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Mesas-redonda e lançamento de e-book finalizam seminário sobre o bicentenário da Independência na Fundaj
O segundo dia do seminário "A propósito da Independência e do Império: visões pernambucanas (Joaquim Nabuco, Oliveira Lima, Gilberto Freyre, Evaldo Cabral de Mello)" foi marcado por mesas-redondas, conferência e lançamento de um ebook. O evento, que chegou ao fim nesta quarta-feira (06), contou com a presença de George Cabral, professor do Departamento de História da UFPE e presidente do Instituto Histórico de Olinda, André Heráclio, diplomata, escritor e historiador, e Eduardo Monteiro, presidente do grupo EQM.
A celebração foi iniciada pela manhã, com a mesa redonda “Gilberto Freyre: a propósito da Independência e a Unidade Nacional do Império”. O debate foi conduzido por Cibele Barbosa, historiadora e pesquisadora da Fundaj, George Cabral, professor do Departamento de História da UFPE e presidente do Instituto Histórico de Olinda, e André Heráclio do Rêgo, diplomata e doutor em história social, com mediação do jornalista Mario Helio.
Cibele Barbosa ressaltou o pioneirismo da abordagem historiográfica de Freyre, a partir de sua formação multidisciplinar, indo até sua escrita e sua consulta a fontes diferenciadas. A partir desse cenário, ela observou as aproximações de Gilberto com Oliveira Lima, além da sua abordagem social da história e sua visão sobre arbitrariedades das divisões em épocas políticas da historiografia do país, entrando também, em suas observações sobre a monarquia e a ideia de unidade nacional que ela trouxe consigo.
“Como assinalou em Ordem e Progresso, a monarquia que se instalou nos trópicos teria oferecido uma ordem ‘bem equilibrada’ e que resistiria às constantes crises que, caso ocorresse em outro país da América chamada Latina, talvez tivesse resultado em desagregação da ordem nacional’. Então é muito importante essa questão de uma ordem que vem com a instalação da família real no Brasil, com a Independência e é a grande discussão, da manutenção da unidade do território nacional e de uma certa ordem que supostamente blindaria o Brasil de uma desagregação’, elaborou Cibele.
Independência “criativa”
Em seguida, George Cabral deu sequência à discussão, ressaltando o caráter “mais criativo do que revolucionário” da independência do país, do papel pioneiro de Pernambuco em processos de descolonização, trazendo também conceitos freyrianos como a autocolonização. Nesse cenário, ele destrinchou como o processo de independência do Brasil não era considerado por Freyre como uma revolução com R maiúsculo.
“Para Freyre, uma longa sequência de revoluções suaves, mais adjetivas do que substantivas, construíram a independência nacional. Elas e as realizações culturais brasileiras, nessa perspectiva, nossa independência se plasmaria melhor na música de Villa-Lobos do no direito constitucional de Rui Barbosa. Na música de Aleijadinho do que na Inconfidência Mineira. Em Joaquim Nabuco de Massangana do que na Revolução Pernambucana de 1817”, afirmou Cabral.
A última fala foi de André Heráclio, que voltou a ressaltar a independência como um processo de criatividade que se afasta da explosão e da violência revolucionária, como experimentaram países libertados por Bolívar e San Martin. Uma experiência que ecoa eventos como as ações dos bandeirantes e a expulsão dos holandeses ou a expulsão de um governador português em Pernambuco, além de evidenciar o conceito de equilíbrio de antagonismos. “A independência do Brasil foi feita no mesmo contexto da concepção patriarcal de que o monarca é o pai cívil de seus vassalos. Não se admira que essa independência se tenha consolidada, no princípio, com base em uma aristocracia quase feudal dos senhores de terra de massapê e, mais tarde, dos fazendeiros da terra roxa. Gilberto insiste mesmo no caráter feudal das grandes propriedades da primeira metade do século 19, louvando-se Joaquim Nabuco e reiterando mesmo uma comparação com a Rússia czarista”, afirmou
A outra independência
Seguindo as celebrações, o escritor Mario Helio e o professor da Universidade Estadual do Ceará, na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, Manoel Carlos Fonseca de Alencar, conduziram o debate da mesa-redonda “Evaldo Cabral de Mello: a outra Independência e o Norte agrário e o Império”, mediada pelo diplomata André Heráclio.
Mario ressaltou o cuidado com a documentação e o trabalho historiográfico de Evaldo ao contar a história de Pernambuco. “O mesmo Pernambuco que está refletido nos versos do irmão [o poeta João Cabral de Melo Neto]”. Ele ainda relembrou os outros processos de independência ao longo dos anos e suas relações com o trabalho do historiador. “Evaldo faz uma linha direta entre a luta pernambucana na era dos holandeses, que era o tema sólido da obra dele, com 1817”, completou.
Já Manoel Carlos Fonseca de Alencar apresentou suas interpretações e análises da obra “A Outra Independência", do historiador homenageado na mesa. Manoel destacou movimentos e revoltas no país e fez uma linha do tempo da participação de Pernambuco na formação do estado brasileiro. “O historiador Evaldo Cabral nos permite essa dupla operação: a de nos propiciar uma perspectiva periférica e nos fazer imaginar não apenas o que foi, bem como o que poderia ter sido. Isso ao nos narrar magistralmente a história da rebeldia pernambucana contra o Império, nos revelando uma outra independência”, explicou.
Participação pernambucana
A celebração ao bicentenário ainda contou com a conferência de encerramento “Pernambuco e a Independência”, do escritor Antônio Campos. Na ocasião, ele ressaltou personalidades pernambucanas que lutaram pelo estado e resistiram, como Joaquim Nabuco, Oliveira Lima, Gilberto Freyre e Evaldo Cabral de Mello. “Como diz Laurentino Gomes, o Brasil chega ao bicentenário da Independência com perguntas desafiadoras. Os sonhos e promessas de 1822 eram grandiosos. Contudo, transcorridos 200 anos, o Brasil continua uma nação marcada profundamente pela desigualdade”, destacou.
Para finalizar o seminário, André Heráclio fez o lançamento do ebook “O primeiro grito da independência”, iniciativa da Editora Massangana, com tradução, estudo introdutório e notas do diplomata. A programação foi aberta ao público e aconteceu de forma híbrida: presencial, na Sala Gilberto Freyre, campus Casa Forte da Fundaj, e remota, no canal do YouTube da instituição. Além de mesas-redondas, o público conferiu o lançamento do livro “Entretantos”, de Joaquim Falcão.
O evento contou com a presença de Gilberto Freyre Neto (Secretário-Executivo de Relações Internacionais da Assessoria Especial), Margarida Cantarelli (Presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano), André Heráclio (diplomata, escritor e historiador) e Eduardo Monteiro, presidente do grupo EQM.