no grupo Doutores da Alegria, Luciano Pontes levou a oficina “BrinContáLê (Leitura para bebês)”. O oficineiro “brincou” com sons, cores e sensações provocadas pelo manuseio de tecidos e livros, mimetizando o espírito lúdico presente nas vivências infantis. Para Érica Verçosa, as histórias da sua avó serviram para abrir um mundo de possibilidades criativas. Foi por meio dessa troca afetuosa que a escritora se aproximou dos livros e entendeu que é na infância que esse contato precisa ser estimulado. A oficineira reforça que o evento proporcionado pela Fundaj é um ato de resistência. “São nesses encontros que percebemos o impacto da parceria entre escritores e o poder da partilha das histórias”, comenta a escritora.