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Legados e futuros em torno da antiga Casa de Detenção do Recife são temáticas debatidas por pesquisador da Fundaj nesta terça-feira (15)
Antiga Casa de Detenção do Recife, a atual Casa da Cultura, margeia o Rio Capibaribe e abriga a arte e história da capital pernambucana. Para debater sobre o espaço, o Doutor em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Cristiano Borba, participou da mesa "O caso da antiga Casa de Detenção do Recife", que integrou o Seminário Entre Práticas e Perspectivas do Patrimônio Sensível. A iniciativa faz parte da 16ª Semana Estadual do Patrimônio Cultural de Pernambuco, promovida pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para celebrar o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, comemorado no dia 17 de agosto.
O auditório É do Povo, do Museu Cais do Sertão, recebeu arquitetos, profissionais do turismo e o público geral para repensar o patrimônio e pensar em abordagens e perspectivas para ele a partir de fatores como a gestão de bens tombados. Para estimular a discussão em torno da antiga Casa de Detenção do Recife, Cristiano Borba falou sobre a mudança de uso do equipamento, mesmo com a preservação das características do edifício.
Em sua apresentação, intitulada "Da detenção à cultura, um mercado (e tantas coisas mais)", o pesquisador da Fundaj explicou que a antiga Casa de Detenção da capital pernambucana seguia o modelo d do que se entendia por uma "prisão ideal" no século XIX, o máximo em tecnologia prisional da época. Ele ainda fez análises da estrutura do equipamento cultural hoje, as possibilidades e os limites da sua estrutura espacial, para fazer comparações de sua utilidade enquanto prisão e sua viabilidade enquanto mercado de artesanato e memória pernambucana.
"Além de entender e preservar as relações de visibilidade, os meios de controle e vigilância que moldaram esse edifício, é importante considerar que essas mesma características são o que torna difícil a sua conversão em um mercado", pontuou. Apesar disso, Borba apontou a Casa da Cultura como um lugar possível para novos usos compatíveis com essa "vocação".
Participaram da mesa junto ao pesquisadora da Fundaj, Andrés Zarankin, professor doutor do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG, e Flávio Albuquerque Neto, professor doutor em História e Diretor de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFPE. A atividade também contou com a mediação de Pollyana Calado.
Para complementar o debate sobre como dialogar com a estrutura e seu uso, Andrés Zarankin falou sobre arqueologia da repressão e da resistência a partir das ditaduras da América Latina. De acordo com ele, "a arqueologia produz interpretações a partir de evidências materiais e tem a capacidade que a materialidade tem de nos transmitir sensações".
Já Flávio Albuquerque Neto fez uma abordagem histórica a respeito do espaço em Pernambuco. Dentre os assuntos abordados pelo professor estiveram legislação criminal do país na época em que a Casa de Detenção do Recife foi construída, a presença de escravos no equipamento e suas condições de funcionamento e as reformas urbanas do Recife.
Ao final das apresentações, o público interagiu com os participantes da mesa e fez contribuições sobre como a Casa da Cultura pode ser um espaço melhor aproveitado para reconstruir a memória do estado e também incentivar a sua cultura.