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Minicurso ofertado pela Fundaj reúne pesquisadores e historiadores e discute acervos fotográficos como fontes de pesquisa
As significações e ressignificações de acervos fotográficos, as coleções públicas e privadas e os arquivos no contexto colonial. Estes foram alguns dos temas tratados ao longo de uma semana no minicurso “Fotografia e a África Colonial: Ética, Arquivo, História (Séculos XIX e XX)”. Promovido de forma gratuita pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (Cehibra), vinculada à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), ele foi ministrado pela historiadora e pesquisadora Filipa Lowndes Vicente, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e contou com a presença de pesquisadores e historiadores interessados na temática.
“Foi muito interessante para mim estar na Fundação Joaquim Nabuco, uma instituição muito holística, que tem um acervo muito rico, um museu, um lugar de pesquisa, a Cinemateca, um centro cultural”, celebrou a professora.
Entre os dias 4 e 11 de dezembro, os cursistas aprenderam, ainda, sobre a fotografia no contexto colonial Português entre 1860 e 1975 e sobre as fotografias pessoais da diáspora africana pós 1975 como uma forma de decolonizar o arquivo fotográfico pré 1975. As aulas aconteceram na sala de aula do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (Cieg), situado no Campus Anísio Teixeira da Fundaj, em Apipucos.
Apenas a aula inaugural foi realizada na Sala Calouste Gulbenkian, no Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte, na abertura do seminário internacional “Repensar arquivos, reescrever histórias: coleções africanas e afro-brasileiras em museus e acervos históricos brasileiros”. Doutorada na Universidade de Londres em 2000, Filipa apresentou estudos de casos, como versos de cartões postais, por exemplo, que mostram como a fotografia pode fazer parte de um projeto colonial e compõe coleções de instituições ao redor do mundo.
Convidado para palestrar na mesa-redonda “Imagens da África em coleções fotográficas”, no primeiro dia do Seminário “Repensar arquivos, reescrever histórias: coleções africanas e afro-brasileiras em museus e acervos históricos brasileiros”, o historiador da Universidade de Luanda, Yuri Agostinho, falou sobre a importância do curso para pensar a fotografia além das ilustrações.
“Saímos daqui com grande aprendizado e a possibilidade de abrir uma grande rede de outros pesquisadores trabalhando nesse campo. O campo visual é um campo que os historiadores precisam aprofundar mais na pesquisa, porque às vezes temos a perspectiva de que a fotografia serve para ilustrar, mas ela pode ser trabalhada para trazer camadas e reflexões que podem trazer outras possibilidades de leituras”, contou.
A pesquisadora questionou, ainda, a dicotomia entre o valor atribuído aos corpos das mulheres negras e brancas nos acervos, como essas hierarquias continuam vigentes e se reproduzir essas imagens é também uma forma de violentar as mulheres. Partindo da história colonial portuguesa, Filipa levantou questionamentos como “O que não está no arquivo público, onde está?” para abordar acervos institucionais e o mapeamento de arquivos fotográficos, a partir de sua experiência.
De acordo com ela, as casas das pessoas estão cheias de materialidades e memórias coloniais, como aqueles que tiveram avós ou bisavós que tiveram lugares no período colonial. Ela estimulou a reflexão sobre como os álbuns de família podem fornecer materiais de pesquisa importantes sobre a Diáspora Africana em Portugal.
Para a historiadora e pesquisadora da Fundaj, Cibele Barbosa, essa provocação foi muito importante para as pessoas que trabalham com acervos. “Espero que cada um de nós, nas pesquisas e nas instituições, possamos refletir. Eu acho que o curso tocou em pontos que, às vezes, em nosso dia a dia, não paramos para pensar. Eu acho que a gente ainda tem uma longa trajetória, enquanto trabalhamos na área de educação e pesquisa, de problematizar mais nossos arquivos os quais estamos imersos”, afirmou.
“A Fundaj é claramente um lugar muito relevante para pensar, não só na história do Recife e de Pernambuco, mas também ir muito mais além. Para mim foi muito interessante também conhecer todo tipo de pessoas que fizeram o curso e estiveram na conferência, foi uma experiência muito rica”, finalizou Filipa.
Sobre Filipa
Filipa Lowndes Vicente doutorou-se na Universidade de Londres, em 2000, com uma tese que deu origem ao livro Viagens e Exposições: D. Pedro V na Europa do Século XIX (2003). É autora de vários livros como Arte Sem História: Mulheres e Cultura Artística, Séculos XVI - XX (2012). Em 2014, organizou o livro O Império da Visão: fotografia no contexto colonial português (1860 - 1960). É coautora do livro Photography in Portuguese Colonial Africa (1860-1975).