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Muhne homenageia Semana da Consciência Negra com Coco Miudinho da Xambá e programação especial para turma da EJA
O projeto “Uma Noite no Museu”, do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), teve uma programação especial, nesta quarta-feira (23), com uma homenagem à Semana da Consciência Negra.
O Muhne recebeu um grupo da Educação para Jovens, Adultos e Idosos (EJA) da Escola Municipal Mércia de Albuquerque Ferreira, localizada no bairro Ilha do Retiro, que acompanhou uma atividade promovida pela Casa Xambá, parceira da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
No início da atividade, a antropóloga e coordenadora da Divisão de Estudos Museais do Muhne, Ciema Mello, ressaltou a importância da tradição Xambá. “A nação Xambá é um exemplo de seriedade, respeitabilidade, sabedoria, luta e resistência. É um orgulho para Pernambuco, uma referência na produção dos cultos africanos. Vocês são o futuro, têm responsabilidade de continuar com a tradição dessas pessoas, desses heróis, pois houve um tempo difícil, no qual era preciso coragem para manter e defender a tradição que veio da África. É uma alegria, uma honra receber vocês”, disse.
A noite foi abrilhantada pela apresentação do Coco Miudinho da Xambá, formado por crianças e jovens da comunidade tradicional de matriz africana do Quilombo da Xambá, em Olinda. O grupo musical atua sob a perspectiva de continuidade dos saberes ancestrais da tradição da Nação, com inspiração no Grupo Bongar.
“O Miudinho surgiu em 2010, da brincadeira de criança, do que é vivenciado na comunidade. Minha mãe, Dona Maria da Glória, que deu o nome e eles trilharam o que viam ser feito nas sambadas da comunidade e seguindo os passos do Grupo Bongar, que é referência. A partir daí, começaram a andar o Estado todo, em principais festivais como Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), e apresentações em Petrolina, Arcoverde, Salgueiro e outras cidades, sempre desenvolvendo a cultura do coco tocado na nossa casa, reafirmando o que é ser Xambá, no jeito de dançar, de vestir”, comentou Gleidson da Xambá, secretário da Casa Xambá e presidente do Instituto Tia Luiza.
Após a apresentação musical, duas oficinas dividiram com os estudantes o conhecimento sobre a confecção de vestimentas de orixás e plantas e chás tradicionais da Nação Xambá, apresentadas por Cacau da Xambá, Janaína Silva e Messias da Silva.
Uma noite no Museu
O projeto “Uma noite no museu” é uma referência, como explicou o educador do Muhne Alisson Henrique. “Nas quartas à noite, o Museu abre há anos em uma ação permanente que recebe, prioritariamente, grupos de educação de jovens e adultos. Hoje, chegando o final de novembro, a visita englobou também as atividades relacionadas à Semana da Consciência Negra. É uma ponte que dá acesso a esses espaços e saberes culturais locais como a nação de Xambá. Esse projeto tem uma importância tremenda, abrir o museu à noite ainda é algo excepcional, que começa agora no país, e já somos pioneiros”, comentou.
Por fim, o grupo pôde visitar, muitos pela primeira vez, o acervo exposto no Museu. O momento foi emocionante, marcado pela memória de antepassados que vieram do interior do Estado de Pernambuco, com forte relação ao cultivo da cana de açúcar em engenhos.
Lindomar de Oliveira do Nascimento esteve na Casa pela primeira vez e ficou encantada com tudo que viu e aprendeu nesta noite. “Foi uma maravilha. É meu primeiro dia no museu, já quero voltar. Aprendi coisas que nem conhecia e hoje tive essa noção do que é Nação Xambá, da cultura, das tradições, coisas sobre roupas, nomes de orixás, cores, algo que nunca havia aprendido. Foi tudo de bom”.
Professora da turma, Andréa Maria dos Santos está na rede municipal há 22 anos, com 18 anos de atuação no EJA. Ela explicou que a visita ao Museu do Homem do Nordeste coroou todo um trabalho realizado com os alunos em novembro sobre consciência negra.
"Temos aqui alunos da comunidade Caranguejo Tabaiares, dos módulos que englobam a primeira etapa do ensino fundamental, até o quinto ano. Temos pessoas mais jovens, outras mais idosas, a modalidade acolhe a todos. E nós fizemos um trabalho intenso em novembro sobre a formação de nosso povo, isso despertou a curiosidade deles sobre o povo que nos formou, de onde viemos. Resgatamos histórias, muitos deles vieram do interior, com pais, avós, de engenhos. Então, estendemos os estudos do Brasil-colônia até hoje, o que culminou nessa bela visita ao Museu", concluiu a educadora.