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Museu do Homem do Nordeste lança livro com história em 40 peças
Que as obras disponíveis em um museu contam histórias, todo mundo sabe. Mas o modo que estas obras contam a história do equipamento onde são exibidas é algo que nem todos se perguntam. Em 2019, o Museu do Homem do Nordeste (Muhne), da Fundação Joaquim Nabuco, atingiu a marca de 40 anos de atividade. Na ocasião, a festa foi celebrada com a intervenção expográfica “40 anos, 40 peças”. Agora, estes mesmos objetos museais podem ser levados para casa por meio do livro “Museu do Homem do Nordeste em 40 objetos” (Editora Massangana, 2021), organizado pelos museólogos Henrique Cruz e Marília Bivar.
Henrique Cruz recorda a idealização e produção do projeto. “A escolha foi feita por servidores e monitores do Educativo e do Museu. Chegamos à escolha dos 40 objetos por diferentes motivos”, conta. “Não é um catálogo, são textos com pesquisas e levantamento de fontes sobre cada objeto assinados pelos funcionários. Um compilado sobre estas peças, que tem função de publicação de estudos de acervos. Trazemos como princípio que cada objeto tem sua biografia, uma vida anterior, com seu uso, e depois de um processo de musealização, como a doação ou aquisição, a catalogação e a participação em exposições”, destaca o museólogo.
Ao longo de 255 páginas, o leitor experimenta uma imersão nos universos revelados por cada peça. Desde o caráter religioso e devocional de ex-votos, aqui representado pelo coração de madeira produzido no município de Quebrangulo, Alagoas, até as imagens de Santa Inês e Santa Luzia. A indumentária de Oxalá, datada de 1979, também pode ser conferida junto ao seu inseparável opaxorô, como chama o cajado sagrado desta divindade africana. Modelado pelas mãos do babalorixá Manoel Papai, o assentamento de Exu chegou ao acervo na década de 1980.
Fibra de caroá e penas compõem o praiá, do povo Pankararé. A peça foi produzida em 2008, no município baiano da Glória. A seleção foi da coordenadora do Educativo do Muhne, Edna Silva, que divide a pesquisa com a educadora Elida Nathalia. “Ela foi escolhida pela importância que tem nos processos de mediação sobre os povos originários. Uma peça que traz várias possibilidades acerca dos ritos, da resistência e ocupação dos indígenas. O praiá é grande e gera um impacto visual importante”, observa Edna, frisando que o objeto é mote para destacar o número de povos no Nordeste, suas localizações e formas de cultos.
Entretanto, para outros a intimidade foi construída durante a pesquisa. Foi o caso da educadora Jamille Barros, que escreveu sobre a escultura de Santa Luzia. “Como mediadora, passava por ela com frequência no Corredor das Religiões. É uma peça produzida por uma mulher: Antônia Leão. Estes foram fatores que me levaram a investigar mais a respeito. Conheci um pouco da trajetória da artesã em cidades consagradas pela arte no barro, que são Goiânia e Tracunhaém. Ela ocupou dentro de uma instituição um espaço corriqueiramente voltado para a produção masculina. Isso é potente, diz sobre a força de quem produz e, claro, da santa", relata.
Serviço
Lançamento do livro “Museu do Homem do Nordeste em 40 objetos”
Local: Museu do Homem do Nordeste (Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte, Recife)
Data: 19 de agosto de 2021
Horário: 10h30