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Mesa sobre a pesca artesanal encerra programação da Jornada Dia da Terra 2024 na Fundaj
A programação da Jornada Dia da Terra 2024 da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) foi encerrada nesta sexta-feira (26), com a mesa de diálogo "Pesca Artesanal – fotografias e objetos que revelam a produção da vida". O encontro, repleto de imagens do passado e do presente retratando a rotina de pescadores em praias de Pernambuco, teve como mediadora a pesquisadora e coordenadora do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundaj, Edneida Cavalcanti. A programação da Jornada do Dia da Terra na Fundaj foi iniciada no dia 22 e contou com seminário, exibição de filmes, lançamento de projetos e mesas de diálogo.
Confira as coberturas:
Fundaj promove mesa de diálogo sobre gestão ambiental durante a Jornada Dia da Terra 2024
Seminário do Dia da Terra 2024 debate ecologia, espiritualidade e política na Fundaj
A presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, destaca a relevância dessa rede colaborativa, bem como a importância da programação da Jornada Dia da Terra 2024.
Ao participar da Jornada, a Fundaj se reuniu com uma rede formada por diversas instituições. Entre elas, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que coordena a iniciativa, a Rede Brasileira de Instituições de Ensino Superior para o Desenvolvimento Sustentável (UniSustentável), a ONG Dia da Terra, o Centro Sabiá e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Juntas, estas instituições realizaram mais de 140 ações pelo Brasil.
A mesa desta sexta-feira contou com as explanações do secretário Nacional de Pesca Artesanal/MPA, Cristiano Ramalho; da pesquisadora da Diretoria de Memória, Cultura e Arte (Dimeca)/Fundaj, Rita de Cássia; da liderança do Território Quilombola do Engenho Siqueira, em Rio Formoso/PE, Moacir Correia de Santana; e do representante do Movimento Caranguejo Uçá, da Ilha de Deus, no Recife, Edson Flay. O último encontro da Jornada Dia da Terra aconteceu na Sala Calouste Gulbenkian, no Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte.
Edneida Cavalcanti explicou que a ideia da realização desta mesa nasceu a partir de uma linha de pesquisa que já vem sendo executada na Fundaj e de um seminário realizado no ano passado, ambos sobre pesca artesanal. "Ficou evidenciado aqui que a imagem não é vista como algo estático, mas sim dentro da perspectiva de quem olha e registra, de quem é observado e das intencionalidades que estão por trás do ato de registrar, e ainda de quem depois acessa. A imagem é um instrumento importante para comunicar, para anunciar, para fazer com que a gente tenha expressões de pessoas e de territórios invisibilizados. E isso traz também, enquanto Fundaj, uma perspectiva bem interessante de articular pesquisa com cultura e de ver horizontes interessantes de parcerias para continuidade de ações como essa."
Rita de Cássia trouxe o acervo da Fundaj sobre a pesca artesanal. A primeira imagem mostrada pela historiadora foi uma imagem de um jangadeiro, em um cartão-postal com descrição em inglês, datado de 1910. O jangadeiro, ressaltou a historiadora, é um personagem típico da cultura pesqueira da Região Nordeste. A partir daí, foram sendo mostrados registros de 1970 a 1979 de paisagens do litoral pernambucano, registros de Suape (que deverá ser fruto de uma pesquisa da historiadora. “Esses registros são importantes para identificar com qual perspectiva eram feitos. Era para saber os costumes? Qual tipo de cultura pesqueira era feita aqui?? Identificar quais povos habitavam aquelas letras? Não eram registros meramente estéticos, eram uma pesquisa”, observou.
Cristiano Ramalho destacou a discussão do tema tanto da visão acadêmica quanto do ponto de vista popular. "A mesa agregou pesquisadores e pesquisadoras e as pessoas das comunidades. E a ideia das imagens é também um instrumento de resistência e de conhecimento das realidades. É a possibilidade de explicar e de dialogar sobre essas realidades que foram registradas, fotografadas e, no caso aqui, se viu como força viva das memórias do passado mas também do presente."
Representantes de comunidades tradicionais pesqueiras, Edson Flay e Moacir Correia de Santana fizeram falas carregadas de emoção. "Nós, da Ilha de Deus, somos discriminados todos os dias por sermos pretos e de comunidade 'invisível'. As elites precisam rever os seus conceitos sobre sustentabilidade e, com isso, parar de nos ver como ilhas isoladas do resto da cidade", desabafou Edson Flay, que tratou sobre as ameaças das comunidades ribeirinhas, como a Ilha de Deus, sofre tanto por parte do poder público quanto do poder econômico. “Como se não bastassem as mudanças climáticas, que alteraram a paisagem do lugar, há as ameaças constantes às populações ribeirinhas”.
Moacir Santana trouxe para a mesa de diálogo a importância do mestre para a condução da pesca marítima. O mestre, observou, tem vários saberes: conhece o ofício, as marés, os ecossistemas, os utensílios usados na pesca e o posicionamento dos pescadores na embarcação. “As tecnologias contribuem para a atividade da pesca. Mas o conhecimento das técnicas primitivas dos indígenas e dos negros ainda são essenciais para que a pesca se desenvolva. Um pescador alimenta um cientista, um médico e um professor. Um milhão de pessoas não alimenta um pescador", completou Moacir Santana, que é pescador e agricultor do Engenho Siqueira, no município de Rio Formoso, Mata Sul de Pernambuco.
Após as apresentações, foi aberto o debate com o público, composto por pesquisadores e universitários. Ao final do debate, Edson Flay recitou o poema de sua autoria "Preta Velha", que retrata a resistência da Ilha de Deus. Já Moacir Correia de Santana, ao ser interpelado por um estudante universitário sobre o que diria para os mais jovens sobre tecnologias, recitou um ditado popular sobre um mestre que explica a um aluno sobre a importância de saber escutar. Em seguida, tocou o búzio, som entoado para avisar a chegada de peixe na comunidade, entre outros.