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Oficina Palavras Dançadas aborda o papel do corpo na educação
Um chamado à reflexão sobre a necessidade de novas aprendizagens, novas linguagens e conexões que envolvem corpo e mente, razão e emoção. Assim foi a Oficina Palavras Dançadas, realizada no Sesc Santa Rita, Recife, no sábado (29). O encontro, que chegou a sua segunda edição com o tema Corpos e Circularidades nas Artes do Educar, tem participação da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da equipe do projeto "Comunidades Educativas: estudos dos modos de ensinar e aprender o saber-fazer", que o pesquisador Maurício Antunes coordena junto com a pesquisadora Edneida Cavalcanti, coordenadora do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist).
“A pesquisa realizada no âmbito da Fundação Joaquim Nabuco reflete o papel do corpo na educação, trazendo a dimensão da educação sensível, que se baseia na experiência e na perspectiva estética. A oficina segue o pensamento de Paulo Freire, que fala de corpos conscientes, uma ideia que permeia sua obra e faz ponderação do corpo como síntese cultural, que aprende por inteiro. É essa a motivação dessa oficina, que convida a mover-se e mover o mundo”, disse Edneida.
Gratuita e aberta a todos os públicos, a Oficina abordou com os presentes a circularidade dentro do educar, o autoconhecimento e a coletividade de forma lúdica e integrativa. E ficou evidente que as danças circulares - abordadas na ocasião - permitem o trabalho com temáticas diversas, é um convite a conexão com a natureza através da dança e de vivências sobre o chão da interculturalidade.
Doutor em Ciências da Educação, Alvaro Pantoja viveu 30 anos no Recife trabalhando com educação popular e, há anos, trabalha com danças circulares. “Há mais de 20 anos que me encantei com essa prática e incorporei no meu trabalho e em aulas, cursos, oficinas e encontros sempre trago as danças circulares. Como educador, considero uma prática especial, que promove conhecimento e autoconhecimento, é uma dinâmica que permite trabalhar com o corpo, sair desse registro de fala, fala, aula aula, discurso, ela recupera a educação da pessoa inteira a partir do corpo”, afirmou.
A oficina está inserida no campo dos estudos culturais em educação, na compreensão de que a educação possui sentido amplo e transita por textos e práticas diversas. “O projeto Comunidades Educativas se dedica a estudar grupos coletivos que se organizam em torno de objetivos comuns e que crescem a partir de um processo de aprendizado mútuo, que se dá normalmente fora do ambiente acadêmico, fora dos trâmites escolares. Não é só estar fora da escola, mas a forma como se organiza. Esses grupos têm um aprendizado que é da ação, do fazer aprendendo e ensinando coletivamente. Por isso, como o coletivo das danças circulares vem crescendo coletivamente, aprendendo e fazendo, construindo junto, ele faz parte da pesquisa”, afirma Maurício Antunes. A pesquisa desenvolvida na Fundaj também acompanha grupos populares, como o Vida Verde que atua em questões ambientais e sociais na Várzea, Zona Oeste do Recife.
Oficina
Para iniciar o dia, os participantes tiveram um primeiro momento de movimento livre, de conhecimento do espaço, seguido de um diálogo sem palavras com parceiros/as, apenas por meio das expressões corporais. Ao redor de uma cuia indígena com flores e outra de barro feita por mulheres quilombolas, o grupo dançou em torno desse centro, deixando que a emoção tomasse conta.
Após o aquecimento e soltura corporal, foram realizados três ciclos de danças intitulados: O Pulsar da Diversidade, Encontros e Bonitezas e Circularidades e Imaginação. Além disso, houve pausa de almoço, roda de conversa e o fechamento “Seguindo na Roda da Vida". Também participaram os focalizadores Alcides Martins, Álvaro Pantoja e Juanna Silvestre, além de Renata Ramos, que coordena o espaço da biblioteca do Sesc Santa Rita, parceira dessa iniciativa.
Emocionada, a funcionária pública Ana Maria Lima falou sobre a experiência de participar do encontro. “Está sendo maravilhoso, fico muito emocionada, nem sei como expressar, esses momentos são de uma riqueza de energia grande, já participei de rodas em Olinda, e toda oportunidade que tenho para contactar com as pessoas, eu venho e venho feliz”, comentou.
Uma das focalizadoras da oficina, Juanna Silvestre explicou a temática escolhida para 2023. “Palavras Dançadas é uma oficina que neste ano tem a temática de circularidade dentro do educar. E o que é essa circularidade? Ela vem de uma ideia de contemplar a vida de forma mais flexível, mais maleável, uma tentativa de não burocratizar tanto a vida. Claro que precisamos das fundações que dão sustentação, mas precisamos desse lado subjetivo, poético, mais circular”, comentou.
O cuidado consigo mesmo e com o outro se fez presente na oficina, um momento marcado pela ausência de hierarquias, com olho no olho, ombro a ombro. “A ideia é juntar a dança circular com a educação já que ela faz parte de uma atividade integrativa e unir isso, também, com a pedagogia de Paulo Freire. Esse trabalho é importante, pois traz pessoas que não temos conhecimento, são pessoas das mais diversas áreas. Possibilita que novas pessoas conheçam as danças circulares e levem a outros lugares o que é muito bom, pois apesar de ser um movimento mundial, ainda há pouco espaço para se fazer dança circular no Recife. Vou representar o Nordeste em São Paulo, lá elas são apoiadas e precisamos disso aqui, onde já há apoio da Fundaj do Sesc”, concluiu Alcides Martins Júnior, focalizador de danças circulares.