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Palestra na Fundação Joaquim Nabuco aborda os impactos da desinformação no WhatsApp
Foi realizada na tarde desta terça-feira (14) a palestra "O lado sombrio dos WhatsAppers no Sul Global", promovida pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do Centro de Estudos de Cultura, Identidade e Memória (Cecim) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes). A apresentação foi ministrada pelo doutorando da Universidade de Coimbra Sérgio Barbosa na sala Gilberto Osório, no Campus Anísio Teixeira da Fundaj, em Apipucos, com supervisão do pesquisador da Fundação Joanildo Burity.
Sérgio introduziu a discussão apresentando informações sobre os principais aplicativos de bate-papo utilizados hoje, como o Signal, plataforma considerada mais segura, o Telegram, atrativo por seus recursos, e o WhatsApp, sendo de longe o mais utilizado. De acordo com o pesquisador, em meio a uma sociedade que cada vez mais está conectada a plataformas digitais de bate-papo, é preciso analisar impactos e caminhos para evitar a disseminação de desinformação nestes espaços. No recorte brasileiro, por exemplo, o uso do WhatsApp como fonte de conteúdo jornalístico chega a 48%, segundo dados da Pesquisa do Instituto Reuters.
“Este debate é importante, pois cada vez mais os brasileiros e brasileiras recebem informações via plataforma de bate-papo, principalmente WhatsApp. Então, estudar a desinformação nos ajuda a pensar antídotos de como evitar esse compartilhamento no domínio de grupos públicos e privados”, afirmou Sérgio. A relação entre a política e o WhatsApp foi tratada na ocasião. O tema é linha de pesquisa de Sérgio, que explora as formas emergentes de participação política e as possibilidades oferecidas pelos aplicativos de mensagens, enfatizando o uso do WhatsApp no ativismo digital, tal como as interações em grupos. Foram apresentados casos de desinformação viralizada no WhatsApp nas eleições de 2018 e 2022, mostrando que houve disseminação de desinformação no Brasil em ampla escala.
Pesquisador da Fundaj e supervisor da apresentação, Joanildo Burity ressaltou a relevância da pesquisa realizada por Sérgio Barbosa. “É um trabalho de grande relevância social, teve nas duas últimas eleições uma grande relevância política e trata de dimensões das nossas relações culturais, da vida cultural da sociedade, como a comunicação é compartilhada, como as pessoas interagem e como certos temas sociais são debatidos em espaços que não são mais os espaços públicos dos grandes eventos, das manifestações, dos protestos, mas em grupos menores e, às vezes, privados, que por ligação de confiança ou afinidade se encontram nesses espaços restritos para discutir questões que são públicas”.
Sul Global
O doutorando contextualizou a atuação da rede social em países do hemisfério sul, relacionando-a à formação de grupos manifestantes, religiosos e extremistas afetando a democracia. Em sua apresentação, ele mostrou que “os aplicativos são criados no norte global com objetivo do simples uso para conversa entre grupos de mesmo interesse, mas a plataforma de mensagem assume múltiplos significados e diferentes usos e reapropriações no sul global”. Barbosa também tratou do sul global como uma metáfora para o “sofrimento humano causado por formas opressoras, como capitalismo, colonialismo, patriarcado - bem como emergentes de luta e resistência por grupos sub-representados (as)”.
Sobre o termo WhatsAppers e o lado sombrio, Sérgio trouxe a sua definição como indivíduos que apropriam o WhatsApp para mobilização política podendo acumular funções pessoais, familiares, profissionais para fins de natureza política. Esses indivíduos se mobilizam de forma rápida e barata, minimizando o peso da distância geográfica e da infraestrutura organizacional.
Caminhos
Na palestra foi explicado, também, o conceito de literácia digital que promove o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes para prover engajamento duradouro, seguro, gradual e crítico com as plataformas. “Ao longo dos tempos, temos de prestar também atenção a propostas educacionais que levam em conta o longo prazo. Se hoje conseguimos investir em sessões pedagógicas de literácia digital, conseguimos trazer novas formas de combater a desinformação nas plataformas e principalmente no domínio das plataformas de mensageria”, concluiu.
Sérgio Barbosa
Aluno do do programa de doutoramento “Democracia no século XXI”, do Centro de Estudos Sociais junto à Universidade de Coimbra, Sérgio foi premiado com uma bolsa de doutoramento FCT - SFRH/BD/143495/2019 (2020-2024), já tendo passado pela Ryoichi Sasakawa Young Leaders Fellowship Fund, financiada pela Tokyo Foundation for Policy Research (2019-2020). Atualmente, é pesquisador visitante no Instituto de Estudos Avançados em Ciência, Tecnologia e Sociedade, Graz.
Ele também foi pesquisador visitante no (Instituto de Ciências Humanas, no Centro de Estudos Avançados de Internet, na Universidade de Cabo Verde, na Universidade de Monash, na Academia Austríaca de Ciências, na Universidade de Münster, na Universidade de Glasgow, na Universidade de Utrecht (2021) e na Universidade de Amsterdã, entre os anos de 2019 e 2023. O doutorando também é afiliado ao Centro de Informação, Tecnologia e Vida Pública da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Estados Unidos, desde 2022.
A palestra está disponível no Youtube da Fundaj.